Guerra na Ucrânia está a "esgotar reservas" e NATO relança debate das contribuições

A NATO relançou esta quarta-feira, em Bruxelas, o debate sobre o aumento da contribuição dos Estados-membros para a defesa da aliança do Atlântico norte.
Com um intenso apoio militar já há quase um ano à defesa da Ucrânia perante a invasão russa, os aliados começam a revelar preocupação pela redução do respetivo poder dissuasão e defesa.
O apoio à Ucrânia mantém-se consensual, mas não a cedência intensiva a Kiev de armamento de grande calibre, nomeadamente os agora desejados aviões de caça.
Na reunião da NATO desta quarta-feira, o ministro da Defesa dos Estados Unidos disse "ainda" haver "muito por fazer", mas deixou um aviso.
"Mesmo enquanto aceleramos para apoiar a Ucrânia nos meses críticos que se aproximam, devemos todos repor as nossas reservas para reforçar o nosso poder de dissuasão e defesa a longo prazo", afirmou Lloyd James Austin III.
Os ministros da Defesa dos atuais 30 Estados-membros da NATO, onde se inclui Portugal, acordaram em avançar com projetos multinacionais para precaver eventuais carências no respetivo arsenal da aliança dentro o atual contexto global, sublinhado pelo secretário-geral Jens Stoltenberg, para justificar um pedido de mais fundos aos aliados.
"Há uma guerra total em curso na Ucrânia, na Europa. E depois vemos a persistente ameaça terrorista e também os desafios que a China está a colocar à nossa segurança. Por isso, é óbvio que precisamos de gastar mais. A minha ideia é que em vez de mudar os 2%, deveríamos pensar antes em deixar de os ver como teto e passar a ver esses 2% do PIB como o valor de base, o mínimo [da contribuição]", perspetivou Soltenberg.
A ministra da Defesa de Portugal garantiu "apoio à Ucrânia até quando e como for possível", mas chegar aos 2% do PIB na contribuição do país para a NATO só em 2030.
Para já, Portugal antecipou a subida do orçamento para a NATO para 1,6%, valor que estava previsto apenas para 2024, mas a meta dos 2% mantém-se inalterada no final da década, assegurou a ministra Helena Carreiras, em Bruxelas.
A revisão do valor das contribuições dos aliados para a NATO será debatida na cimeira de julho, em Vilnius, na Lituânia.
Prioridade à Ucrânia
Para já, a prioridade é a defesa da Ucrânia perante uma esperada grande ofensiva russa. Dentro de 10 dias, o Kremlin assinala um ano sobre a "operação militar especial", como Vladimir Putin designou a invasão do leste ucraniano, e tem-se falado de uma grande concentração bélica do lado russo da fronteira para avançar nos próximos dias sobre os territórios ucranianos.
Perante os combates em curso, a Ucrânia tem vindo a gastar munições de grande calibre a uma velocidade maior do que aquela a que os aliados as conseguem produzir.
À medida que a Rússia intensifica os ataques no sul e no leste da Ucrânia, a urgência dos soldados ucranianos na linha da frente também aumenta e os recursos começam a escassear.
Estimativas da Defesa norte-americana apontam para que a Rússia esteja a disparar, por dia, 20 mil projéteis de artilharia. Do lado de Kiev, os números são mais modestos, a rondar no máximo os sete mil.
Ainda assim, a indústria ocidental está a ter dificuldade em acompanhar o ritmo da guerra. O conflito, alerta secretário-geral da NATO, está a "esgotar as reservas" dos aliados.
Em Bruxelas, ao lado dos ministros da Defesa da Aliança, Jens Stoltenberg reiterou o apoio da aliança a Kiev e pediu um aumento da produção para acompanhar o esforço bélico da Ucrânia.
"Os aliados da NATO estão a prestar um apoio sem precedentes à Ucrânia, para ajudar a defender o seu direito de autodefesa e, desde o início, temos vindo a trabalhar em estreita colaboração com a União Europeia os termos para apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário", assegurou.
Stoltenberg tem insistido no envio urgente de armamento, peças e combustível para a Ucrânia. Para o secretário-geral da NATO o reforço do exército ucraniano é uma prioridade quando se antevê uma ofensiva de larga escala da Rússia para assinalar de forma simbólica o primeiro aniversário da invasão.
Portugal já afirmou, no entanto, não ter capacidade para responder ao apelo do secretário-geral da NATO. De acordo com a ministra da Defesa, Helena Carreiras, o país não pode fornecer mais armamento à Ucrânia porque tem de equilibrar o auxílio a Kiev com as capacidades portuguesas.