Os ministros da Justiça e da Administração Interna da União Europeia vão debater este tema numa reunião extraordinária, na sexta-feira.
2020 revelou-se um ano de pico nos ataques terroristas conduzidos por radicais islâmicos na Europa, que ensombram a vida quotidiana há uma década.
Só desde o verão foram levados a cabo quatro ataques com vítimas mortais, sendo França o país mais atingido.
No ano passado, a agência policial europeia Europol desmantelou cerca de uma centena de conspirações e deteve mais de mil suspeitos.
"Em termos de tendência geral, pode dizer-se que o enquadramento dos incidentes de terrorismo está a ficar muito mais complexo. Já não é como há alguns anos em que estava claro que os ataques eram levados a cabo pelo autodenominado Estado Islâmico e pela Al-Qaida. O panorama é mais diversificado. Em geral, há maior dificuldade em termos da capacidade de reação das autoridades policiais, é muito mais difícil intervir”, disse Wil van Gemert, vice-diretor da Europol em entrevista à euronews.
Um estudo da Europol revela que o confinamento devido a pandemia de Covid-19 levou a que potenciais atacantes muçulmanos passassem mais tempo a verem sites na Internet com conteúdos que conduzem à radicalização.
A Europol tem uma unidade para monitorizar sites e trabalha de perto com o setor privado, segundo Wil van Gemert: "Temos uma forte cooperação com os principais fornecedores de serviços digitais, Existe uma plataforma na União Europeia que permite aos maiores fornecedores denunciarem e removerem conteúdos violentos. Há uma partilha da responsabilidade entre os agentes da autoridade e os parceiros privados para manter a sociedade mais segura".
Combater a raíz ideológica salafista
Os peritos dizem que é preciso ir além da vigilância dos operacionais jihadista, isto é, aqueles que levam a cabo atos violentos em nome da defesa do Islão e para punir alegados ataques dos infiéis à sua fé.
A propaganda ideológica de alguns movimentos religiosos, tais como o salafismo, é uma das raízes do problema, segundo Claud Moniquet, especialista em contra terrorismo e diretor do ESISC: "As pessoas não nascem jihadistas, tornam-se jihadistas".
"Isso acontece através de um processo de radicalização em várias etapas ao nível religioso e político, nomeadamente a influência do movimento salafista não jihadista", acrescentou.
O presidente francês, Emmanuel Macron, quer criar legislação para combater a ideologia salafista e debateu o tema, terça-feira, com os chanceleres da Alemanha e da Áustria, países que sofreram ataques terroristas este ano.
Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel defendeu a criação de um instituto europeu para dar formação a pregadores muçulmanos.
"A Europa deveria trabalhar com os países muçulmanos moderados que são nossos aliados e com as comunidades muçulmanas europeias que lutam contra a corrente do salafismo. Isso permitiria marginalizar ou mesmo extirpar a influência atual na comunidade mucurana destes grupos salafistas", sugeriu, por seu lado, Claude Moniquet.
Os ministros da Justiça e da Administração Interna da União Europeia vão debater este tema numa reunião extraordinária, na sexta-feira.