Repressão violenta das manifestações de janeiro contra o aumento do custo de vida sem reflexo aparente nas urnas. Presidente recebe forte apoio, de acordo com resultados preliminares
O presidente Kassym Jomar Tokayev foi reeleito por larga margem nas eleições este domingo no do Cazaquistão.
De acordo com os resultados preliminares divulgados pelos meios de comunicação estatais, Tokaiev consegue 82% dos votos e mantém a liderança do maior país da Ásia central, que assumiu em 2019, sucedendo a Nursultan Nazarbayev, que tinha controlado a nação desde a desagregação da União Soviética em 1991.
A participação nesta eleições terá ficado nos 69,4% e os protestos ocorridos no início deste ano no Cazaquistão contra o aumento do custo de vida não parecem ter tido reflexo nas urnas.
O segundo candidato mais votado, de acordo com a mesma previsão, não terá chegado sequer aos quatro por cento e o anunciado vencedor até terá brincado considerando que o principal adversário teria sido "o voto contra todos" e que este se teria ficado por nuns meros 5,2%.
O escrutínio deste domingo tinha sido antecipado pelo presidente, que tem vindo a mostrar mão de ferro contra os opositores.
Além de ter permitido o uso de armas de fogo para reprimir as manifestações, em que morreram mais de 250 pessoas e nas quais contou com a ajuda da CSTO, a aliança de antigas repúblicas soviéticas similar à NATO e liderada pela Rússia.
Poderia pensar-se que Tokayev estaria alinhado com Putin, mas a verdade é que a invasão da Ucrânia em fevereiro veio provocar receios também no Cazaquistão, que partilha 7.500 quilómetros de fronteira com a Rússia e é casa de cerca de três milhões de russos. Mas não.
Tokayev têm-se mantido afastado de Putin, ao lado de quem manifestou mesmo em junho o desacordo por exemplo pelo reconhecimento do Kremlin das regiões separatistas da Ucrânia, mantendo em simultâneo uma posição de alguma proximidade com a União Europeia, a China e foi mesmo anfitrião do Papa Francisco, líder da Igreja Católica.
Quando o Kremlin decretou uma mobilização parcial de homens para combater na Ucrânia, o Presidente do Cazaquistão abriu as portas do país a quem quisesse deixar a Rússia para fugir à guerra e pediu à população para "cuidar bem deles e garantir-lhes a segurança", recordou a France Press.
Até o principal rival de Tokayev nas eleições presidenciais de 2019, Amirjan Qosanov, considera "um sucesso" a política externa do Presidente cazaque.