"Abusos sexuais" e "genocídio" contra minoria rohingya em Myanmar

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De  Francisco Marques
"Abusos sexuais" e "genocídio" contra minoria rohingya em Myanmar

Está em curso em Myanmar um “genocídio” contra a minoria islâmica Rohingya com recurso inclusive a violência sexual contra mulheres e raparigas desta minoria muçulmana.

Estas são as mais recentes acusações reveladas pelos relatórios publicados esta semana por duas organizações não-governamentais (ONG) a operar na antiga Birmânia.

A Human Rights Watch (HRW) acusa os militares birmaneses de estarem a conduzir desde 25 de agosto uma operação de “limpeza étnica” contra os rohingyas no estado de Rakhine, no norte do país.

A investigadora Skye Wheeler, responsável pelo estudo, conclui que o resultado “é uma crise humanitária de impressionante escalada e severidade.”

O relatório da HRW teve por base dezenas de entrevistas a mulheres e meninas vítimas de abusos por soldados.

Há testemunhos aterrorizadores como o de uma sobrevivente que assistiu à violação e assassínio de uma vizinha. “Era uma rapariga muito bonita chamada Din-Newaz. Três militares viram-na escondida, levaram-na para o exterior. Um deles deitou-a. Tiraram-lhe a roupa e dois deles violaram-na. Quando acabaram, o homem que a tinha deitado deu-lhe um tiro e matou-a. Eu vi tudo”, contou a refugiada à HRW.

A Fortify Rights, por fim, associou-se ao Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos e acaba de publicar um documento de 30 páginas onde denuncia “crimes contra a Humanidade” e “uma campanha de limpeza étnica” cometidos pelas “forças de segurança birmanesas e civis” contra membros da minoria rohingya.

“Provas de que estes atos representam um genocídio contra a população rohingya não param de crescer”, diz o relatório, dando conta de vítimas abatidas ou queimadas vivas.


Os autores entrevistaram mais de 200 pessoas (sobreviventes, testemunhas e trabalhadores humanitários) para documentar duas vagas de ataques levados a cabo pelas forças birmanesas contra a minoria rohingya entre 09 de outubro e dezembro de 2016, e a partir do passado dia 25 de agosto.

Num país com cerca de 90 por cento de budistas, os Rohingyas continuam a não ter direitos de cidadania, são perseguidos e, só nos últimos três meses, mais de 600.000 fugiram para o Bangladesh.