Viver em Chernobyl depois da tragédia

A zona de exclusão de Chernobyl parece terra de ninguém, mas o silêncio imposto pela tragédia de há 35 anos quebra-se todos as manhãs a partir de casa pintada de azul. Yevgeny Markevich tem 85 anos e é um dos poucos habitantes do perímetro da antiga central nuclear.
"Cheguei aqui usando tácticas de guerrilha por três vezes. A primeira vez foi na travessia de barco, outra vez usei uma farda da polícia, e outra ao atravessar clandestino a floresta. Quando se quer algo, não há nada que nos possa impedir," conta Yevgeny Markevich.
Este antigo professor, deu aulas em Chernobyl até à data do acidente, em 1986. Foi obrigado a sair, mas nunca esqueceu a terra que o viu nascer e crescer. Voltou uns meses depois, nos tempos em que o ar ainda tinha o peso das mortes e da destruição.
Para Markevich, "as regras de segurança anti-radiação estão sempre presentes; só é preciso segui-las com rigor". Admite que "a perfeição não é possível e por isso, a dada altura, recebe-se um excesso de radiação ao cometer um erro", mas garante que "na generalidade uma pessoa pode manter-se em segurança" naquela área.
Os investigadores consideram que a zona de exclusão não é segura para habitação permanente. Mais, dizem que não deverá voltar a sê-lo nos próximos séculos. Markevich desconfia do diagnóstico. Conta que cultiva nesta terra legumes que são periodicamente testados e que são considerados seguros.
Diz também que nunca sentiu os efeitos da radiação na saúde. Da vida em chernobyl, só lamenta o isolamento. "É uma grande alegria podermos viver na nossa casa, mas também é triste que não seja como antes, como estávamos habituados," afirma.
A explosão num dos reatores da central nuclear de Chernobyl ocorreu a 26 de abril de 1986.