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Coordenador de Operações de Paz da ONU alerta sobre escalada no Médio Oriente

Jean-Pierre Lacroix, subsecretário-geral da ONU para as Operações de Manutenção da Paz
Jean-Pierre Lacroix, subsecretário-geral da ONU para as Operações de Manutenção da Paz Direitos de autor Martial Trezzini/ KEYSTONE / MARTIAL TREZZINI
Direitos de autor Martial Trezzini/ KEYSTONE / MARTIAL TREZZINI
De  Isabel Marques da Silva
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O fogo cruzado entre Israel e o Líbano cria um sério risco de uma guerra total no Médio Oriente, afirma o Subsecretário-Geral da ONU para as Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix, em entrevista à Euronews, em Bruxelas.

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Jean-Pierre Lacroix está particularmente preocupado com os ataques a Israel a partir do sul do Líbano - na chamada Linha Azul, demarcada pela ONU - por parte da milícia Hezzbollah, apoiada pelo Irão, e com as ações do governo de Telavive no seu vizinho do norte, incluindo em Beirute, a capital.

O diplomata visitou, recentemente, a região e falou à Euronews sobre a necessidade de desescalada política, antes de participar no Conselho de Ministros da Defesa da UE, sexta-feira, em Bruxelas.

"Presto especial atenção à situação que temos a nossa missão UNIFIL (Missão de paz da ONU no Líbano) e o risco de escalada continua a ser muito, muito grave. Estamos a falar de escalada regional porque esta situação em Gaza, e várias outras situações no Médio Oriente, estão todas muito interligadas", explicou o alto diplomata francês, que semestralmente se reúne com os ministros da União Europeia com esta pasta.

Desde que Israel iniciou a operação militar na Faixa de Gaza, após um ataque terrorista do grupo armado palestiniano Hamas, a 7 de outubro passado, vários incidentes mostram a propagação do conflito aos países vizinhos.

O mais importante é o Irão, incluindo pelo apoio que dá a milícias, não só no Líbano, como também no Iémen, no Iraque e na Síria. Estas milícias têm aumentado ataques que justificam como retaliação pelas operações israelitas na Faixa de Gaza e noutros territórios palestinianos.

“Temos assistido a episódios de retaliação que contribuem para manter um elevado risco de uma escalada regional para além do que já estamos a assistir em Gaza. Assim, obviamente, os esforços em curso ao nível das conversações para a paz em Gaza são extremamente importantes", referiu Jean-Pierre Lacroix.

Os riscos de retaliação do Irão

No seguimento da atual guerra em Gaza, um dos momentos mais tensos entre Israel e Irão aconteceu na primavera, quando ataques aéreos israelitas contra Damasco, capital da Síria, a 1 de abril, mataram oficiais iranianos que se reuniam num edifício diplomático.

Duas semanas depois, o Irão lançou o seu primeiro ataque direto contra o território de Israel, com uma barragem de 300 mísseis e drones, repelidos quase na totalidade pelos sistemas de defesa aérea (Telavive contou com ajuda dos meios militares dos EUA na região).

O Irão é, obviamente, um ator importante na região, que está envolvido de diferentes formas nas discussões que estão a acontecer para tentar alcançar a paz.
Jean-Pierre Lacroix
Subsecretário-Geral da ONU para as Operações de Paz

Houve outros casos que envolveram vítimas entre civis, mas a situação agudizou-se quando Ismail Haniyeh, um alto funcionário político do Hamas, foi morto em Teerão (capital iraniana), a 31 de julho, para onde se deslocou a fim de participar na tomada de posse do novo presidente do Irão, Masoud Pezeshkian.

O governo de Israel não confirmou, mas também não negou a responsabilidade na explosão que matou o dirigente no seu quarto de hotel, operação que terá sido levada a cabo pelos serviços secretos israelitas.

No dia seguinte, os EUA reforçaram o destacamento militar no Médio Oriente, já que o Irão prometeu retaliar contra Israel. Quase um mês depois, a ameaça ainda não se materializou, mas preocupa a ONU.

"O Irão é, obviamente, um ator importante na região, que está envolvido de diferentes formas nas discussões que estão a acontecer para tentar alcançar a paz. Depois do que aconteceu em Teerão, há especulação em termos de uma possível reação do Irão, mas não vou contrubuir para isso", disse o Subsecretário-Geral da ONU.

A palestiniana Manar al-Hessi, que foi deslocada pelo bombardeamento israelita na Faixa de Gaza, sentada ao lado dos seus filhos
A palestiniana Manar al-Hessi, que foi deslocada pelo bombardeamento israelita na Faixa de Gaza, sentada ao lado dos seus filhosAbdel Kareem Hana/Copyright 2023, The AP. All rights reserved

Que futuro em Gaza após o cessar-fogo?

Vários membros do Conselho de Segurança da ONU falam sobre a possibilidade de criar uma futura missão de manutenção da paz em Gaza. Mas Lacroix diz que "é prematuro", pois exigiria o acordo das partes envolvidas, direta e indiretamente, no conflito, e o voto unânime dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido).

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Mas há outra condição importante para o diplomata: "Qualquer presença de terceiros - e certamente que isto se aplica às missões de manutenção da paz da ONU - também tem de ser aceite pelas comunidades locais, pelas partes locais. Elas têm de considerar que a missão faria uma diferença positiva nas suas vidas".

Tal como solicitado pela UE e por outras potências, Israel acaba de concordar com três pausas nos combates em Gaza, a partir da próxima semana, para permitir uma campanha de vacinação contra a poliomielite a cerca de 640 mil crianças.

No que se respeita a missões de paz, os Estados-membros devem dar mais apoio político, para além do envio de soldados. As missões de paz não têm objetivos militares, mas políticos.
Jean-Pierre Lacroix
Subsecretário-Geral da ONU para as Operações de Paz

Mas as negociações para um acordo de cessar-fogo de longa duração, proposto pelos EUA e que está a ser negociado com a ajuda do Qatar e do Egipto, continuam num impasse .

Lacroix considera que as pausas para a vacinação representam um "importante esforço humanitário, de muito curto prazo", mas repete que só a cessão total das hostilidades permitirá fazer baixar o risco de alastramento do conflito na região, pelo que a União Europeia (UE) deve manter a pressão diplomática.

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"A UE e vários dos seus Estados-membros contribuem politicamente e com tropas para as operações de manutenção da paz no Médio Oriente. Vou agradecer aos ministros por isso, mas também realçar que estão a desempenhar um papel importante em termos de apoio aos esforços de desanuviamento, que são extremamente importantes", afirmou.

Que futuro para o multilateralismo?

As Nações Unidas vão organizar uma Cimeira do Futuro, a 22-23 de setembro, na sua sede em Nova Iorque (EUA), com o objetivo de criar consenso entre os 193 países para reforçar o multilateralismo e as respostas coletivas para os desafios de paz e segurança, desarmamento, alterações climáticas e desenvolvimento sustentável.

"No que se respeita a missões de paz, os Estados-membros devem dar mais apoio político, para além do envio de soldados. As missões de paz não têm objetivos militares, mas políticos e devem ser apoiadas por outras ferramentas tais como combate à desinformação, às atividades criminais transfrenteiriças e às alterações climáticas, que estão a fomentar cada vez mais conflitos", explicou Jean-Pierre Lacroix.

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