Comissão Europeia vota medidas contra Máfia

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A justiça italiana continua a tentar resolver o mistério que rodeia os atentados que acabaram com a vida dos juízes antimáfia, Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, 20 anos depois. Os alegados autores, hoje, afirmam que foram pagos para assunir esses crimes mafiosos.

No dia 23 de maio de 1992, toda a violência da Máfia siciliana caiu sobre o juiz Falcone, a mulher e três guarda-costas. A organização eliminou assim um de seus piores inimigos: um juiz escrupuloso e incorruptível.

Menos de dois meses depois, o seu amigo, o juiz Paolo Borsellino e cinco guarda-costas, foram assassinados em Palermo, a capital de Sicília. Em 2008, reabriu-se a investigação do crime, pois os magistrados suspeitavam que o juiz foi assassinado por se ter oposto a qualquer negociação secreta entre o Estado italiano e os capos da Cosa Nostra.

Uma suposta relação entre a política e a Máfia que os juízes de Palermo conheciam.

Na Sicília fez-se um julgamento para esclarecer quem matou os juízes e esclarecer se eram verdadeiros os rumores sobre as negociações entre o Estado e a Máfia.

No banco dos arguidos encontravam-se, entre outros, o filho do antigo prefeito de Palermo, Massimo Ciancimino, que entregou as provas herdadas do pai aos juízes, para reabrir o caso. Também foi ouvido o ex-senador Marcello dell’Utri, condenado, em 2010, por cumplicidade mafiosa.

O jornalista e escritor italiano Roberto Saviano alerta, há muito tempo, para a capacidade da Máfia em infiltrar-se na sociedade, não apenas em Itália.

Roberto Saviano: “As organizações criminosas afetam toda Europa. As economias alemã, britânica e espanhola, por exemplo, estão profundamente infiltradas pelas máfias sem que os governos destes países o divulguem aos cidadãos. A Máfia, as máfias, estão a hipotecar o futuro de nosso continente”.

Para esclarecer o debate na sequência do voto único em Bruxelas, falamos com Sonia Alfano, presidente da Comissão Europeia anti-Máfia, candidata independente ao Parlamento Europeu, com o objetivo de fazer da luta contra a Máfia, uma prioridade na Europa.

Euronews – A legislação anti-máfia estabelece a necessidade de combater o crime organizado a nível europeu. O que tem feito a Máfia em Itália, que não deve ser repetido na Europa?

Sonia Alfano – A Máfia no nosso país, praticamente devorou ​​o tecido económico e, infelizmente, também conquistou o consenso social da sociedade civil.

euronews – Atingir a riqueza da Máfia é uma via para a desarmar. Na legislação anti-máfia, os paraísos fiscais são vistos como refúgios para o capital da Máfia. Como reagiram os colegas austríacos da Comissão?

Sonia Alfano – Não muito bem… E os colegas alemães também tentaram colocar obstáculos na apreensão e na confiscação de bens, porque para eles a defesa dos direitos dos acusados é muito importante.

Claro, que todos queremos defender os direitos do acusados, mas se temos um acusado de um lado, temos as vítimas do outro e o nosso compromisso de garantir os direitos das vítimas deve estar em primeiro lugar.

euronews – Pretende introduzir um controlo mais rigoroso para identificar os titulares das contas. Porquê? Os mafiosos são os melhores clientes dos bancos europeus?

Sonia Alfano – Com certeza, é por isso é que também pedimos a abolição do sigilo bancário. Muitas vezes, os bancos dão demasiada hospitalidade e garantias excessivas a todas as organizações que lá se refugiam de forma consciente.

euronews – Qual é o verdadeiro risco da Máfia entrar na “sala de operações” da Europa?

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Sonia Alfano – Infelizmente, a Máfia já está na sala de operações da Europa e tem conhecimento antecipado do que está a acontecer, onde acontece e quem toma as decisões. Têm relações com pessoas dentro de todas as instituições da UE, a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu, o Conselho, etc. Quando falo da Máfia não me refiro à ala militar da Máfia, às pessoas que cometem homicídios, roubos, extorsão. Falo da Máfia de colarinho branco, que trabalha nas instituições, na administração pública, em todas as organizações institucionais, que lida constantemente com a UE e que sabe quais os fios que devem puxar.

euronews – O importante é que a legislação anti-Máfia não fique em segundo plano na Europa. Obrigada, Sonia Alfano, por ter estado connosco.

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