O correspondente da Euronews na Faixa de Gaza ouviu o relato de um médico das urgências sobre a perigosa missão de trabalhar no meio da guerra Israel-Hamas
A agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos anunciou domingo a morte de 29 colaboradores vítimas de bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza desde 7 de outubro.
O portal Insecurity Insight disponibiliza um mapa onde já registou a morte de pelo menos 40 profissionais de saúde na Faixa de Gaza desde o dia do ataque do Hamas a Israel até esta segunda-feira.
Os profissionais de saúde em Gaza estão na linha da frente da guerra entre o Israel e o grupo palestiniano considerado terrorista pela União Europeia.
Para além dos bombardeamentos, têm de gerir os cortes de energia e a falta de medicamentos para assistir os milhares de feridos vítimas dos bombardeamentos.
Perto de Kahn Younis, no sul do enclave, o médico do serviço de urgência Nour el-Din al-Khatib falou com a Euronews sobre a perigosa missão que tem em mãos.
"A cada dia recebemos casos ainda mais casos difíceis do que no dia anterior. Infelizmente, a maioria dos casos são crianças e mulheres. O meu trabalho aqui é nos cuidados intensivos e no acompanhamento das urgências", conta-nos Nour el-Din al-Khatib.
"A maior parte dos casos" que chegam às mãos deste médico "estão à beira da morte".
"Infelizmente, têm centenas de estilhaços no corpo e não podemos tratá-los ou dar-lhes a devida ajuda médica. Hoje em dia, chegámos a um ponto em que temos de escolher quem vive e quem morre de acordo com a situação e quem pode beneficiar mais de ajuda médica", lamenta o médico das urgência do hospital Nasser.
As equipas médicas locais vivem também num constante medo de que os familiares ou os amigos mais próximos lhes possam surgir pela frente, numa maca, a qualquer momento.
"Se ocorrer um bombardeamento, devido à impossibilidade de nos comunicarmos, a tensão e o medo tomam conta porque qualquer médico pode esperar que um dos membros da família possa estar entre os feridos que chegam ao hospital. E isto já aconteceu muitas vezes. Vários médicos já encontraram familiares entre os mortos e os feridos. É um choque muito, muito difícil", conta-nos Nour El-Din Al-Khatib.
Ele é um dos muitos médicos que prosseguem incansáveis na ajuda às vítimas de uma guerra provocada pelo ataque bárbaro do Hamas, a 7 de outubro, que matou milhares de civis no sul de Israel.