Guerra à Covid-19 na UE: Diferenças entre as vacinas

Programas de vacinação anticovid na União Europeia devem começar em 2021
Programas de vacinação anticovid na União Europeia devem começar em 2021   -  Direitos de autor  AP Photo/David Zalubowski
De  Francisco Marques

Três propostas de vacinas lideram a corrida à autorização da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para começarem a ser usadas nos "27". Vacinação está previsto começar no início de 2021

três propostas de vacina na dianteira da corrida à autorização para entrar na "guerra à Covid-19" na União Europeia. O processo de validação está a decorrer na Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla original, em inglês) e a primeira autorização pode acontecer ao cair do pano de 2020.

Entre as três propostas à beira de serem utilizadas existem diferenças no processo de desenvolvimento e distribuição, com natural impacto no preço final.

Tratamentos propostos e eficácia

Tanto a proposta de vacina da Pfizer/BioNTech como a da Moderna têm por base a manipulação de moléculas de RNA (sigla inglesa para o ácido ribonucleico), a base igualmente do SARS-CoV-2.

O tratamento proposto por ambas as propostas passa, digamos assim, pela divulgação por uma RNA-mensageira de "notícias falsas" ao novo coronavírus, dando ao mesmo instruções às células humanas para anteciparem a defesa à ameaça do SARS-CoV-2.

Uma cópia manipulada da RNA do novo coronavírus é administrada nos pacientes e "informa" o corpo da chegada de um invasor para o qual é necessário gerar proteínas de defesa e lançar anticorpos específicos para neutralizar este invasor.

Ao mesmo tempo que o agente infeccioso recebe um sinal de que as células já estarão infetadas tornando-se menos agressivo e dando ao corpo humano tempo para reagir devidamente..

A proposta Oxford/AstraZeneca baseia-se, por outro lado, no ADN e no uso de um adenovírus inativo e codificado para neutralizar os espinhos que dão nome (coroa) à família deste novo coronavírus e que são usados para infetar as células humanas.

O adenovírus de base nesta vacina é adaptado dos chimpanzés, aos quais provoca ligeiras constipações, e é inofensivo para os humanos, mas revela eficácia no levantamento de imunidade contra o SARS-CoV-2.

Este adenovírus enfraquecido foi codificado para não crescer no corpo humano e o processo de defesa passa pela informação às células para desenvolverem uma proteína similar à dos espinhos e induzirem uma resposta imunitária, permitindo a defesa a um eventual ataque pelo SARS-CoV-2.

As propostas do consórcio Pfizer/BioNTech, a mais próxima da autorização europeia, e a da Moderna apresentam uma taxa de eficácia superior a 90%.

A proposta Oxford/Astrazeneca fixou inicialmente uma média de 70%, mas um erro nos testes com uma dosagem diferente em diversos sujeitos provocou resultados diferentes, abrindo a porta a uma eficácia também na casa dos 90%.

Novos testes estão agora a ser realizados para confirmar a maior eficácia quando a primeira dose é mais reduzida e a segunda é completa. A descoberta está a atrasar um pouco o processo de validação daquele que parece ser a favorita entre as três mais avançadas.

O preço

O preço final é das vacinas é naturalmente influenciado pelo processo de produção, distribuição e administração específico de cada uma.

A proposta Oxford/Astrazeneca está avaliada em cerca de €6 por pessoa contra os €33 da da Pfizer/BioNTech ou os mais de €50 da da Moderna. As três propostas preveem uma dupla dose a cada pessoa.

Infografia Euronews
Variação de custos da vacina por pessoaInfografia Euronews

As condições de transporte, armazenamento e manipulação especializada são mais acessíveis na proposta Oxford/Astrazeneca, uma vacina que pode sobreviver seis meses num frigorífico normal e com uma capacidade de produção estimada de até €3 mil milhões doses em 2021.

A proposta Pfizer/BioNTech é a mais complexa, precisa de temperaturas abaixo dos 70 graus centígrados negativos, o que requere meios de armazenamento e transporte de alta tecnologia, o que obriga também pessoal especializado, podendo ser guardada em casa no máximo cinco dias.

O consórcio entre a empresa norte-americana e a alemã está a tentar desenvolver uma versão liofilizada, isto é, em pó, para estar pronta em 2021 e que pretende possibilitar o transporte e a administração em temperaturas normais.

O consórcio Pfizer/BioNTech, já com autorização de uso da vacina no Reino Unido, prevê ter disponibilizado para todos o mundo 50 milhões de doses no final de 2020 e mais 1,3 mil milhões em 2021.

A da Moderna, a mais cara, tem exigências intermediárias às outras duas, pode manter-se estável entre os dois e os oito graus centígrados, mas o armazenamento a longo prazo exige temperaturas abaixo dos 20 graus negativos.

A produção prevê chegar aos 20 milhões de doses até final do ano e admite produzir até mil milhões de doses 2021.

A União Europeia já garantiu a compra de dezenas de milhões de doses destas três vacinas e, enquanto aguarda a "luz verde" da EMA, está a trabalhar no processo de distribuição pelos Estados-membros.

Portugal tem reservados 22 milhões de doses, com o primeiro lote esperado já a 1 de janeiro.

Além das três propostas mais avançadas, aqui referidas, há outras vacinas em testes por todo o mundo e algumas, apesar da carência de validação internacional, já em uso como, por exemplo, na China e na Rússia.

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