Presidente da Tunísia: "Com as condições certas, o problema da migração nem se poria"

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De  Aissa BOUKANOUN
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Dez anos depois da revolução que derrubou Ben Ali, o presidente deste país do Magrebe, Kais Saied, falou em exclusivo à euronews sobre migração, terrorismo e Covid-19.

Aissa Boukanoun, Euronews: Está aqui em Bruxelas para uma visita de trabalho, vários temas da maior importância estão sobre a mesa para discussão com altos funcionários europeus, em particular a parceria para a migração. Que estratégia de cooperação tenciona o seu país adoptar em termos de troca de informações sobre partidas ilegais da Tunísia para a Europa?

Kais Saied, Presidente da Tunísia: Falei sobre este tema em muitas ocasiões, sobre a migração ilegal ou irregular. Muitas pessoas falam da solução para resolver o problema com base na questão da segurança, mas é evidente que esta opção não é suficiente para travar a onda migratória. Se esses migrantes ilegais conseguirem cumprir as ambições, viver bem e tornar o seu sonho realidade e tiverem as mesmas oportunidades que os cidadãos da Europa têm nos seus países, a questão da imigração deixa de se levantar. É melhor conhecer as verdadeiras razões da imigração do que analisar o fenómeno. 

Muitos imigrantes ilegais que chegam à Europa vindos da Tunísia e do norte de África são explorados por organizações criminosas que lhes dão facilidades, são sujeitos a fazer trabalho irregular, o que é uma violação dos direitos dos refugiados. Devemos também falar de migração regular de académicos e outros trabalhadores altamente qualificados, por exemplo. No ano passado, quase quinhentos médicos foram para a Europa.

E quanto aos recursos necessários que a Tunísia necessita da UE para combater as redes de tráfico de seres humanos que operam na Tunísia?

É preciso combater essas redes na Tunísia, mas também na Europa. Quem é que os recebe no norte da Tunísia, para que vão trabalhar nos campos ou nas fábricas, nos chamados mercados negros ou sem documentos? Portanto, é necessário combater as redes que traficam seres humanos também dentro da Europa. Não haverá aqui segurança nem paz, a menos que eliminemos as causas que levaram a esta migração ilegal. Alguns dos imigrantes ilegais foram forçados a fazê-lo, porque perderam todo o tipo de esperança, não têm sonhos.

Não haverá aqui segurança nem paz, a menos que eliminemos as causas que levaram à migração ilegal. Alguns dos imigrantes ilegais foram forçados a fazê-lo, porque perderam todo o tipo de esperança, não têm sonhos.
Kais Saied
Presidente da Tunísia

A UE e a Tunísia estabeleceram uma Parceria Privilegiada em 2012. Com este Plano de Ação, é dada prioridade ao desenvolvimento sócioeconómico. Como é possível investir, graças a esta parceria, para criar oportunidades de emprego e combater o desemprego dos jovens na Tunísia?

Existem acordos com vários países europeus e com a UE nesta matéria de criação de emprego para a juventude. Eu disse-lhes que deveríamos fixar um novo mecanismo a fim de construir justiça dentro do mundo.

Os europeus ouviram, quando lhes falaram das dificuldades enfrentadas pela Tunísia na obtenção de vacinas Covid-19 suficientes para reduzir a transmissão do vírus?

Sim, eles ouvem-nos e falo aqui de soluções operacionais. Na Tunísia adotámos inúmeros planos de ação sobre vacinas, mas ainda são insuficientes e ineficazes. Nos últimos dias, recebemos um sinal de alarme vindo das diferentes regiões da Tunísia que sofrem de falta de oxigénio e de material médico, mas conseguimos controlar a situação. Estas situações catastróficas só podem ser tratadas com uma abordagem global e não apenas dentro de um país.

A Tunísia e o terrorismo

Passemos agora ao combate ao terrorismo. Logo após a revolução de 2011, a Tunísia enfrenta um grande recrudescimento de movimentos jihadistas que estão ativos perto das fronteiras com a Líbia e a Argélia. Onde está agora a Tunísia na luta contra estes grupos?

A Tunísia não é um país diariamente alvo do terrorismo, somos um país seguro. Devemos imunizar a nossa sociedade e estabelecer uma plataforma de valor cultural, com o objetivo de proteger as pessoas do envolvimento em terrorismo, que ameaça principalmente as pessoas que são vítimas de uma certa precariedade intelectual.

Devemos imunizar a nossa sociedade e estabelecer uma plataforma de valor cultural, com o objectivo de proteger as pessoas do envolvimento em terrorismo, que ameaça principalmente as pessoas que são vítimas de uma certa precariedade intelectual.
Kais Saied
Presidente da Tunísia

Este ano, assistimos ao estabelecimento de algumas relações oficiais e diplomáticas de países árabes com Israel. Como é que a Tunísia encara este passo?

Respeitamos a liberdade dos países com que lidamos na tomada de decisões, não queremos interferir nas decisões dos Estados, que são livres, mas também somos livres nas nossas decisões.

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