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Missão da Palestina na UE "não condena" Hamas enquanto Israel não mudar atitude

 Chefe-adjunto da Missão da Palestina junto da União Europeia, Hassan Albalawi, em entrevista à euronews
Chefe-adjunto da Missão da Palestina junto da União Europeia, Hassan Albalawi, em entrevista à euronews Direitos de autor Euronews 2023
Direitos de autor Euronews 2023
De  Mared Gwyn JonesIsabel Marques da Silva (Trad.)
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Em entrevista à euronews, o chefe-adjunto da Missão da Palestina junto da União Europeia (UE), Hassan Albalawi, recusou-se a condenar o ataque do Hamas contra Israel enquanto Israel não aceitar que exista "um Estado palestiniano independente e soberano".

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Hassan Albalawi afirmou que o atual estado de guerra declarada é o resultado da perseguição sistémica dos palestinianos por Israel desde que estes foram obrigados a sair dos seus territórios ancestrais na guerra israelo-árabe, 1948, também conhecida como Nakba, e que levou à fundação de Israel.

"Sim, quero poder condenar (o ataque) um dia. No dia em que o Estado israelita respeitar as suas fronteiras e no dia em que existir um Estado palestiniano independente e soberano. No dia em que os palestinianos tiverem direitos fundamentais. Se houvesse um ataque nesse dia, eu condená-lo-ia. Mas na situação atual, não posso condenar", disse Albalawi.

"Não tenho qualquer dificuldade em dizer que qualquer vida humana, seja ela palestiniana ou israelita, é uma vida que deve ser salva e que qualquer perda de vida é uma tragédia", esclareceu, mas insistiu que o problema ultrapassa o Hamas, o grupo militante palestiniano que tomou o poder na Faixa de Gaza, em 2007.

A UE, tal como os EUA e outros membros da comunidade internacional, classifica o  Hamas como uma organização terrorista.

Quando Israel ataca, quando Israel ocupa, quando Israel coloniza, quando Israel rodeia Gaza [...] com tudo isto, vocês (Europa) vão dizer que Israel se está a defender?
Hassan Albalawi
Chefe-adjunto da Missão da Palestina junto da UE

Albalawi criticou, também, o apoio inequívoco dos dirigentes europeus ao direito de Israel à "auto-defesa", afirmado pela primeira vez pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, horas depois de o Hamas ter lançado o seu inesperado ataque a Israel, na madrugada de sábado.

"Ao dizer que Israel tem o direito à autodefesa, a Europa justifica os crimes que os israelitas cometem contra os civis palestinianos", afirmou Albalawi.

"Quando Israel ataca, quando Israel ocupa, quando Israel coloniza, quando Israel rodeia Gaza [...] com tudo isto, vocês (Europa) vão dizer que Israel se está a defender?", acrescentou.

Na segunda-feira, um porta-voz da Comissão Europeia reiterou a posição da UE, afirmando que Israel tem "o direito de se defender a si próprio, ao seu território e ao seu povo, em conformidade com o direito internacional".

Desapontado com a resposta da UE

Albalawi disse à Euronews que estava "desapontado" com o anúncio inicial da UE, na segunda-feira, que sugeria a suspensão de toda a ajuda aos palestinianos. A UE é o maior doador de ajuda humanitária aos palestinianos nos seus dois territórios não contíguos: a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, e a Cisjordânia, governada pela Autoridade Palestiniana, do presidente Mahmoud Abbas, eleito pelo partido Fatah.

Mais tarde, o bloco recuou ao confirmar que estava a lançar uma revisão urgente da sua assistência financeira à Palestina para garantir que "nenhum financiamento da UE permite indiretamente a qualquer organização terrorista levar a cabo ataques contra Israel", mas que a ajuda humanitária não estava em causa.

A hesitação do bloco mostra que a decisão é "política", disse Albalawi. "Se a União Europeia tivesse continuado com esta decisão, isso significaria estar direta e abertamente do lado dos israelitas", acrescentou.

"Isto é muito grave porque a União Europeia, se tivesse continuado com esta decisão, teria perdido. Teria perdido o seu papel fundamental de mediador no Médio Oriente, o seu papel na tentativa de restabelecer imediatamente o direito internacional", disse, ainda.

A declaração de Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, convidou os ministros dos Negócios Estrangeiros de Israel e da Palestina a participarem numa reunião extraordinária dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, realizada na tarde de terça-feira.

A UE poderia impor sanções. Podia, pelo menos, proibir, por exemplo, o comércio de produtos israelitas. Poderia proibir os israelitas de colonizarem. Poderia proibir as empresas europeias de negociar com os colonizadores israelitas. A UE afirma claramente que a colonização israelita é proibida pelo direito internacional.
Hassan Albalawi
Chefe-adjunto da Missão da Palestina junto da UE

A invasão da Ucrânia demonstrou o que a Europa é capaz de fazer quando existe vontade política, realçou Albalawi, questionando a razão pela qual o bloco não está disposto a sancionar Israel pelas suas incursões em território palestiniano.

"A UE poderia impor sanções. Podia, pelo menos, proibir, por exemplo, o comércio de produtos israelitas. Poderia proibir os israelitas de colonizarem. Poderia proibir as empresas europeias de negociar com os colonizadores israelitas. A UE afirma claramente que a colonização israelita é proibida pelo direito internacional", recordou.

"Não estou a pedir que a UE dê armas aos palestinianos, como está a fazer com a Ucrânia. Mas poderia, pelo menos, tomar uma posição para que Israel compreenda que a sua política no terreno lhe vai custar muito caro, tanto política como economicamente", acrescentou.

O "menino mimado" da Europa

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Embora reconheça o papel fundamental da Europa na ajuda à Palestina, Albalawi afirma que a Europa tem uma responsabilidade histórica mais profunda para com o povo palestiniano. A resolução das Nações Unidas, de 1947, que pretendia dividir o território disputado em Estados judeus e árabes, não conseguiu ainda criar um Estado palestiniano.

"Se voltarmos à raiz do problema palestiniano, ele é o resultado da história europeia. O problema palestiniano foi criado pela Europa", afirmou.

"Sentimos que Israel continua a ser hoje o filho querido, o filho mimado, da Europa. Quando temos um filho que se comporta mal, repreendemo-lo, retemos dinheiro, mas nunca tomamos medidas decisivas. Nunca aceitamos que outra pessoa possa tocar-lhe porque é o nosso filho", acrescentou.

"A história europeia baseia-se nos direitos humanos, na democracia. Porque não no caso israelita, porque é que Israel é a exceção? A Europa deve assumir a sua própria história, os seus valores e o seu direito internacional, mas também a sua responsabilidade histórica, jurídica e moral na questão palestiniana", referiu.

Albalawi apelou também à Europa para que apoie com o seu peso diplomático os esforços para chegar a uma resolução pacífica do conflito, em conformidade com a solução dos "dois Estados".

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"A solução não pode ser militar, tem de ser política", afirmou. "O exército israelita está a impedir a criação de um Estado palestiniano e não existem sanções. Só uma intervenção externa pode salvar a situação", concluiu.

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