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Caso de idoso violentamente agredido em macabro jogo viral abala Múrcia

Foto de Domingo, após a agressão de 9 de julho de 2025 em Torre Pacheco, viralizou nas redes.
Foto de Domingo, após a agressão de 9 de julho de 2025 em Torre Pacheco, viralizou nas redes. Direitos de autor  RR.SS.
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De Jesús Maturana
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A tranquilidade matinal de Domingo, um homem de 68 anos de Torre Pacheco, em Múrcia, sul de Espanha, transformou-se num pesadelo, quando um grupo de jovens o agrediu brutalmente durante o seu passeio habitual. Caso originou "caça" aos imigrantes e protestos de extrema-direita.

Os factos, que ocorreram por volta das 6h00 na zona do cemitério local, não se trataram de uma tentativa de roubo, mas de algo ainda mais perturbador: a gravação de um vídeo para as redes sociais.

A vítima terá visto os jovens a vários metros de distância antes do ataque. O primeiro deles correu para ele e, sem dizer uma palavra, começou a bater-lhe violentamente, sobretudo na zona da cara. Os agressores atiraram-no ao chão e começaram a dar-lhe pontapés e murros. Apesar de terem revistado os seus bolsos, foi excluída a hipótese de roubo, uma vez que Domingo usava um relógio que não tentaram roubar em momento algum.

As autoridades associam o incidente a um desafio viral que incentiva ataques a pessoas vulneráveis em troca de gostos e visualizações. Embora um vídeo tenha circulado nas redes sociais, a família de Domingo esclareceu que não corresponde a este caso, sugerindo que poderá haver mais ataques semelhantes.

A Guardia Civil e a polícia local estão a investigar o incidente para identificar os responsáveis, enquanto o presidente da câmara da cidade, Pedro Ángel Roca, anunciou que irá colocar câmaras de vigilância nas ruas, apelando a uma maior presença policial no município.

Quando a dor se torna uma arma política

O caso de Domingo foi imediatamente aproveitado por grupos ultra e partidos de extrema-direita para difundir mensagens xenófobas e racistas. Dado que a vítima comentou que os seus agressores pareciam jovens do Magrebe, embora não os tenha conseguido identificar, a chama do ódio foi acesa.

Organizações de extrema-direita que comunicam através dos canais Telegram, como a "Deport Them Now", apelaram a "uma caçada" para os dias 15, 16 e 17 de julho, prometendo "patrulhas de bairro" para procurar os agressores, a fim de lhes "fazer justiça direta".

Torre Pacheco, com uma população de pouco mais de 40.000 habitantes, dos quais cerca de 30% são imigrantes (maioritariamente de origem marroquina), tornou-se o epicentro da tensão. A localidade, situada no Campo de Cartagena, acolhe muitos estrangeiros que sustentam a economia da região através do trabalho na agricultura intensiva.

A situação explodiu na tarde de sexta-feira durante uma manifestação na Praça da Câmara Municipal com o slogan "Torre Pacheco, livre de violência, livre de crime". Embora o objetivo oficial fosse protestar contra os recentes atos criminosos, a manifestação tornou-se violenta.

Aos gritos de "hijos de puta", "arriba Franco", "viva Franco", "a vuestro país" e "me cago en tus muertos", vizinhos e outras pessoas que chegavam à localidade entraram em confronto e chegaram a desentender-se. Fontes policiais referiram que algumas das pessoas envolvidas nos confrontos não eram naturais da localidade, mas tinham vindo apenas para perturbar a concentração pacífica.

O Vox organizou uma manifestação "em repúdio do terror semeado por bandos de magrebinos no município", enquanto o partido Podemos pediu à delegação governamental que tomasse medidas preventivas para proibir estas manifestações violentas.

A delegada do governo em Múrcia, Mariola Guevara Cava, apelou à população para que não se deixe levar por este discurso de ódio que "a única coisa que procura é o ganho político", salientando que, por detrás destes apelos estão organizações antissistema que se baseiam em dados não verificados.

Quando à vítima, Domingo, está a recuperar em casa, fisicamente estável, mas emocionalmente afetado, alheio à tempestade política que o seu infortúnio desencadeou.

Detenções e feridos na segunda noite de "caça aos imigrantes"

Os recentes distúrbios ocorridos na segunda noite após o ataque a Domingo, em Torre Pacheco, fizeram cinco feridos e um detido. Os protestos foram provocados por apelos xenófobos difundidos nas redes sociais por grupos anti-establishment exteriores ao município.

A tensão aumentou antes do previsto, o que obrigou as autoridades a ativar antecipadamente um mecanismo de prevenção conjunto entre a Guardia Civil e a polícia local. Durante uma das manifestações, foram arremessados objetos, que provocaram os ferimentos ligeiros.

As forças de segurança conseguiram conter os indivíduos que estavam prontos para o confronto direto, evitando consequências mais graves, de acordo com o coronel chefe da Guardia Civil, Francisco Pulido.

Atualmente, estão destacados em Torre Pacheco um total de 75 agentes da Guardia Civil, incluindo unidades especiais como o Grupo de Reserva e Segurança (GRS) e a Unidade de Segurança Cidadã (USESIC).

A investigação centra-se na identificação de condutas puníveis através da análise de gravações de câmaras de segurança e de telemóveis, estando previstas mais detenções por possíveis crimes de ódio. As autoridades confirmaram que Torre Pacheco é atualmente a prioridade número um do Ministério do Interior da Região de Múrcia.

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