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Mais uma morte na Nova Caledónia. França acusa Azerbaijão de fomentar a violência no arquipélago

Guardas franceses patrulham as ruas de Noumea, na Nova Caledónia
Guardas franceses patrulham as ruas de Noumea, na Nova Caledónia Direitos de autor AP Photo
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De  Manuel Ribeiro Euronews com AP
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O número de incidentes registados no território francês da Nova Caledónia diminuiu ligeiramente na sexta-feira, mas novos tumultos no sábado causaram a morte de uma pessoa. A sexta vítima mortal desde que começaram os violentos protestos.

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Depois da aparente calma de sexta-feira, as forças de segurança francesas registaram no sábado mais uma morte em novos confrontos armados no território francês da Nova Caledónia, no Pacífico, a sexta vítima mortal numa semana de violentos distúrbios que assolam o arquipélago.

A pessoa foi morta numa troca de tiros numa das muitas barricadas improvisadas que bloqueiam as estradas da ilha, disse um oficial de segurança que falou sob condição de anonimato porque não estava autorizado a discutir a situação publicamente. 

Duas outras pessoas ficaram gravemente feridas no confronto, disse a mesma fonte, confirmando as informações da imprensa francesa. O oficial disse que o tiroteio teve início num bloqueio no norte da ilha principal, em Kaala-Gomen.

O Le Monde e outros meios de comunicação franceses reportaram que a vítima mortal é um adulto e que o seu filho estava entre os feridos.

Na sexta-feira, as autoridades francesas na Nova Caledónia e o Ministério do Interior em Paris disseram que cinco pessoas, incluindo dois polícias, foram mortas desde segunda-feira. A confirmar-se a vítima mortal, registada nas últimas horas, o número total de mortos subirá para seis. Dois membros da comunidade indígena Kanak também estão entre as vítimas

O Alto Comissário Louis Le Franc, representante da República Francesa no arquipélago, anunciou medidas rigorosas no âmbito do estado de emergência, que vigorará durante pelo menos 11 dias, com um recolher obrigatório das 18h00 às 06h00. As forças militares francesas foram destacadas para proteger os portos e aeroportos e libertar as tropas da polícia.

Cerca de 1.000 agentes foram destacados por Paris para reprimir os tumultos que começaram na terça-feira, na Nova Caledónia, na sequência das novas reformas aos cadernos eleitorais apresentadas pelo Eliseu que administra aquele território com 270 mil habitantes. 

“As exceções a este recolher obrigatório incluem o pessoal dos serviços públicos essenciais, as deslocações médicas urgentes e as actividades nocturnas essenciais”, declarou Le Franc.

As infrações ao recolher obrigatório implicam penas até seis meses de prisão e uma multa, acrescentou o diplomata francês destacado para administrar o arquipélago situado na Oceânia.

Violência na Nova Caledónia, ilha no Pacífico administrada pela França
Violência na Nova Caledónia, ilha no Pacífico administrada pela FrançaKevin S. Vineys/AP

Le Franc anunciou que os reforços vão focar-se em recuperar o controlo das zonas da capital territorial, Noumea, incluindo Kamere, Montravel e partes de La Vallée du Tir. "Os reforços vão “controlar as zonas que nos escaparam nos últimos dias”, assegurou.

Centenas de militares e polícias chegaram à Nova Caledónia

Exército francês a caminho da Nova Caledónia.
Exército francês a caminho da Nova Caledónia.Etat Major des Armees via AP

As estradas estão cheias de destroços e os veículos blindados patrulham as ruas. É o pior surto de violência na Nova Caledónia desde os anos 80, com as avenidas ladeadas de palmeiras em Noumea transformadas em campos de batalha.

O primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, disse que seriam enviadas para a Nova Caledónia cerca de 1.000 forças de segurança adicionais, a juntar às 1.700 já presentes, e que as autoridades iriam insistir nas “penas mais duras para os desordeiros e saqueadores”.

Entretanto, o governo francês proibiu o TikTok por considerar que a rede social estava a ser utilizada pelos manifestantes, afirmou o Ministro do Interior francês, Gérald Darmanin. A empresa que detém a plataforma social considerou a medida de “lamentável”.

Thierry de Greslan, representante do hospital de Noumea, mostrou-se preocupado com a deterioração da situação, agravada pelos bloqueios de estradas na cidade.

“Estimamos que três ou quatro pessoas possam ter morrido devido à falta de acesso a cuidados médicos”, disse de Greslan que mostra ainda preocupação com cerca de 50 doentes em diálise que não puderam receber os seus tratamentos.

