Protesto civil contra o golpe militar em curso no Sudão começou com a repressão de uma manifestação de professores com gás lacrimogéneo
O Sudão cumpre esta segunda-feira o segundo de dois dias de desobediência civil, um protesto contra o golpe militar em curso, organizado por movimentos civis, incluindo a Associação de Profissionais do país, que promete manter a mobilização até que um novo governo totalmente civil seja empossado.
O protesto, que se reflete numa greve nacional de dois dias iniciada domingo, insurge-se contra regime militar no poder desde 25 de outubro, dia em que o general Andel-Fattah al-Buhran dissolveu o executivo de transição democrática, aprisionou diversos membros do Governo, incluindo o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, e assumiu o controlo.
No primeiro dia deste protesto de desobediência civil terá havido repressão militar de uma manifestação com recurso a gás lacrimogéneo.
A France Press conta que dezenas de professores tentaram promover uma manifestação silenciosa junto do Ministério da Eduicação, em Cartum, a capital, mas foram dispersados pelas forças militares.
O sindicato dos professores denunciou a repressão violenta, a detenção de vários manifestantes, mas disse não haver registo de feridos.
Antes, grupos de jovens já tinham levantado barricadas em algumas artérias da capital sudanesa, que tem sido o palco privilegiado das manifestações contra o regime militar no poder.
O Sudão atravessa uma período de transição após a deposição do antigo Presidente Omar al-Bashir, em 2019. Com apoio das Nações Unidas e da União Europeia, um executivo de transição composto por civis.
O bloco europeu tem prestado apoio desde 2016 ao Sudão e aos refugiados que acolhe com "ajudas ao desenvolvimento até €242 mihões", revelava a Comissão Europeia, em junho do ano passado.
"Desde que o governo liderado por civis tomou posse no início de setembro de 2019, a UE disponibilizou €88 milhões de ajuda ao desenvolvimento para apoiar as reformas políticas e económicas e contribuir para a estabilidade e a paz no Sudão", lê-se num comunicado de 20 de junho de 2020.
Os apoios ao Sudão, tanto europeus como norte-americanos, foram suspensos depois da tomada unilateral do poder pelos militares.