Os eleitores terão em mente a ação da UE quando colocarem o seu voto na caixa nas eleições europeias de junho de 2024?
Nas eleições europeias, os cidadãos vão votar por razões nacionais ou europeias?
Em França, as eleições europeias são apresentadas por alguns como eleições intercalares ou como uma antecipação das eleições presidenciais de 2027.
As eleições europeias “são antes de mais nada eleições intercalares”, diz Jordan Bardella, cabeça de lista do partido de extrema-direita National Rally, que apela à “sanção da Europa de Macron”.
"Se eu estiver na liderança, é claro que vou pedir a dissolução da Assembleia Nacional nessa mesma noite", disse Jordan Bardella numa entrevista à RTL. Mas isso não passa de um desejo, porque, segundo a Constituição francesa, só o Presidente da República pode tomar essa decisão.
"Sim, as eleições europeias de 2024 vão abrir caminho para as eleições presidenciais de 2027", disse Jean-Luc Mélenchon, que concorre a um lugar não elegível na lista da France insoumise.
Eleições nacionais de segunda ordem
Um ano após as primeiras eleições europeias, em 1979, os investigadores Karlheinz Reif e Hermann Schmitt descreveram o escrutínio como uma "eleição nacional de segunda ordem". Consideradas de pouca importância, permitiriam às forças políticas avaliar a sua popularidade a nível nacional, sobretudo se fossem realizadas a meio do mandato presidencial. Além disso, os investigadores descrevem as eleições europeias como "nacionais" porque são organizadas a nível nacional, de acordo com regras nacionais, e opõem candidatos nacionais a candidatos nacionais sobre questões nacionais. O método de votação, o dia da votação e a idade legal para votar ou candidatar-se diferem de um Estado-Membro para outro.
No entanto, vários estudos observaram o aparecimento de atitudes europeias relativamente às eleições para o Parlamento Europeu. Céline Belot e Virginie Van Ingelgom, por exemplo, mostram a existência de uma escolha eleitoral baseada em posições europeias nas eleições europeias de 2014.
Compras conjuntas de equipamento médico e vacinas durante a pandemia de Covid-19, adoção de sanções contra Moscovo na sequência da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia...
Será isto suficiente para dar mais visibilidade às questões europeias nas eleições de 9 de junho? Nada é menos certo, segundo o analista, porque o trabalho das instituições europeias continua a ser pouco conhecido do grande público.
Eleições nacionais
Este ano, as questões europeias poderão ser ofuscadas pelas questões nacionais nas eleições europeias, enquanto a atenção de muitos países é desviada por outras eleições. Em 2024, estão a ser organizadas cerca de dez eleições nacionais na União Europeia. Na Bélgica, as eleições federais e regionais realizar-se-ão no mesmo dia que as eleições europeias, 9 de junho. Na Finlândia, na Eslováquia, na Lituânia e na Roménia, realizam-se eleições presidenciais em 2024, enquanto em Portugal, na Áustria e na Croácia, os eleitores são chamados às urnas para eleições legislativas.
As eleições europeias podem também ser uma oportunidade para os partidos no poder ou na oposição avaliarem a sua popularidade antes de futuras eleições.
Na Polónia, as eleições legislativas de outubro provocaram uma mudança de governo após a derrota do partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS) e a vitória da Coligação Cívica liderada por Donald Tusk. "Para o partido Lei e Justiça, que foi derrotado no outono, esta é também uma oportunidade para retomar o caminho a nível nacional", afirma Eric Maurice.
A mesma análise é válida para a República Checa, onde o partido do antigo primeiro-ministro Andrej Babis, que perdeu as últimas eleições presidenciais, está à frente nas eleições europeias, segundo algumas sondagens. "Para ele, é também a perspetiva de voltar ao poder, talvez nas próximas eleições presidenciais", analisa Eric Maurice.
Prevalecem as preocupações nacionais
Em França, as questões nacionais prevalecem sobre as questões europeias para metade dos inquiridos, segundo uma sondagem da Ipsos realizada para o "Le Monde", o Cevipof, a Fondation Jean Jaurès e o Institut Montaigne.
53% dos franceses inquiridos afirmaram que teriam em conta "sobretudo as propostas dos partidos sobre questões nacionais" para determinar a sua escolha de voto, e 47% sobre questões europeias.
Além disso, 52% dos franceses inquiridos afirmaram que "votariam sobretudo para manifestar o seu apoio ou oposição ao Presidente da República ou ao seu governo".
De acordo com o estudo, a europeização das preocupações está socialmente dividida.
"Em certos círculos - estou a pensar em particular nos trabalhadores de colarinho branco, nos executivos e nos trabalhadores com menos de 50 anos - há uma consciência de que a Europa é mais do que algo distante em Bruxelas ou Estrasburgo", explica Pascal Perrineau, que contribuiu para o estudo. "Por outro lado, em certos círculos mais afastados da Europa - estou a pensar nos operários, nos empregados, nos desempregados (...) as preocupações nacionais sobrepõem-se muitas vezes às preocupações europeias", explica o autor de "O gosto pela política" (Éditions Odile Jacob).
Em contrapartida, as questões europeias, como a imigração, a Política Agrícola Comum e o apoio à Ucrânia, também estão a entrar nas eleições nacionais.
Além disso, as questões nacionais e europeias estão tão interligadas que, por vezes, é difícil separá-las.