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Porque é que o Presidente francês Emmanuel Macron escolheu o negociador do Brexit Michel Barnier como primeiro-ministro?

 O Presidente Emmanuel Macron nomeou o antigo negociador da UE para o Brexit como novo primeiro-ministro de França, na quinta-feira, após mais de 50 dias de governo provisório.
O Presidente Emmanuel Macron nomeou o antigo negociador da UE para o Brexit como novo primeiro-ministro de França, na quinta-feira, após mais de 50 dias de governo provisório. Direitos de autor Michel Euler/Copyright 2019 The AP. All rights reserved.
Direitos de autor Michel Euler/Copyright 2019 The AP. All rights reserved.
De  Sophia Khatsenkova
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Artigo publicado originalmente em inglês

Na quinta-feira, o Presidente francês Emmanuel Macron nomeou Michel Barnier como novo Primeiro-Ministro do país. Mas será o "Monsieur Brexit" capaz de resolver o impasse político em França?

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Após sete semanas de espera, Michel Barnier, o negociador da União Europeia para o Brexit e um veterano do tradicional partido de direita Les Republicains (LR), foi nomeado novo primeiro-ministro de França.

Barnier enfrenta agora a complicada tarefa de formar um governo e sobreviver a um voto de confiança no Parlamento, atualmente dividido em três blocos desde que Macron convocou eleições legislativas antecipadas em julho.

Apesar de terem circulado outros nomes de potenciais candidatos nos últimos dias, ao escolher a figura conservadora, Macron quis garantir que o partido de extrema-direita Rassemblement National (RN) não iria votar imediatamente contra um governo liderado por Barnier.

O RN tem 126 deputados (sem contar com os 16 deputados da fação rebelde de direita de Eric Ciotti, que se aliou recentemente a Le Pen), o que faz dele a terceira força política no Parlamento.

O campo presidencial tem 166 deputados e a coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) tem 193. A maioria absoluta é de 289 lugares.

Uma vez que a NFP já afirmou que votaria contra qualquer primeiro-ministro que não pertencesse às suas fileiras, Macron teve de encontrar uma pessoa que pudesse apaziguar a extrema-direita.

"A escolha de Barnier é o resultado de um cálculo político que tem em conta a escolha do RN - Barnier é um candidato de compromisso", explica Philippe Moreau-Chevrolet, professor de Comunicação Política na Universidade Sciences-Po.

"É alguém que convém à extrema-direita e que pode ser capaz de chegar a compromissos com a esquerda, porque é um negociador experiente", disse Moreau-Chevrolet numa entrevista à Euronews.

O novo primeiro-ministro francês Michel Barnier, à direita, e o primeiro-ministro cessante Gabriel Attal, à esquerda, discursam durante a cerimónia de transmissão de poderes.
O novo primeiro-ministro francês Michel Barnier, à direita, e o primeiro-ministro cessante Gabriel Attal, à esquerda, discursam durante a cerimónia de transmissão de poderes.Stephane de Sakutin/AP

Quando o nome de Barnier foi anunciado, a líder do RN, Marine Le Pen, disse que o seu partido iria esperar para analisar primeiro o seu programa.

"Michel Barnier parece satisfazer, pelo menos, o primeiro critério que pedimos, ou seja, alguém que respeita as diferentes forças políticas e é capaz de abordar a RN", afirmou numa entrevista publicada no X, antigo Twitter.

Mas isto faz com que alguns especialistas e deputados do campo presidencial se perguntem porque é que o partido de Macron insistiu em bloquear a ascensão da extrema-direita, unindo-se a outros partidos (a chamada frente republicana) durante as eleições legislativas... para acabar por abrir a porta ao mesmo partido que vilipendiou durante meses.

"Durante semanas, apelaram à frente republicana e depois acabaram por fazer compromissos com o RNl. É um pouco a negação da democracia", ironizou Virginie Martin, politóloga e professora na KEDGE Business School.

Um primeiro-ministro que não quer fazer ondas

Para além da possibilidade de sobreviver a um voto de confiança no Parlamento, o perfil de Barnier não é considerado uma ameaça no campo presidencial.

É improvável que Barnier revogue as principais reformas de Macron, como o controverso plano de pensões ou a lei de asilo e imigração, como a coligação de esquerda afirmou que faria se fosse nomeado.

"Barnier permite a continuidade das políticas de direita de Macron. Obviamente, também dá a Macron o poder de impor as suas escolhas para os futuros ministros", disse Moreau-Chevrolet.

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"A escolha dá muito poder ao campo presidencial e ao partido conservador de direita LR. São eles os principais vencedores deste caso", afirmou Virginie Martin.

Barnier, de 73 anos, é o primeiro-ministro mais velho da história política moderna de França. A sua idade significa que não terá rival no campo de Macron, que se está a preparar para as eleições presidenciais de 2027.

Um perfil tranquilizador para Bruxelas

Duas vezes comissário europeu e arquiteto dos acordos do Brexit, Barnier conhece a máquina de Bruxelas como ninguém.

"O seu forte sentido de compromisso e a sua experiência, especialmente no domínio financeiro, fazem dele um primeiro-ministro tranquilizador aos olhos das instituições da UE e dos Estados-Membros", afirma Thierry Chopin, conselheiro especial do Instituto Jacques Delors e professor convidado do Colégio da Europa.

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Se o governo de Barnier sobreviver ao voto de confiança, terá de por mãos à obra.

Em primeiro lugar, a França deve apresentar as suas propostas de redução da despesa pública à UE até 20 de setembro, embora esse prazo possa ser prorrogado até outubro.

Para cumprir as regras da UE, a França teria de efetuar cortes de, pelo menos, 30 mil milhões de euros em 2025.

O projeto de orçamento nacional para 2025 deverá ser apresentado ao Parlamento no dia 1 de outubro, numa altura em que as finanças públicas do país estão em dificuldades.

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"Barnier pertence à direita conservadora, que insiste na necessidade de reduzir as despesas públicas e de reequilibrar o orçamento do país. O seu perfil poderá tranquilizar os parceiros alemães e holandeses, que tendem a acompanhar de perto as questões orçamentais no seio do bloco europeu", afirmou Chopin.

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