Revolta no Cazaquistão já provocou dezenas de mortes após ataques a edifícios estatais

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De  Francisco Marques
Manifestantes enfrentam a polícia em Almaty, Cazaquistão
Manifestantes enfrentam a polícia em Almaty, Cazaquistão   -  Direitos de autor  AP Photo/Vladimir Tretyakov

À entrada para o quinto dia de protestos no Cazaquistão, a notícia das primeiras mortes.

As autoridades anunciaram ter "eliminado" dezenas de agressores durante ataques a edifícios estatais de Almaty, a maior cidade e o centro económico do Cazaquistão, onde têm decorrido os protestos mais incisivos contra a crise económica e energética no país.

"Na última noite, forças extremistas tentaram invadir edifício administrativos, o departamento da polícia de Almaty assim como diretorias distritais e outras esquadras da polícia. Dezenas de agressores foram eliminados e as respetivas identidades estão a ser processadas", afirmou a porta-voz da polícia, ao canal de televisão Khabar-24.

Saltanat Azirbek acrescentou ainda estar em curso uma operação antiterrorismo na zona onde se situam os edifícios administrativos em Almaty e apelou "aos residentes e visitantes para não saírem de casa por motivos de segurança".

Dos dustúrbios resultaram ainda mais de mil feridos, incluindo 400 pessoas que tiveram de ser hospitalizadas, informou o Ministério da Saúde cazaque.

Os protestos começaram no domingo na região de Mangystau, a ocidente, junto ao Mar Cáspio, tendo no alvo da contestação o anunciado aumento do preço do gás natural.

Depois, alastraram a outras cidades, nomeadamente Almaty, no sul, e agravaram-se para uma revolta contra o regime político liderado pelo partido Nur Otan, no poder desde a independência desta antiga república soviética em 1991.

Foi noticiada na terça-feira, pela televisão estatal, a prisão do diretor e de um funcionário de uma central energética de Mangystau, sob acusação de "aumento do preço do gás sem razão".

Na sequência de uma reunião de emergência, o Presidente Kassym-Jomart Tokayev demitiu o primeiro-ministro, declarou Estado de Emergência em Almaty, mais tarde alargado a todo o país, afastou o antecessor Nursultan Nazarbayev da liderança do Conselho de Segurança nacional e começou a tratar a revolta como um ato terrorismo.

Estes grupos terroristas são grupos internacionais. Receberam formação intensiva no estrangeiro e o ataque ao Cazaquistão deve ser visto como um ato de agressão.
Kassym-Jomart Tokayev
Presidente do Cazaquistão

Tokayev já pediu inclusive a ajuda dos aliados na Organização do Tratado de Segurança Coletivo (CSTO, na sigla anglófona), um bloco similar à NATO que integra seis antigas repúblicas soviéticas, incluindo a Rússia.

A CSTO decidiu enviar forças de manutenção de Paz para "estabilizar e normalizar" a situação no Cazaquistão depois do presidente cazaque ter ameaçado os manifestantes com uma forte repressão para travar a revolta, que acabou por ser agravar nas últimas horas. Há relatos de uma intensa troca de tiros.

A agência TASS avança as Forças Aeroespaciais Russas estão a transportar unidades militares da Rússia para o Cazaquistão, como parte do contingente da CSTO

A Internet está limitada no país; as instituições financeiras estão suspensas; todos os voos internos da capital Nur-Sultan para Almaty foram cancelados; e as férias escolares foram prolongadas pelo menos até 17 de janeiro.

De acordo com a TASS, a situação na capital Nur-sultan e em Baikonur, onde se situa o centro espacial russo, mantém-se calma e sob controlo, inclusive com a Internet a funcionar normalmente. A residência do Presidente está a ser protegida por forças especiais.

Os Estados Unidos rejeitaram, entretanto, as acusações de estarem envolvidos na revolta e, tal como as Nações Unidas, apelam à alma no Cazaquistão.

O que é a CSTO?

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, na sigla anglófona) é uma aliança de seis antigas repúblicas soviéticas (Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajisquistão) fundada em fevereiro de 1992 como Forças Armadas Unidas e rebatizada escassos meses depois para Tratado de Segurança Coletiva e tornada, finalmente, CSTO em 2002.

O Usbequistão fez parte dos fundadores e em 1993 juntaram-se também o Azerbaijão e a Geórgia, mas este trio abdicou da aliança em 1999. A aliança é similar à NATO, tem uma base militar e de cooperação entre os estados. A sede está localizada em Moscovo, na Rússia, e anualmente são realizados exercícios envolvendo militares dos aliados.

A atual intervenção no Cazaquistão é a priemira operação num cenário de conflito real para as chamadas Forças de Paz da CSTO.

Site oficial da CSTO