Nove egípcios foram a julgamento na Grécia esta terça-feira, pelo alegado envolvimento num naufrágio, ao largo da costa sul da Grécia, que matou centenas de pessoas no ano passado. Procurador grego defendeu que país não tinha jurisdição para os julgar.
Um juiz grego deixou cair esta terça-feira as acusações contra nove homens egípcios acusados de provocar um naufrágio ao largo da Grécia que matou mais de 500 pessoas no ano passado, depois de a procuradora ter defendido que o país não tem jurisdição para avançar com o caso.
Logo após ser aberto o julgamento, na cidade grega de Kalamata, a procuradora Ekaterini Tsironi recomendou que as acusações fossem retiradas, alegando que a jurisdição grega não pode ser estabelecida uma vez que a embarcação sobrelotada estava fora de águas territoriais gregas.
O arrastão de pesca “Adriana”, que viajava da Líbia para Itália, afundou-se e provocou a morte a mais de 500 migrantes. Após o naufrágio, foram resgatadas com vida 104 pessoas - na sua maioria migrantes da Síria, Paquistão e Egipto - e recuperados 82 corpos.
Vários grupos internacionais de defesa dos direitos humanos argumentaram que o direito dos nove egípcios a um julgamento justo estava comprometido, uma vez que iriam ser julgados antes de estar concluída uma investigação às ações da guarda-costeira e suas tentativas de salvamento.
O advogado de defesa dos arguidos já tinha pedido ao tribunal que se declarasse incompetente para julgar o caso, argumentando precisamente que o naufrágio ocorrera fora de águas territoriais gregas.
"O tribunal não deve tornar-se um castigador internacional", defendeu Spyros Pantazis.
Caso baseado em testemunhos dos sobreviventes
Todos os arguidos foram interrogados com a ajuda de um intérprete e vários declararam-se inocentes. Alegaram que tinham intenção de viajar para Itália e não para a Grécia. Se fossem condenados, os nove egípcios, que estão na casa dos 20 anos, arriscavam uma pena de prisão perpétua.
Foram identificados por outros sobreviventes e todas as acusações foram baseadas em testemunhos recolhidos pelas autoridades locais.
No ano passado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, descreveu o naufrágio ao largo da costa sul da Grécia como “horrível”.
O acidente renovou a pressão sobre os governos europeus para protegerem as vidas dos migrantes e dos requerentes de asilo que tentam chegar ao continente, uma vez que o número de pessoas que atravessam ilegalmente o Mediterrâneo continua a aumentar a cada ano.