ONG em Itália criticam a Europa por permitir mortes no Mediterrâneo

ONG em Itália criticam a Europa por permitir mortes no Mediterrâneo
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De  Monica Pinna  & euronews

Desde 2017 que não chegavam tantas pessoas a Itália através do Mediterrâneo. Só este ano, já morreram mais de 900 pessoas a tentar fazer a travessia. As ONG temem uma repetição da tragédia de Cutro devido ao endurecimento da legislação italiana.

Mais de 45 mil migrantes desembarcaram em Itália nos primeiros meses de 2023, os números mais elevados desde 2017. Para fazer face à situação, a coligação de centro-direita que governa o país declarou o estado de emergência e renovou o seu pedido à Europa para uma maior solidariedade na gestão dos fluxos migratórios.

O primeiro centro que acolhe quem chega a Lampedusa, cidade que delimita a fronteira mais meridional de Itália, está em colapso. É nessas instalações que os migrantes deveriam passar alguns dias para serem identificados e reencaminhados para os primeiros centros de acolhimento ou de repatriamento. Mas, por vezes, permanecem lá durante meses.

O centro, construído para acolher 400 migrantes, chega a albergar mais de três mil. Segundo as ONG, é o sistema de acolhimento italiano que está desajustado e quem corre maior risco são os menores.

"A partir de 2018, as vagas diminuíram. O sistema de acolhimento de menores ficou sem recursos e, infelizmente, já não consegue garantir resposta a essas necessidades", diz Lisa Bjelogrlich, da Save the Children.

A criminalização das ONG

Alguns naufrágios mudam as políticas. Foi o caso da tragédia de Cutro, na Calábria, que custou a vida a mais de 90 migrantes em fevereiro. O executivo criou legislação mais dura contra os traficantes, mas também endureceu as medidas sobre a questão do acolhimento e do asilo.

A tragédia de Cutro não foi caso isolado e há outros episódios semelhantes à espera de acontecer no Mediterrâneo.

"É cada vez mais evidente que, para não deixarem chegar as pessoas, preferem deixá-las morrer."
Giusi Nicolini
Ex-autarca de Lampedusa

"Devido à retirada dos atores europeus e à criminalização das ONG envolvidas na busca e salvamento, criou-se um enorme vazio nos resgates", afirma Tamino Böhm, da ONG Sea-Watch.

Em janeiro, o governo de Giorgia Meloni impôs um código de conduta mais rigoroso às ONG que operam no terreno, com sanções fortes para quem transgredir. Por exemplo, só é permitido um salvamento antes de regressar a um porto designado.

O barco de salvamento financiado pelo artista de rua Banksy foi retido pelas autoridades durante 20 dias por ter resgatado mais de 180 pessoas em quatro operações de salvamento distintas.

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