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USAID gastou milhões para fazer de Zelenskyy a "Pessoa do Ano" da revista Time?

Presidente ucraniano participa numa reunião com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, no n.º 10 de Downing Street, em Londres, Reino Unido, sábado, 1 de março de 2025.
Presidente ucraniano participa numa reunião com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, no n.º 10 de Downing Street, em Londres, Reino Unido, sábado, 1 de março de 2025. Direitos de autor  Peter Nicholls/2025 Getty Images
Direitos de autor Peter Nicholls/2025 Getty Images
De James Thomas com AP
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A USAID tornou-se um alvo significativo de alegações falsas desde que Trump regressou à Casa Branca, e o escrutínio ao apoio dos EUA à Ucrânia intensificou-se.

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Um vídeo falso está a ser amplamente partilhado nas redes sociais, alegando que os EUA pagaram 4 milhões de dólares (3,8 milhões de euros) à revista Time para nomear o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, como "Pessoa do Ano" em 2022.

O vídeo é frequentemente publicado com legendas que afirmam que o anterior governo dos EUA, presidido por Joe Biden, utilizou o dinheiro dos contribuintes para "fazer uma lavagem cerebral" aos cidadãos e "subornar os meios de comunicação social".

Outros dizem que isto significa que não se pode confiar nos meios de comunicação ocidentais, porque supostamente se pode comprar a capa da Time "pelo preço certo".

O próprio vídeo diz que, desde que começou a operar, o novo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) do presidente Donald Trump, dirigido por Elon Musk, descobriu "enormes quantidades de dinheiro desperdiçadas pelo governo".

Em alguns casos, as informações falsas já foram assinaladas com notas da comunidade
Em alguns casos, as informações falsas já foram assinaladas com notas da comunidade Euronews

Para além das afirmações sobre Zelenskyy, o vídeo menciona que a USAID - a agência de ajuda internacional dos EUA - deu mais de 8 milhões de dólares ao Politico, financiou milhares de jornalistas e desviou dinheiro para o Partido Democrata.

O vídeo utiliza o logótipo do New York Post para sugerir que as afirmações provêm desse jornal, mas uma pesquisa no site deste meio de comunicação social norte-americano permite concluir que essa notícia não existe.

O EuroVerify contactou o New York Post, mas não obteve resposta até à data de publicação deste artigo de verificação de factos.

Podemos consultar ainda o site USAspending.gov, que não contém quaisquer pormenores sobre pagamentos à revista Time ou à Salesforce - empresa fundada pelo proprietário da Time, Marc Benioff.

A Time designou Zelenskyy e o Espírito da Ucrânia como a "Pessoa do Ano" em 2022, ano em que a Rússia lançou a sua invasão em larga escala sobre a Ucrânia. Na altura, a revista explicou as razões que motivaram a escolha.

Zelenskyy e o Espírito da Ucrânia foram nomeados Personalidade do Ano da Time em 2022
Zelenskyy e o Espírito da Ucrânia foram nomeados Personalidade do Ano da Time em 2022 Time Magazine

USAID: um terreno fértil para a desinformação

A USAID tornou-se um alvo significativo de alegações falsas desde que Trump regressou à Casa Branca, e o escrutínio ao apoio dos EUA à Ucrânia intensificou-se.

As alegações sobre os 8 milhões de dólares alegadamente fornecidos ao Politico, por exemplo, estão incorretas, porque os registos mostram que a USAID apenas pagou 44.000 dólares em taxas de subscrição em 2023 e 2024, com pagamentos adicionais provenientes de outras entidades governamentais.

O Politico também referiu anteriormente, por via de uma declaração do seu CEO Goli Sheikholeslami e do editor-chefe John Harris, endereçada aos leitores, que não recebe qualquer subsídio governamental.

Outros meios de comunicação social também foram alvo de desinformação relacionada com a USAID: a BBC, por exemplo, teria recebido aproximadamente 3,2 milhões de dólares durante o ano financeiro de 2023-2024, segundo argumentado.

Mas esse dinheiro não se destinava à sua operação noticiosa - mas sim à BBC Media Action, uma instituição de caridade internacional que é "parte da família BBC", mas editorial e financeiramente separada da BBC News, explicou a instituição, em comunicado. Nesse ano, representou cerca de 8% do orçamento da BBC Media Action.

"Seguimos os padrões e valores editoriais da BBC no nosso apoio aos meios de comunicação de interesse público", lê-se no comunicado. "No entanto, todo o nosso financiamento vai para os nossos próprios projetos. Estes são completamente independentes do jornalismo da BBC News. Não temos qualquer influência sobre as decisões editoriais da BBC News. A BBC no Reino Unido é maioritariamente financiada por uma taxa de licença de televisão."

A BBC - não incluindo a BBC Media Action, que é uma entidade separada - também obtém receitas das suas filiais comerciais.

A Associated Press também se encontrava entre os meios de comunicação social que alegadamente recebiam financiamento da USAID. Embora a agência noticiosa tenha recebido 37,5 milhões de dólares de outras agências governamentais desde 2008, nenhuma parte desse montante proveio da USAID, de acordo com as estatísticas do governo federal.

A porta-voz da AP, Lauren Easton, referiu que "o governo dos EUA é cliente da AP há muito tempo - tanto nas administrações democratas como nas republicanas. Licencia o jornalismo apartidário da AP, tal como milhares de agências noticiosas e clientes em todo o mundo. É bastante comum que os governos tenham contratos com organizações noticiosas para os seus conteúdos".

Mas não são apenas os meios de comunicação social que estão a ser visados: a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse aos jornalistas, em fevereiro, que a USAID tinha gasto "1,5 milhões de dólares para promover a DEI [Diversidade, Equidade e Inclusão] nos locais de trabalho na Sérvia; 70 mil dólares para a produção de um musical DEI na Irlanda; 47 mil dólares para uma ópera transgénero na Colômbia; 32 mil dólares para uma banda desenhada transgénero no Peru".

As alegações espalharam-se rapidamente nas redes sociais ao longo da semana, mas apenas a subvenção destinada a uma organização sérvia chamada Grupa Izadji foi atribuída pela USAID. O seu objetivo passa por "promover a diversidade, a equidade e a inclusão nos locais de trabalho e nas comunidades empresariais da Sérvia".

As restantes foram atribuídas pelo Gabinete do Subsecretário para a Diplomacia Pública e Assuntos Públicos do Departamento de Estado.

Em 2022, concedeu 70.884 dólares a uma empresa irlandesa para "um evento musical ao vivo destinado a promover os valores comuns dos EUA e da Irlanda em matéria de diversidade, equidade, inclusão e acessibilidade".

Uma subvenção de 25.000 dólares foi concedida em 2021 a uma universidade na Colômbia "para sensibilizar e aumentar a representação dos indivíduos transexuais" através da produção de uma ópera, com um montante adicional de 22.020 dólares proveniente de financiamento não federal.

Outros 32.000 dólares atribuídos em 2022 a uma organização peruana financiaram "uma banda desenhada feita à medida, com um herói LGBTQ+ para abordar questões sociais e de saúde mental".

Especialistas explicaram à AP que faz sentido que estes programas sejam financiados pelo gabinete do subsecretário, porque é suposto refletirem os valores dos EUA, como a diversidade e a democracia, e a amizade entre países.

Os recentes acontecimentos mundiais colocam em evidência a quantidade de dinheiro que a Europa e os EUA enviam para o estrangeiro, pelo que é fundamental que o público seja corretamente informado.

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