Um parlamento fraturado lança o país num território desconhecido que envolverá negociações tensas para formar um novo governo e nomear um primeiro-ministro, que se concentra na política interna e partilha o poder com o Presidente.
A França enfrenta um parlamento sem maioria e uma potencial paralisia política depois de nenhuma das alianças ter conseguido a maioria absoluta de 289 lugares necessária para formar um governo nas eleições legislativas de domingo.
Até ao momento, os resultados indicam que a coligação de esquerda Nova Frente Popular obteve pouco mais de 180 lugares, a coligação centrista Juntos pela República, de Macron, 160, e o partido de extrema-direita Rassemblement National, mais de 140.
Não surgiu nenhuma figura clara como possível futuro primeiro-ministro e, embora o presidente Emmanuel Macron possa avançar com um nome, precisaria ainda do apoio de uma maioria parlamentar.
Quais são, então, os resultados possíveis para a França?
Resultado 1: a coligação de esquerda forma um governo minoritário
A aliança de esquerda Nova Frente Popular ficou em primeiro lugar nos resultados eleitorais de domingo, o que significa que deverá ser ela a nomear o primeiro-ministro.
Mas a esquerda tem estado dividida, especialmente depois do ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro.
Jean-Luc Mélenchon e outros líderes do partido de extrema-esquerda La France Insoumise foram duramente criticados por outros esquerdistas mais moderados pela sua posição em relação ao conflito.
Os políticos de extrema-esquerda, que acusaram Israel de genocídio contra os palestinianos, foram alvo de acusações de antissemitismo, que negam veementemente.
Erwan Lecoeur, sociólogo e especialista em extrema-direita, disse à Euronews: "Mélenchon é uma figura influente e divisiva que repele muitos eleitores, por isso vai ser um problema sério se ele for nomeado. O problema da esquerda e do partido dos Verdes é que não têm um primeiro-ministro óbvio para nomear. Muitas pessoas da esquerda dizem que pode ser Mélenchon, outras dizem que não pode ser ele".
Além disso, um governo minoritário com menos de 289 lugares significaria também que a coligação de esquerda teria de viver sob a ameaça constante de um voto de desconfiança de outros partidos.
Resultado 2: Emmanuel Macron cria uma coligação arco-íris para obter a maioria absoluta
Emmanuel Macron poderia tentar construir uma coligação frágil com moderados dos partidos de esquerda e de direita. Mas esta opção parece menos viável depois de vários líderes partidários se terem manifestado frontalmente contra a formação de determinadas alianças.
Macron disse que não trabalharia com o partido de extrema-esquerda La France Insoumise, mas poderia estender a mão a outros partidos da Nova Frente Popular: os socialistas e os verdes. No entanto, estes podem recusar-se a aceitá-la.
Benjamin Morel, especialista em direito constitucional francês, diz que também pode não ser do interesse de muitos partidos formar uma coligação.
"Estamos numa situação de relativa paralisia política, pelo que poderia ser possível construir uma frágil coligação arco-íris, mas continua a existir um delta significativo do ponto de vista ideológico entre o Partido Verde e o partido conservador Les Républicains (LR). Vamos ver muitos pequenos grupos políticos no Parlamento e, com a perspetiva de novas eleições dentro de um ano, isso pode levar a que muitos partidos não façam verdadeiros favores a outros", disse Morel à Euronews.
Macron nomeia um governo tecnocrático composto por figuras não políticas
Outra opção para o presidente francês Emmanuel Macron seria nomear um governo tecnocrático com ministros sem filiação política específica, que tratariam dos assuntos correntes.
O modelo seguiria o de Itália, que teve quatro governos tecnocráticos desde o início da década de 1990.
Um governo tecnocrático geriria os assuntos quotidianos, manteria as contas públicas e representaria o país a nível internacional.
Mas alguns especialistas acreditam que esta não é uma opção viável.
"Um governo tecnocrático faz sempre escolhas políticas. Basta ver o orçamento, por exemplo - é uma escolha política. Em setembro, haverá uma lei sobre as finanças da República. Haverá algumas opções para dar mais à educação, à justiça ou aos assuntos externos. Portanto, não existe um governo tecnocrático em si. Temos de dissipar este tipo de ilusão", disse Nicolas Tenzer, membro sénior do Centro de Análise de Políticas Europeias, à Euronews.
A primeira sessão da Assembleia Nacional realiza-se na quinta-feira, 18 de julho.