Familiares dos israelitas raptados pelo Hamas, e levados para a Faixa de Gaza, manifestaram-se, quarta-feira, junto do Parlamento Eurpoeu, em Bruxelas, pedindo aos líderes europeus que usem a sua influência política para garantir a libertação imediata reféns.
"As palavras não descrevem este sentimento que não desejo que ninguém sinta", disse Shira Havron à Euronews. "Penso na minha família a ver as suas casas a arder, a esconder-se - aterrorizada - a serem separados uns dos outros, a serem levados violentamente para o desconhecido", acrescentou a manifestante.
A estudante israelita, de 27 anos, estava de férias em Londres (Reino Unido), no fim-de- semana em que o grupo Hamas lançou o ataque contra Israel, massacrando mais de mil pessoas e raptando cerca de 150.
Pensa-se que entre os reféns estão onze membros da sua família, incluindo os seus primos Naveh, de oito anos, e Yahel, de apenas três.
Shira vive em Telavive (capital de Israel), mas passou a sua infância em Be'eri, um kibutz no sul de Israel construído pelo seu avô, um sobrevivente do Holocausto, e onde a sua família ainda reside. Be'eri fica a apenas cinco quilómetros da fronteira com Gaza e foi um dos primeiros locais visados pelo Hamas na manhã de sábado e as autoridades encontraram mais de 100 mortos.
Shira conseguiu trocar mensagens com a família, que se escondeu num abrigo enquanto os militantes do Hamas atacavam o kibutz, mas depois o contacto perdeu-se. O telefone do seu tio foi mais tarde localizado na Faixa de Gaza.
"Passaram-se muitas horas e o silêncio tornou-se cada vez mais forte. E continua a sê-lo desde sábado de manhã", disse Shira, que se juntou aos manifestantes em frente ao Parlamento Europeu.
Jonathan Guttman, 31 anos, licenciado em medicina e residente em Praga (Chéquia), também participou na manifestação. O seu primo Evyatar, de 23 anos, estava a celebrar a festa judaica de Sukkot no festival Supernova, no sul de Israel, quando os militantes do Hamas invadiram o local, matando cerca de 260 pessoas.
A família acredita que Evyatar se encontra entre os reféns, depois de terem surgido vídeos que o mostram detido por militantes do Hamas, algemado com braçadeiras, e a ser levado para a Faixa de Gaza. As Forças de Defesa de Israel também disseram que Evyatar foi raptado.
Tanto Shira como Jonathan apelaram aos líderes da UE para que utilizem a sua influência política para garantir a libertação em segurança dos seus familiares e amigos.
"A minha mensagem é que façam tudo o que estiver ao vosso alcance para libertar estas pessoas. Sabem que é a coisa certa a fazer, uma coisa humana a fazer. Estes são os valores da União Europeia: igualdade, direitos humanos", disse Jonathan.
"Por favor, ajudem-nos a libertá-los", pediu Shira, "por favor, pressionem as pessoas certas, os líderes mundiais, qualquer pessoa que possa ajudar o nosso governo a libertá-los".
Uma "responsabilidade" da UE
Dan Sobovitz, um dos organizadores da manifestação e membro do Conselho de Administração do Centro Comunitário Judaico Secular (CCLJ), com sede em Bruxelas, disse à Euronews que os familiares tiveram uma reunião produtiva com os líderes da UE, incluindo o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, na quarta-feira.
"Esta não é apenas uma responsabilidade do governo israelita, é também uma responsabilidade dos governos da UE, porque há cidadãos da UE entre os reféns, porque se trata de uma crise humanitária e porque qualquer pessoa civilizada deve ficar chocada com a ideia de um bebé ser mantido refém por terroristas", disse Sobovitz.
"Eles (os reféns) não deveriam ser usados num jogo político. Não devem ser uma forma de justificar o que quer que Israel faça ou o Hamas faça. Eles precisam de ser libertados", acrescentou.
Cinco dias após o ataque do Hamas, o destino dos reféns permanece incerto e a sua localização e contacto na Faixa de Gaza está a revelar-se difícil. Os dirigentes da UE têm apelado repetidamente ao seu regresso em segurança.
O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich (eleito pela de extrema-direita), defendeu que o exército israelita deve "atacar brutalmente o Hamas e não ter em consideração a questão dos prisioneiros", o que levou à condenação de muitos israelitas.
Na quarta-feira, o embaixador de Israel junto da UE disse à Euronews que o Hamas estava a utilizar reféns e civis palestinianos inocentes como "escudo humano" em Gaza.
os manifestantes também mencionaram a solidariedade com o povo palestiniano, que sofreu perdas devastadoras na contraofensiva israelita desde sábado, com pelo menos mil mortos.