Abdullah Abdullah: "Os talibãs ainda acreditam na vitória militar"

Abdullah Abdullah: "Os talibãs ainda acreditam na vitória militar"
Direitos de autor 
De  Nuno Prudêncio
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

O regime talibã caiu há 15 anos, mas o Afeganistão ainda não conseguiu emergir do caos. Falámos com o chefe do executivo afegão, em Bruxelas.

O regime talibã caiu há15 anos, mas o Afeganistão ainda não conseguiu emergir do caos. Numencontro em Bruxelas, dedicado às ajudas externas que aquele país recebe, falámos comAbdullah Abdullah, o chefe do executivo afegão.

Maria Sarsalari, euronews: Tem havido inúmeras críticas sobre a forma como as ajudas internacionais foram e são utilizadas no Afeganistão. Fala-se em desperdício orçamental e má gestão. Que garantias pode ter a comunidade internacional de que os eventuais erros que se tenham sucedido não voltam a acontecer?

Abdullah Abdullah: As coisas eram diferentes quando a comunidade internacional começou a colaborar com o Afeganistão, há 15 anos. Os organismos governamentais eram frágeis, as prioridades não estavam bem definidas e a planificação de projetos era problemática. Nos primeiros anos, foram gastos provavelmente centenas de milhões de dólares no chamado apoio técnico, no recrutamento de consultores para os vários ministérios e organismos. Portanto, parte do problema teve a ver com a corrupção e com os contratos que foram estabelecidos. Recentemente, foram encetadas reformas estruturais focadas nessa questão dos contratos. É um trabalho que continua a desenvolver-se. O povo tem o direito de se sentir respeitado quanto a este aspeto, é o que se espera de nós e estamos muito empenhados em fazê-lo. Seja em relação ao orçamento interno, seja em relação às ajudas internacionais, os afegãos fazem questão de saber que os fundos estão a ser utilizados de forma muito transparente. As pessoas e os doadores têm de ser informados de como o dinheiro é gasto. Já foram dados alguns passos positivos, em consonância com a comunidade internacional. Mas há ainda muito trabalho por fazer.

#Afghanistan: les ratés de l'aide occidentale illustrés #AFPpic.twitter.com/CLcyT3vT8K

— Caroline Perrot cnp/ (@CaroPerrot) 4 octobre 2016

Até que ponto há “unidade” no governo de unidade nacional?

euronews: Alguns dos chamados “senhores da guerra”, antigos combatentes, vieram a integrar o governo. O poder que têm, e o facto de alguns deles agirem claramente à margem da lei, tem gerado várias preocupações e debates. É possível conceber um futuro para a República Islâmica do Afeganistão como um Estado de direito?

AA: Tem sido um longo processo. A situação melhorou, se compararmos com o cenário dos últimos anos. Todos aqueles que recorram à força e se comportem acima da lei têm de de ser travados. E as pessoas que não entendam isto têm de ser vigiadas. No entanto, não podemos fazer generalizações, nem rotular as pessoas apenas com base no seu passado. Não concordo com isso.

euronews: A criação de um governo de unidade nacional, após o longo processo que decorreu das eleições presidenciais, deu esperança a muita gente. Entretanto, sabe-se que o presidente e o chefe do executivo trabalham com equipas separadas. Porquê? Em que estado se encontra a vossa colaboração? Ainda há ressentimentos relativamente ao escrutínio presidencial?

AA: Toda a gente quer que o governo de unidade nacional funcione. Tem sido um tema de debate constante. Todos salientam a importância do conceito “unidade” num governo de unidade nacional. A base de trabalho deste executivo é o acordo assinado antes da transferência de poderes. Não temos uma alternativa ao governo de unidade nacional. É óbvio que podemos seguir outro caminho quando forem realizadas novas eleições presidenciais. Aí cada um terá a sua oportunidade. É o povo que decide o caminho a fazer. O que é positivo no processo democrático é que as pessoas podem julgar o desempenho dos governos. O que se espera é que as pessoas façam uso dessa oportunidade da melhor forma possível.

“Os talibãs ainda acreditam numa vitória militar”

euronews: Fala-se muito num eventual acordo de deportação assinado pelo seu governo que consistiria em receber de volta dezenas de milhares de imigrantes afegãos que estão na Europa em troca de uma parte das ajudas internacionais. É verdade? Esse acordo existe?

AA: É claro que não. É evidente que a questão dos emigrantes e dos requerentes de asilo se tornou num grave problema para a Europa. Tem havido conversações entre o Afeganistão e a União Europeia sobre esse tema, mas isso está totalmente à margem da agenda desta conferência de doadores que se organizou em Bruxelas.

#Afghanistan : les #Taliban affirment contrôler la ville de #Kunduzhttps://t.co/9Gf1jBMPmd

— OpexNews (@OpexNews) 3 octobre 2016

euronews: A investida recente dos talibãs sobre a cidade de Kunduz ameaçou ensombrar esta conferência. Em que ponto estão as negociações de paz com os talibãs? Considera que é possível alcançar um acordo como o obtido com o movimento insurgente Hezb i Islami, o Partido Islâmico do Afeganistão, liderado por Gulbuddin Hekmatyar?

AA: Infelizmente, os talibãs ainda acreditam que vão conseguir uma vitória militar. O governo afegão mantém o diálogo em aberto, assim como o caminho da paz. Aliás, resolver este problema através do diálogo tem sido a posição defendida pelo governo. Foi isso que aconteceu nas negociações com o senhor Gulbuddin Hekmatyar, no sentido de assentar o respeito pela Constituição do país, o abandono da violência e o fim de qualquer associação com grupos terroristas. Sem estes elementos, a paz não pode ser materializada.

euronews: Uma última pergunta… considera a possibilidade de se voltar a apresentar como candidato às próximas eleições presidenciais?

AA: Neste momento, estou a concentrar toda a minha atenção e energia a servir o povo no âmbito deste governo de unidade nacional. Os eleitores votaram tanto em mim, como no presidente atual. O contexto ditou que se reunissem os votos em ambos. Por isso, a nossa energia deve estar focada em servir o povo. Até lá, quem sabe…

Partilhe esta notíciaComentários