Cerca de 500 espaços de entretenimento infantil em Portugal estão parados desde março devido à Covid-19 e os mais inconformados juntaram-se numa associação para pressionar o governo
César Batas mudou-se do Brasil para Portugal e decidiu investir 350 mil euros, em 2019, na abertura de um parque de entretenimento para crianças. Um ano depois, a ideia de fechar as portas do Anima Park, em Cascais, começa a ganhar força devido à pandemia e à falta de apoio do Estado ao setor, admitiu o empresário em entrevista telefónica à Euronews.
Uns dias antes, César Batas tinha falado à agência Lusa sobre a crise nos parques de diversão para crianças, com atividade suspensa desde março e despesas regulares para pagar, incluindo endividamentos para tentar manter vivo o negócio.
Há pouco mais de uma semana foi lançada uma petição na Internet para levar o debate sobre a crise no setor dos parques infantis à Assembleia da República. O objetivo é chegar às 4.000 assinaturas, esta segunda-feira tinha cerca de 1.700.
No início do confinamento, além do programa de "lay off" de que usufruiu durante dois meses, César teve hipótese de se candidatar a uma linha de apoio especial e conseguiu-a. Perspetivou uma paragem de três meses e pediu €50 mil, mas a suspensão da atividade prolongou-se, o dinheiro foi-se gastando e agora será muito difícil conseguir uma extensão desse apoio.
Meio milhar de parques aflitos
Como o Anima Park, há cerca de 500 espaços de entretenimento infantil em Portugal com a corda no pescoço e a desesperar pela autorização do governo para voltarem a organizar festas para crianças.
"Até esta pandemia chegar, estávamos muito bem. O número de colaboradores fixos era de oito ou nove, e nos dias de eventos, dependendo dos aniversários, chegavam a ser 25 ao sábado e domingo", recordou César Batas, nas declarações à Lusa.
À Euronews atualizou a situação. "Tinha feito contratos renováveis de um ano com nove pessoas, mas não os pude renovar. No pico do trabalho, podíamos ter oito aniversários e isso implicava 25 pessoas ao fim de semana. Agora, não há trabalho, não se justifica. Tenho apenas uma gerente e a sócia-gerente, a minha mulher", contou-nos.
A empresa mantém apenas dois salários a rondar os €700 e tem ainda uma renda de €7.500, "suspensa desde abril" por acordo com o proprietário. "Mas vamos ter de começar a pagar porque o dono do espaço também precisa de viver", disse-nos César Batas, que tem mantido o diálogo sobre uma situação que não pode ser prolongada por muito mais tempo.
Em julho e agosto, o Anima Park ainda conseguiu realizar atividades de tempos livres (ATL), mas as receitas, entre de €2 mil e €3 mil, "não davam sequer para as despesas", admitiu o empresário.
Com o Anima Park totalmente fechado desde 11 de setembro, o empresário tem procurado alternativas de negócio como o aluguer de decorações e de "know how" para a realização de festas infantis no domicílio dos clientes, mas o negócio "está lento".
Ao mesmo tempo, César está a tentar encontrar novas linhas "de apoio para as rendas e para os colaboradores". "Quem teve acesso à primeira linha de crédito, já não pode ter a segunda e aquele prazo que pensámos ser de três meses (de paragem) já vai a caminho de sete meses", lamentou.
César Batas tem um plano de retoma da atividade respeitando as regras que as autoridades de saúde têm adotado para outros setores empresariais.
Apesar do plano de contingência para retomar a atividade, a autorização do governo tarda.
Uma associação para defender o setor
Com outros empresários do setor, César Batas formou a Associação portuguesa de Espaços Infantis e Recreativos (ANEIR).
O mentor da associação foi André Resende, do Hello Park, em Lisboa, que reclama de discriminação das autoridades de Saúde em relação a outros setores de entretenimento como os carrosséis itinerantes.
"Nós ficámos para o fim. Completamente esquecidos. Gostávamos de voltar a ter atividade. Estamos dispostos a cumprir regras, já apresentámos planos de contingência, mas até agora não temos resposta do governo, disse André Resende à Lusa.
O proprietário do Hello Park, que tem como atrações um barco pirata e uma casa na árvore, não tem dúvidas em afirmar que, ao manterem encerrados estes parques, as autoridades "estão a roubar a infância das crianças e o direito de celebrarem o seu aniversário com os amigos".
"Queremos abrir portas, voltar a trabalhar. Nós precisamos, os pais precisam e, sobretudo, as crianças. Nós não podemos estar a hipotecar o futuro das crianças. A infância é só uma", sublinhou.
O funcionamento do Hello Park representou, desde a sua abertura, um investimento de quase um milhão de euros e emprega oito funcionários fixos e um conjunto de monitores.
Apesar da situação dramática, a administração do Hello Park conseguiu manter todos os postos de trabalho fixo.
A agência Lusa contactou o Ministério da Economia, que disse estar a acompanhar a situação e que "oportunamente acrescentará informações". Também a Direção-geral de Saúde foi contactada, mas sem dar uma resposta.
Todas as atividades relativas aos salões de dança ou de festa, parques de diversões e parques recreativos e similares permanecem encerrados. E assim de verão ficar enquanto durar a situação de contingência em que o governo colocou Portugal, pelo menos, até 14 de outubro.