A visão que Hollywood e a União Soviética tiveram de 2017

Imaginar como será o futuro é um exercício recorrente na cultura popular. Há de tudo: criam-se contextos que, uma vez chegado o ano em questão, se tornam profundamente risíveis ou estabelecem-se premonições que se vêm a revelar assustadoramente certeiras. O período da Guerra Fria foi profícuo neste campo. E tanto russos como americanos apresentaram versões de como seria… 2017.
“No ano 2017” é um nome que não deixa grandes margens para dúvidas e refere-se a um diafilme soviético (sequência de fotografias projetadas em filme) datado de 1960. Anos mais tarde, em 1987, Hollywood avançava com uma visão diferente no filme “O Gladiador” (“The Running Man”). O primeiro retrata um universo totalmente organizado, no qual o Homem controla tudo, incluindo a meteorologia. O segundo gira em torno de um reality show num mundo em ruínas.
“O Gladiador”
Este filme, que tem como protagonista (quem diria?) o futuro governador da Califórnia – Arnold Schwarzenegger -, mistura alguns elementos que se viriam a mostrar precisos (deixamos-lhe tirar as suas próprias conclusões) com hipóteses que, hoje em dia, são mais do domínio do humor.
What would #Althusser make of this?…
2017 predicted in The Running Man? We're living in it https://t.co/NPtQfNxyvO viaConversationUK</a></p>— Jim Slaven (
JimSlaven) January 3, 2017
“No ano de 2017, a economia mundial colapsou”, são as primeiras palavras desta película distópica, antes de se explicar que “os alimentos, os recursos naturais e o petróleo estão em escassez”. Um regime totalitário governa “com mão de ferro” através de um dispositivo mediático destinado a subjugar a sociedade e erradicar os dissidentes.
O enredo, inspirado numa novela de Stephen King, assenta num programa de reality show algures entre “O Aprendiz” e “The Hunger Games”. O homem mais poderoso do mundo é nada menos do que o apresentador desse programa, uma personagem populista, clownesca, excessiva que se regozija a ver prisioneiros políticos lutarem até à morte contra gladiadores futuristas.
Roses are red
— Nick Mamatas (@NMamatas) January 1, 2017
The Beatles were a band
You know science fiction can be prescient like in THERUNNINGMANpic.twitter.com/eq6aXZ2Ctl
Este filme de ação dos anos 80 também previu uma espécie de internet chamada “infonet”, uma obsessão generalizada por coreografias de aeróbica, tecnologia baseada em controlo de voz e pranchas voadoras (lembra-se da Flyboard Air?).
Flyboard® Air Farthest flight by hoverboard (achieved on 30th April 2016… https://t.co/sGedMgOWdt
— wrath (@Wrath_01) December 27, 2016
“O Gladiador” pinta um quadro orwelliano sobre a sobreposição da política e da propaganda num mundo onde as fronteiras entre as notícias e o entretenimento se dissiparam.
Happy 2017! Remember, The Running Man was set this year. Things are looking up! #nye2016pic.twitter.com/ASqear3nyS
— Will Perkins (@WilliamHPerkins) January 1, 2017
A emergência do populismo e dos movimentos de extrema-direita levou alguns analistas a considerar que vivemos numa era da pós-verdade. No filme, um dos prisioneiros tem uma deixa que diz: “A verdade não tem sido muito popular ultimamente”. Veja o trailer de “O Gladiador” aqui.
“No ano 2017”
Este é o ano em que se assinala também o centésimo aniversário da Revolução Bolchevique. “No ano 2017” é um diafilme produzido nos anos 60. Tal como “O Gladiador”, comporta momentos premonitórios surpreendentes, assim como palpites que, digamos, não envelheceram bem. Um deles é a antecipação otimista da utopia de uma União Soviética omnipotente.
Os personagens viajam do Mar Negro até à Sibéria, em comboios a energia nuclear, em apenas alguns minutos. O pai do personagem principal é um meteorologista que tem a capacidade de mudar as condições climatéricas.
Numa altura em que a União Soviética tinha lançado o primeiro satélite de sempre, colocado o primeiro animal em órbita, se preparava para tornar Yuri Gagarin no primeiro homem no espaço, o otimismo motivado pelos avanços tecnológicos parecia mais do que justificado.

O diafilme apresenta um jovem rapaz, Igor, e a sua família a desfrutarem das possibilidades oferecidas pela evolução tecnológica que cem anos de União Soviética trouxeram. No clímax da história, o pai de Igor ajuda a salvar milhares de vidas inocentes com um aparelho voador que controla o clima: “Os últimos imperialistas que restaram, escondidos numa ilha longínqua, testaram uma arma nuclear que era proibida. Durante o teste, houve uma explosão de uma violência sem precedentes, que destruiu toda a ilha e criou perturbações atmosféricas em todo o planeta”.
Há também uma espécie de “telefone-televídeo”, que corresponde basicamente à função de um Skype ou Facetime nos computadores de hoje. Existe um aparelho, em forma de pequeno frigorífico, que serve para cozinhar e veículos que aparentemente não têm condutor.
Mais sobre o diafilme aqui.