A delicada situação política do presidente francês, Emmanuel Macron, poderá limitar a sua influência na eleição de novos altos funcionários para as instituições da União Europeia (UE).
A decisão do presidente francês de dissolver a Assembleia Nacional foi uma espécie de terramoto político que fez tremer o círculo institucional da UE, em Bruxelas. A decisão do líder de um dos mais influentes Estados-membros criou incerteza no processo institucional da União.
De acordo com os resultados provisórios das eleições europeias, realizadas no passado dia 9 de junho, o partido de Emmanuel Macron, Renascimento, somou 15,2% dos votos face aos 31,5% obtidos pelo partido Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen.
Macron marcou eleições para 30 de junho (segunda volta a 7 de julho) e, no caso de mudar a maioria política no parlamento e no governo, o país poderá entrar na chamada "coabitação".
Mas o presidente tem, ao mesmo tempo, papel crucial na escolha de líderes para a Comissão e Conselho europeus.
"Recordemos o discurso que fez na Universidade Sorbonne, em abril, quando se mostrou muito ambicioso. Ele apelou a ações ambiciosas para a União Europeia”, diz Eric Maurice, analista do Centro de Política Europeia.
Se a situação mudar, sua capacidade de influência também poderá mudar: "Talvez esteja menos em posição de impor esta agenda aos seus parceiros europeus, menos em posição de apontar a direção a seguir pela União Europeia e a sua influência na nomeação da presidência da Comissão e da presidência do Conselho Europeu", afirmou Maurice.
Adeus ao líder Macron?
Emmanuel Macron foi quem sugeriu que Ursula von der Leyen liderasse o executivo europeu, após as eleições de 2019.
O comissário francês THiery Breton ficou com a pasta importante do Mercado Interno e, mais tarde, seria a francesa Christine Lagarde a ser escolhida para presider ao Banco Central Europeu.
Mas se o próximo parlamento e governo franceses forem de outra cor política, o presidente Macron perderá influência em muitas políticas a nível europeu, diz Sophia Russack, analista do CEPS.
"Poderia tornar as coisas mais difíceis para o nível europeu se, digamos, Macron tiver como primeiro-ministro Jordan Bardella (do Reagrupamento Nacional). Tal poderia prejudicar o seu papel a nível europeu porque estaria condicionado a nível interno", explicou a analista.
A cimeira infomal da UE, a 17 de junho, dá o pontapé de saída para negociações sobre os futuros cargos de topo nas instituiçoes europeias. A Alemanha, a França, a Itália e a Espanha são as maiores economias e tendem a ter mais peso nas decisões, mas o contexto poderá ter mudado.
“O dois líderes supostamente mais importantes - Olaf Scholz (chanceler da Alemanha) e Emmanuel Macron - saíram destas eleições enfraquecidos. Portanto, isto poderia dar um pouco mais de espaço aos líderes de outros grandes países, como Polónia, Itália e Espanha", afirmou Sophia Russack.
Resta saber qual será o papel de Donald Tusk (Polónia), Giorgia Meloni (Itállia) e Pedro Sánchez (Espanha).