A Euronews falou com aquele que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa considera "o maior português vivo".
Não creio que a Bíblia naufrague, mesmo numa civilização tão desapiedada (...) como a nossa.
Filósofo
Um "templo da literatura, recheado de fantasmas chamados livros" - assim chamou Eduardo Lourenço à livraria Lello e este parece ser o cenário ideal para encontrar aquele que é um dos maiores intelectuais portugueses do século XX.
Num mundo em constante mudança, quisemos saber o que pensa Eduardo Lourenço sobre o estado atual das coisas. Em primeiro lugar, recusa a designação de grande pensador.
"Não sou um grande pensador, o mundo é que pensa e eu tento imaginar o que ele me está a dizer. O mundo já não tem aquela leitura tradicional que herdámos do século XIX, em que o livro era o começo, o princípio e o fim da nossa experiência com o mundo e com nós próprios", disse Lourenço.
"O nosso livro fundamental é a Bíblia, pelo menos até agora. Não creio que a Bíblia naufrague, mesmo numa civilização tão desapiedada, tão violenta internamente, tão pouco cheia de misericórdia como é a nossa nestes tempos que correm".
Se a Bíblia é o último reduto da humanidade, será então que a religião tem um papel mais importante do que pensávamos? "Todos nós, sem sabermos, ou não sabendo, ou pensando que não sabemos, somos seres religiosos. Seres que recebem a sua informação, a sua leitura do mundo, dessa coisa imaterial chamada livro. Chamada ensaio, conto, literatura", disse.
Aos 95 anos e perto de fazer 96, Eduardo Lourenço lê o mundo como muito poucos. O filósofo e ensaísta, autor de "O labirinto da saudade", foi homenageado por ocasião dos 113 anos desta histórica livraria do Porto.