BCE encerra compras de dívida pública e aponta ao fim do "crédito barato"

Mercado de Madrid em meados de maio
Mercado de Madrid em meados de maio Direitos de autor Manu Fernandez/Manu Fernandez
Direitos de autor Manu Fernandez/Manu Fernandez
De  Francisco Marques
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

Pandemia, primeiro, e guerra da Ucrânia, agora e sem fim à vista, continuam a pressionar a economia, mas regulador europeu espera reverter a inflação

PUBLICIDADE

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou o fim das compras de dívida pública em julho e revelou a intenção de aumentar as taxas de juro de referência de forma gradual e sustentada também a partir do próximo mês.

É o fim do chamado "crédito barato" na zona euro, em linha com outros reguladores bancários, como o britânico ou o americano, e influenciado por um "tremor financeiro" que chegou aos 8,1 graus na zona euro: a inflação.

Em comunicado, o BCE explicou que "os especialistas do Eurossistema procederam a uma considerável revisão das projeções de referência para a inflação".

"Essas projeções indicam que a inflação permanecerá indesejavelmente elevada durante algum tempo. Contudo, a moderação dos custos energéticos, o abrandamento das perturbações da oferta relacionadas com a pandemia e a normalização da política monetária deverão conduzir a uma descida da inflação", lê-se no comunicado do regulador bancário da zona euro.

"O conselho do BCE vai garantir que a inflação regresse ao nosso objetivo de 2% a médio prazo. Em linha com a política que temos seguido, pretendemos aumentar as taxas de juro de referência do BCE em 25 pontos na nossa reunião de política monetária de julho. Olhando mais à frente, esperamos aumentar as taxas de juro de referência de novo em setembro", perspetivou Christine Lagarde, a presidente do regulador bancário da zona euro.

A invasão russa da Ucrânia agravou os preços por toda a União Europeia, em especial nos Estados-membros do norte e do leste, os mais próximos da guerra.

A inflação na zona euro chegou a passar dos 8% em maio, um novo recorde, e o BCE prevê fechar este ano com uma taxa de inflação de 6.8%, projetando um abrandamento para 3,5% no próximo ano e para 2,1% em 2024, ainda assim acima do limite desejado dos 2%.

A alta inflação representa um enorme desafio para todos nós.
Christine Lagarde
Presidente do Banco Central Europeu

O regulador bancário da zona euro prepara-se assim para encerrar cerca de uma década com taxas de juro de referência baixas e até negativas, na maior parte deste período.

Agora o BCE prepara-se também para reverter a facilidade dos empréstimos aos bancos, implementada para combater a crise financeira de 2008 e promover o apoio aos consumidores e às empresas durante um período particularmente difícil para o investimento.

Christine Lagarde considera ser neste momento apropriado subir as taxas de juro de forma gradual e sustentada, mas admite flexibilidade no processo ao longo dos próximos meses, tendo também em mente a situação atual provocada primeiro pela pandemia e agora pela guerra sem fim à vista.

Pouco depois do anúncio do BCE da alteração da política financeira da última década, o Fundo Monetário Internacional revelou uma revisão em baixa das previsões de crescimento mundial este ano devido à invasao da Ucrânia, à consequente inflação elevada e ao abrandamento económico da China, ainda fortemente afetada pela Covid-19.

O FMI já tinha reduzido as previsões do crescimento mundial para 3,6% e no fim de julho deve atualizar esse valor agravada por uma "convergência de crises" que poderá conduzir a um apertar um novo apertar financeiro nas principais economias.

Na segunda-feira, já o Banco Mundial havia anunciado uma quebra para 2,9% do crescimento do Produto Interno Bruto Mundial depois de em janeiro, antes da Rússia invadir a Ucrânia, ter estimado uma subida de 4,9%, alertando para uma possível "estagflaxão", o nome dado à combinação de uma estagnação da economia com uma inflação elevada e que pode ser ainda afetado por um aumento do desemprego.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

BCE apresenta Instrumento de Proteção da Transmissão após subir taxas de juro

António Guterres apela para plano urgente de transporte de cereais

Relatório revela que mercado alemão continua a ser o que enfrenta mais dificuldades na Europa