As indústrias francesas, incluindo bebidas e produtos farmacêuticos, são as que correm maior risco se o presidente dos EUA aplicar as tarifas.
O espetro de uma guerra comercial transatlântica volta a pairar, uma vez que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor direitos aduaneiros até 25% sobre todos os produtos da UE.
Esta eventual medida poderá afetar a economia francesa. Em resposta, Bruxelas anunciou que estará pronta a retaliar.
Os EUA são o quarto maior cliente e o quinto maior fornecedor de França em 2023, de acordo com o Natixis, um importante grupo bancário francês.
A aeronáutica, os produtos farmacêuticos, os vinhos e as bebidas espirituosas representam, em conjunto, mais de um terço das exportações francesas para os EUA, o que significa que estes sectores são particularmente vulneráveis.
Mas a indústria francesa de bebidas espirituosas, avaliada em 3,9 mil milhões de euros em exportações anuais, está a preparar-se para o pior.
Já entre 2019 e 2021, uma guerra tarifária semelhante viu Trump impor direitos de 25% sobre os vinhos franceses, expandindo posteriormente a política para o conhaque e outros licores de alta qualidade.
Os resultados foram catastróficos para a indústria, com uma queda de 40% nas exportações e uma perda líquida de 500 milhões de euros, de acordo com dados da indústria.
Os produtos farmacêuticos, a segunda maior categoria de exportações francesas para os EUA, poderão também estar em risco.
Se os EUA avançarem com os direitos aduaneiros, as empresas farmacêuticas francesas poderão ter de tomar decisões difíceis sobre a transferência da produção para outro local.
"O sector siderúrgico já está enfraquecido, tal como o sector automóvel com a transição para os veículos elétricos", afirmou Christophe Blot, economista do OFCE, um grupo de reflexão económica francês.
"Entretanto, os sectores fortemente expostos ao mercado dos EUA, como os bens de luxo e os produtos farmacêuticos, são particularmente vulneráveis", acrescentou Blot.
Como é que França e a UE podem retaliar?
A UE deixou claro que irá reagir se Trump levar a cabo as suas ameaças. Mas os economistas alertam para o facto de as medidas de retaliação poderem sair pela culatra, penalizando os consumidores europeus.
"Se fizermos o mesmo que Trump, vamos penalizar os consumidores franceses. Não é necessariamente uma situação ideal, é um jogo em que todos perdem", disse Blot à Euronews.
Enquanto França exporta bens de alto valor para os EUA, as suas principais importações são hidrocarbonetos - petróleo e gás - no valor de 12,2 mil milhões de euros em 2023.
"França poderia tentar usar as suas importações de energia como alavanca nas negociações, aumentando potencialmente as suas compras de hidrocarbonetos americanos para aliviar as pressões tarifárias", sugeriu Hadrien Camatte, economista da Natixis.
Em 2018, durante uma disputa comercial anterior entre Trump e a UE, o bloco impôs tarifas sobre marcas americanas distintas, como motas Harley-Davidson, jeans Levi's, bourbon e sumo de laranja da Flórida.
A Comissão Europeia poderá impor aumentos simbólicos de tarifas semelhantes em resposta aos EUA, disse Camatte à Euronews.
Que outros países poderão ser mais afetados?
Enquanto França sentiria o impacto dos direitos aduaneiros, Alemanha e Itália - os maiores exportadores europeus para os EUA - seriam provavelmente ainda mais afetados, disse Camatte.
Ambos os países mantêm excedentes comerciais substanciais com os Estados Unidos, o que os torna os principais alvos de Trump.
De acordo com um estudo da Natixis, uma subida de 10% dos direitos aduaneiros poderia reduzir a produção económica na Alemanha em cerca de 0,5%, seguida de Itália com 0,4% e de França com 0,3%.
Apesar da incerteza em torno da próxima ação do presidente dos EUA, os economistas advertem que a UE deve preparar-se para mais aumentos de tarifas.
"Nesta fase, são apenas ameaças, sem um calendário claro ou pormenores", disse Sébastien Jean, economista especializado em comércio internacional.
"Mas dadas as repetidas declarações e sinais da Casa Branca, seria surpreendente se os EUA não impusessem direitos aduaneiros sobre as importações da UE, para além dos já previstos para o aço e o alumínio", concluiu.