A corrupção está a aumentar na Europa e Ásia Central?

Pagar subornos à polícia e aos funcionários públicos é uma prática generalizada em, pelo menos três países da União Europeia, segundo o novo Barómetro da Transparência Internacional.
O documento, publicado esta quarta-(feira 16 novembro), analisa a perceção da corrupção em 42 países da Europa e da Ásia Central.
Cerca de um terço dos inquiridos na Roménia, diz ter pagado dinheiro para ter acesso aos serviços públicos, no ano passado.
Aproximadamente, um quarto dos inquiridos deu a mesma resposta na Lituânia, tal como aconteceu com uma em cada em cinco pessoas na Hungria.
Segundo a Transparência Internacional, o fracasso dos Governos em lidar com a corrupção ajuda a explicar o aumento dos movimentos populistas e nacionalistas, no velho continente.
EU states and corruption
Click the column headers to re-sort the table.Source: Transparency International. No data for Austria, Denmark, Finland, Ireland, Luxembourg and Malta.
“A Europa assistiu a um aumento nos últimos anos do apoio aos movimentos populistas e nacionalistas, em Espanha, Reino Unido e Turquia”, afirmam os ativistas no relatório.
“As razões são múltiplas e complexas. São impulsionadas, em grande parte, pela crença de que as instituições democráticas tradicionais – Governos e partidos políticos – estão a falhar no cumprimento das promessas de prosperidade e igualdade de oportunidades e, por isso, não são de confiança.”
“A corrupção é central nessa história – tanto o fracasso dos Governos em lidar corretamente com a corrupção como a sua cumplicidade em esquemas corruptos ou” clientelistas “.
“Tornou-se impossível ignorar a corrupção sistémica na forma como os negócios influenciam a política, como revelado no caso em julgamento de 37 executivos e políticos em Espanha alegadamente envolvidos num esquema de contrapartidas por contratos durante cerca de uma década.”
O mediatismo do caso pode ser uma das explicações pelas quais 80% dos espanhóis consideram que os esforços do Governo no combate à corrupção são muito maus. Um resultado muito acima dos 50% da média dos países da União Europeia. Em Portugal são apenas 37%.
No leste europeu, os números sobem para 86% na Ucrânia, 84% na Moldávia e 83% na Bósnia Herzegovina.
No outro extremo da escala, apenas 28% dos inquiridos na Suécia e na Suíça acreditam que as autoridades não estão a conseguir combater o problema da corrupção.
“Nos países da União Europeia, muitos cidadãos veem como os mais ricos e os governantes distorcem o sistema a seu favor”, disse José Ugaz, presidente da Transparência Internacional.
Em Portugal, 80% dos portugueses consideram que o Estado sofre influências indevidas de pessoas com grande poder económico.
“Os Governos simplesmente não estão a fazer o suficiente para combater a corrupção, pois os indivíduos do topo estão a beneficiar-se”, continua Ugaz.
O presidente da Transparência Internacional vai mais longe e afirma que “para acabar com essa relação, profundamente preocupante, entre a riqueza, o poder e a corrupção, os Governos devem exigir níveis mais altos de transparência, inclusive àqueles que controlam as empresas, através dos registos públicos de propriedade.”
Para elaborar o relatório, a organização ouviu 60 mil pessoas. Os inquéritos foram realizados em janeiro de 2016 em 42 países da Europa e Ásia Central, de Portugal ao Cazaquistão, incluindo a Rússia.