Só na sexta-feira, desembarcaram na ilha italiana mais de 1.800 migrantes, elevando para mais de 4 mil as pessoas acolhidas num centro pensado para somente 400
Após um final de semana em que foi batido o recorde de resgates no mar e desembarques em 24 horas na ilha de Lampedusa, o centro de acolhimento desta ilha italiana próxima das águas territoriais da Tunísia ficou numa situação ainda mais crítica.
Os mais de 1.800 migrantes ali chegados durante sexta-feira, em 63 desembarques, elevaram a lotação para lá das 4.120 pessoas, num espaço inicialmente pensado para 400.
As transferências de migrantes sem documentos para outros locais em Itália tem sido a solução para aliviar a pressão sobre o único centro de acolhimento de requerentes de asilo em Lampedusa.
A Euronews esteve com um grupo acabado de chegar ao porto de Empedocle, na Sicília, vindo de Lampedusa. São na maioria migrantes subsarianos que deixaram a Tunísia. alguns, em fuga também da alegada repressão racista pelas autoridades locais.
"Os tunisinos não nos queriam lá. Não gostavam de nós. Não nos sentíamos bem-vindos, por isso viemos-nos embora. Eu não fui deportado para o deserto, os meus amigos é que foram. Sabemos que morreram pessoas lá", contou-nos uma mulher oriunda da Costa do Marfim.
Uma outra disse-nos ter saído "do Burkina Faso por causa da guerra". "Fui para a Tunísia para poder viajar para Itália. Não fiquei lá muito tempo. Foi muito difícil porque eles não gostam de negros", acusou.
Enquanto esperam para embarcar para o destino final, os migrantes em Empedocle veem passar os turistas que acabam de desembarcar naquele mesmo porto.
A Euronews ouviu parte dos residentes de Lampedusa e sentiu neles "opiniões contrastantes".
De forma geral, disseram-nos que agora os desembarques estão a ser melhor geridos pelas autoridades locais, mas a avaliação divide-se. Por um lado, muitos já se habituaram a ver os migrantes a tentar sobreviver pela ilha. Outros tantos mostram-se preocupados com a reputação e a imagem de Lampedusa juntos dos visitantes.
Os primeiros desembarques na ilha foram registados no início da década de 1990.
A hospitalidade está no ADN dos habitantes de Lampedusa e, numa altura em que o centro para migrantes sem documentos ainda não existia, o acolhimento era muitas vezes oferecido pelas famílias residentes na ilha.
Agora, a história é outra e mesmo o número de pessoas oriundas de África a desembarcar sem documentos nesta ilha da União Europeia é avassalador e as transferências para outros locais revelam-se insuficientes para aliviar a pressão sobre Lampedusa.