O antigo presidente do Chade Hissène Habré foi condenado esta segunda-feira a prisão perpétua e tornou-se no primeiro chefe de Estado a ser julgado e condenado noutro país do mesmo…
O antigo presidente do Chade Hissène Habré foi condenado esta segunda-feira a prisão perpétua e tornou-se no primeiro chefe de Estado a ser julgado e condenado noutro país do mesmo continente. “Este tribunal considera-o culpado de crimes contra humanidade, violação, escravatura e rapto”, afirmou o juiz Gberdao Gustave Kam, que liderou o processo conduzido pelo tribunal africano extraordinário, órgão internacional criado no final de 2012 pela União Africana e pelo Senegal.
#VerdictHbré: La Chambre prononce la perpétuité pour Habré.. pic.twitter.com/09nLFEPMdH
— Chambres Africaines (@chambresafrica) 30 de maio de 2016
Reed Brody, porta voz da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch e conselheiro nos últimos 15 anos das vítimas Habré, disse que a condenação é uma advertência para outros déspotas no mundo, evocando nas redes sociais os regimes de Bashar al Assad, na Síria, e Kim Jong-un, na Coreia do Norte.
Réaction de [Tyrants take note: You will never be out of the reach of your victims. #HissèneHabrépic.twitter.com/RHXEkDrPHx
— Reed Brody (@ReedBrody) ](<<blockquote class=>)30 de maio de 2016
(“Tiranos tomem nota: Vocês nunca vão estar fora do alcance das vossas vítimas.”)
“Este veredicto envia uma poderosa mensagem de que os dias em que os tiranos podiam brutalizar o seu povo, pilhar a sua riqueza e escapar para uma vida de luxo no estrangeiro estão a acabar”, indicou num comunicado.
A condenação proferida esta segunda-feira, em Dakar, no Senegal, foi recebida com grande entusiasmo pelas vítimas sobreviventes e pelos ativistas de direitos humanos que há quase 16 anos ansiavam por justiça face a Hissène Habré.
Long time coming, but Hissène #Habré verdict has finally delivered justice to victims https://t.co/d4lnMLEdwC#Chadpic.twitter.com/3a7NunEpjv
— Amnesty Int'l NI (@AmnestyNI) 30 de maio de 2016
Presidente do Chade entre junho de 1982 e dezembro de 1990, quando foi deposto, Hissène Habré era acusado de ter sido o responsável pela morte de cerca de 40 mil pessoas e de diversos atos de tortura contra opositores durante os oito anos em que liderou o país. Pelo menos, quatro mil dos mortos foram identificados.
O tribunal terá sido convencido pelo testemunho de uma das alegadas vítimas de tortura. Khadija Hassan Zidane diz ter sido violada diversas vezes e pelo prório Hisséne Habré.
“Ele agarrou-me pelos cabelos antes de me deitar por terra. Tentei resistir, mas, cansada, acabei por me deixar ir. Foi assim que ele abusou de mim e repetiu.o quatro vezes. À quarta vez, obrigou-me a engolir o seu esperma”, terá dito a vítima quando questionada em tribunal, em outubro passado, citada pelo jornal digital Tchadoscopie.
#VerdictHabré: “La chambre est convaincue que Khadija Hassan Zidane a dit la vérité sur les violences sexuelles” Le juge KAM
— Chambres Africaines (@chambresafrica) 30 de maio de 2016
Hisséne Habré esteve em silêncio durante todas as audiências do julgamento, mas após a sentença gritou: “viva a África independente e livre. Aaixo a ‘Françáfrica’”. O antigo presidente do Chade tem agora 15 dias para apresentar recurso.
/p> > After historic conviction, thinking of my friends, #HissèneHabré's survivors, who didn't live to see this victory pic.twitter.com/YMCgg0scAd
— Reed Brody (@ReedBrody) 30 de maio de 2016
(“Depois desta histórica condenação, penso nos meus amigos,
sobreviventes de Hissène Habré, que não conseguiram viver para ver esta vitória.”)