Trabalhadores não-declarados vivem drama em Itália

Trabalhadores não-declarados vivem drama em Itália
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De  Giorgia Orlandi
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Economia paralela representa uma fatia importante do PIB italiano.

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Na zona de Quarticciolo, na periferia oriental de Roma, 70% dos residentes ganhavam a vida com trabalho não-declarado - era isso ou o tráfico de drogas.

Quando o confinamento começou, perderam todos o trabalho. Na maior parte das vezes não podem contar com a ajuda do Estado. Fazem fila aqui, duas vezes por semana, para receberem pacotes de alimentos dos produtores locais ou vales de compras.

Apesar de ser ilegal, o trabalho não declarado é bastante comum em Itália, mais do que em outras partes da Europa. Permite a sobrevivência de famílias inteiras e desempenha um papel crucial no crescimento económico do país.

Stefano Belmonte é um destes trabalhadores. Tem mulher e filha e não trabalhou, de todo, nos últimos três meses: "Tenho alguns legumes, tomate, esparguete, fruta, ovos. É suficiente para comer ao almoço e ao jantar. Não é muito, mas farei o meu melhor para que dure para nós os três", diz-nos.

A solidariedade entre as pessoas é bastante comum em Quarticciolo. Stefano ajuda nesta instituição local há alguns anos. É uma forma de se manter ocupado e apoiar a comunidade local.

"Já passaram três meses sem trazer um único euro de volta para casa. Consegui continuar, pois os alimentos de que preciso são-me oferecidos. Fiz algumas coisas aqui e ali, mas não há qualquer rendimento. Trabalhei um total de três dias em três meses. O trabalho não-declarado está completamente bloqueado. É o que eu faço, infelizmente, com a minha idade não tenho a possibilidade de me oferecerem um emprego", conta Stefano.

Foi criado um ginásio de boxe para manter os jovens fora das ruas - mas ainda não reabriu e sem ele muitos adolescentes locais sentem-se perdidos.

Gian Maria Fara, presidente do EURISPES (Instituto de Estudos Políticos, Sociais e Económicos), acredita que a economia paralela é uma resposta natural ao mau funcionamento da burocracia do país, bem como às elevadas taxas de imposto sobre o rendimento, mas que representa 35% do PIB do país: "Graças aos rendimentos não declarados, famílias inteiras compram mantimentos e deslocam-se, ou seja, vivem uma vida normal. Mesmo se falamos de rendimentos ilegais, continuam a fazer parte de toda a economia, da mesma forma que os rendimentos provenientes de atividades criminosas também desempenham um papel no crescimento económico do país", diz.

O aumento das tensões sociais pode ser uma das consequências da crise, com muitos italianos a não terem outra opção senão aceitar o apoio de organizações criminosas.

Nome do jornalista • Ricardo Figueira

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