Agravamento das relações UE-Níger pode ter sério impacto migratório

Até ao golpe, o Níger era um parceiro fundamental para a UE na luta contra a migração irregular
Até ao golpe, o Níger era um parceiro fundamental para a UE na luta contra a migração irregular Direitos de autor Sam Mednick/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.
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De  Vincenzo Genovese
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O Níger é um país que está no centro das preocupações da União Europeia (UE) ao nível da segurança e da migração em África. Desde o golpe de Estado pelos militares, em julho, a situação no Sahel ficou ainda mais tensa, reconhece a Representante Especial da UE para essa região.

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"Fomos obrigados a suspender todas as atividades devido ao golpe de Estado. Temos apoiado a ação da CEDEAO, que impôs sanções à junta no poder no momento, porque queríamos enviar um sinal muito importante de que as mudanças inconstitucionais nos países do Sahel são absolutamente inaceitáveis", disse Emanuela C. Del Re, Representante Especial da UE para o Sahel, em entrevista à euronews.

O presidente Mohamed Bazoum foi deposto pela sua guarda presidencial e o comandante da mesma, general Abdourahamane Tchiani, proclamou-se líder da junta militar, naquele que foi o quinto golpe militar desde que o país conquistou a independência, em 1960 (era uma colónia da França).

"E é claro que isto levou a UE a tomar decisões relativamente à sua parceria, ou seja, a suspender todas as atividades de cooperação para o desenvolvimento, de cooperação em matéria de segurança, embora tenhamos, obviamente, preservado a ajuda humanitária, porque para a UE é essencial", acrescentou.

Até ao golpe, o Níger era um parceiro fundamental da UE na luta contra a migração irregular, mas esta cooperação está em risco. A junta militar revogou uma lei anti-contrabando de pessoas, de 2015, que estava a reduzir os fluxos migratórios irregulares, através da cidade de Agadez em direção ao deserto do Sara.

"O que a junta está a fazer é enviar a mensagem: "Vão perceber, em Itália, o que vai acontecer quando as pessoas chegarem". É de facto uma resposta ao fim da ajuda da UE, mas não podemos manter uma ajuda económica a uma junta militar", referiu, à euronews, Javier Nart, eurodeputado liberal espanhol. 

População exigia retoma de "um modo de vida"

Mas a decisão da junta foi muito bem acolhida pela população da região de Agadez já que muitos nigerianos ganhavam a vida a transportar migrantes e nem todos operavam de forma ilegal.

Esse era também o argumento de das organizações da sociedade civil do Níger, que consideravam que a lei anti-contrabando estava a estrangular a economia local.

"A nível local, esta é considerada uma forma ancestral de viver, de fazer comércio e intercâmbios . A deslocação da população, na região do Sahel ou para o Norte, é considerada parte de um modo de vida", explicou Niagalé Bagayoko, presidente da Rede Africana do Setor da Segurança, à euronews.

Apesar de críticas de que acordos como o que existia com o Níger são uma forma da UE externalizar a politica migratoria, a Comissão Europeia considera-os essenciais para travar os traficants de pessoas.

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