Nova variante do SARS-CoV-2 em Inglaterra dispara alarmes europeus

A Alemanha é o mais recente país europeu a juntar-se ao grupo dos que decidiram suspender as viagens de e para o Reino Unido para tentar evitar importar a nova variante do SARS-CoV-2 descoberta em Inglaterra.
Itália, Bélgica e Países Baixos já tinha anunciado a suspensão das ligações com o Reino Unido.
Outros países europeus como a a Irlanda e a França, que tem também ligação ferroviária à ilha britânica, estão a ponderar interromper igualmente as viagens oriundas do Reino Unido.
Israel também decidiu passar a bloquear a entrada no país de cidadãos estrangeiros oriundos do Reino Unido, assim como da Dinamarca e, tal como a Alemanha, também da África do Sul devido a diferentes mutações do SARS-CoV-2.
Portugal está atento
O Governo português, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, diz estar a acompanhar "com atenção" a situação epidemiológica no Reino Unido, "privilegiando a cooperação estreita entre as autoridades de saúde de ambos os dois países", não colocando para já a hipótese de restringir a circulação de pessoas entre ambos, aguardando por uma posição formal da União Europeia.
Em declarações à Agência Lusa, o virologista Pedro Simas, do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, considerou "pouco provável" que a nova estirpe do coronavírus que tem mantido o mundo refém venha a ter um "impacto gigantesco" nas novas vacinas, mas "é muito precoce estar a especular em relação a isso".
Este domingo, Portugal somou mais 3.334 novas infeções, 71 mortes, 2.419 pessoas recuperadas da infeção e mais 54 doentes internados, para um total de 3.027 hospitalizados, incluindo 483 nos cuidados intensivos.
Até ao momento, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), em Portugal não foi ainda identificado qualquer caso de infeção por esta nova variante do SARS-CoV-2, que as autoridades do Reino Unido alegam ser "mais facilmente transmissível".
A descoberta desta nova estirpe no sul de Inglaterra, e já com pelo menos um caso detetado nos Países Baixos, motivou uma reunião por videoconferência entre o presidente de França, Emmanuel Macron, que está com Covid-19, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Novo nível de risco em Inglaterra
Londres e o sudeste de Inglaterra cumprem este domingo o primeiro dia do novo nível quatro de risco, o mais elevado no Reino Unido e anunciado sábado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, de forma não vinculativa para Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
Nas zonas inglesas de maior risco, as pessoas estão agora obrigadas a ficar em casa e não podem viajar porque a nova estirpe está "descontrolada", assumiu o ministro da Saúde do Reino Unido, em entrevista à Sky News.
A súbita mudança de estratégia anunciada este sábado pelo primeiro-ministro britânico está a gerar protestos mesmo dentro do próprio Partido Conservador. Sobretudo depois de Boris Johnson ter admitido que as novas regras agora implementadas para o Natal podem ficar em vigor durante meses para combater a estirpe do vírus surgida em Inglaterra.
De acordo com jornal Guardian, alguns parlamentares conservadores estão a acusar Johnson de ter deliberadamente atrasado a decisão de colocar milhões de pessoas restringidas pelas regras do nível 4 para evitar o escrutínio do próprio partido.
Já Keir Starmer, o líder do Partido Trabalhista e por conseguinte da oposição, embora concorde com as novas medidas de contenção da epidemia, aponta o dedo a Boris Johnson, cuja gestão da epidemia é categorizada pelos trabalhistas como uma "negligência grosseira".
Entretanto, após muitas pessoas terem fugido sábado à noite das restrições de Londres na sequência do anúncio de Boris Johnson, a polícia britânica reforçou este domingo as equipas nas zonas de maior risco de Inglaterra para garantir o cumprimento das novas regras.
No resto do Reino Unido, a Escócia apertou as medidas para a época festiva, permitindo algum alívio apenas para o dia de Natal; o País de Gales antecipou o confinamento previsto para este domingo; e a Irlanda do Norte manteve a estratégia já delineada anteriormente.