Emmanuel Macron tinha prometido e agora vai avaliar uma proposta para devolver aos países africanos dezenas de milhares de peças históricas trazidas para a Europa durante o período colonialista.
Devolver objetos históricos aos países de origem é um debate que parece interminável mas que pode estar agora à beira de uma viragem inédita. O presidente francês prepara-se para avaliar um relatório, elaborado por dois especialistas, que estipula medidas concretas para o regresso de dezenas de milhares de peças ao continente africano.
"Quero que, até daqui a cinco anos, estejam reunidas as condições para restituir temporária ou definitivamente património africano a África". Foi no final de 2017 que Emmanuel Macron pronunciou estas palavras, num contexto amplamente conhecido e controverso.
Num mundo pós-colonialista, calcula-se que 90% do património artístico africano se encontre hoje em dia na Europa.
"Devolver bens não é uma questão que dê vitórias ou derrotas a ninguém. Não se trata de uma batalha. O Benim precisa dessas peças para reforçar a economia nacional e criar emprego no setor do património cultural", aponta Happy Goudou, gestor cultural.
No entanto, há quem defenda que o espólio tem de ficar onde está. "São peças que, dado o contexto da época, vieram de uma forma totalmente legal para as nossas coleções públicas. E, a partir do momento em que isso acontece, elas tornam-se inalienáveis, não podem regressar a um suposto proprietário que aos olhos dos museus nem sequer existe", diz o historiador de arte Pascal Blanchard.
Para alterar este cenário, é preciso mudar o código patrimonial francês e é precisamente isso que o relatório apresentado a Macron propõe. Está em causa o regresso a casa de, pelo menos, metade dos cerca de 90 mil objetos africanos que se encontram nos museus franceses.