“Estamos a ter grandes dificuldades em trazer os nossos doentes e profissionais de saúde. As equipas estão a trabalhar desde segunda-feira e estão exaustas", afirmou.

O número de visitas às salas de emergência diminuiu significativamente, com uma redução de 50% recentemente e de 80% na quinta-feira. “Estamos numa situação de guerrilha urbana com ferimentos de bala todas as noites”, disse de Greslan.

As salas de operações do hospital estão a funcionar 24 horas por dia e, embora o pessoal esteja preparado para crises imediatas, de Greslan mostrou-se preocupado com o futuro.

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“Estamos prontos para enfrentar esta situação, mas preocupa-me o efeito de ricochete nos doentes que não estão a receber cuidados e que estão extremamente stressados”, afirmou.

Comunidade indigena opõe-se à alteração dos cadernos eleitorais

Manifestantes seguram bandeiras de Kanak e da Frente Socialista de Libertação Nacional em Paris.
Manifestantes seguram bandeiras de Kanak e da Frente Socialista de Libertação Nacional em Paris.AP Photo/Thomas Padilla

Na terça-feira, os legisladores franceses aprovaram alterações à Constituição francesa que permitirão aos residentes que vivem no arquipélago há 10 anos votarem nas eleições provinciais. Os apoiantes da independência argumentam que esta alteração vai marginalizar ainda mais a comunidade Kanak, que representa cerca de 40% da população.

A reforma dos cadernos eleitorais tem ainda de ser aprovada por uma sessão conjunta das duas câmaras do parlamento francês. Macron indicou que os legisladores votarão a adoção da alteração constitucional até ao final de junho, a menos que as partes em conflito da Nova Caledónia consigam chegar a um novo acordo.

Uma videoconferência entre Macron e os deputados da Nova Caledónia, prevista para quinta-feira, foi cancelada porque “os diferentes intervenientes não quiseram falar uns com os outros”, informou o seu gabinete da Presidência.

Entretanto, as autoridades detiveram cerca de 200 dos cerca de 5.000 desordeiros e as forças de segurança colocaram em prisão domiciliária cinco supostos ativistas independentistas acusados de organizar a violência. Sessenta e quatro dos feridos são agentes das forças de segurança.

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Ingerência do Azerbaijão?

O ministro do Interior francês acusou o Azerbaijão de interferência na sequência das visitas de vários líderes independentistas, uma alegação que foi negada pelo governo de Baku.

Numa entrevista a um canal de televisão francês, Darmanin afirmou que “não é uma fantasia, mas uma realidade” que certos líderes pró-independência na Nova Caledónia tenham “feito um acordo” com o Azerbaijão.

O ministro insistiu ainda que o governo francês não permite que outros interfiram nos territórios do seu país.

“Mesmo que haja tentativas de interferência [...] A França é soberana no seu próprio território", disse Darmanin.

Os diplomatas do Azerbaijão rejeitaram a alegação, emitindo um comunicado em que classificam a declaração de Darmanin como “infundada” e “uma campanha de difamação”.

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“Negamos qualquer ligação entre os líderes da luta de libertação da Caledónia e o Azerbaijão”, insistiram.

As relações entre a França e o Azerbaijão têm sido difíceis desde há algum tempo. A França alberga uma grande diáspora arménia e tem assumido uma posição dura contra o Azerbaijão quando este tentou retomar o controlo da região disputada do Nagorno-Karabakh em 2023, provocando a fuga de milhares de arménios.

A posição da França em relação a esse conflito foi mencionada na declaração que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão emitiu depois de Darmanin ter feito as suas observações.

“Mais uma vez, condenamos veementemente as expressões insultuosas do lado francês contra o Azerbaijão e apelamos a que cessem a campanha de difamação contra o Azerbaijão com acusações inaceitáveis, como o massacre de arménios”, lê-se na declaração:

“Seria mais apropriado que o ministro francês do Interior recordasse a história do seu país, que cometeu crimes contra a humanidade contra os povos locais e assassinou brutalmente milhões de pessoas inocentes no âmbito da sua política colonial aplicada durante muitos anos. 

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Além disso, em vez de acusar o Azerbaijão de alegadamente apoiar os protestos pró-independência na Nova Caledónia, o Ministro do Interior de França deveria centrar-se na política falhada do seu país em relação aos territórios ultramarinos que conduziu a esses protestos.

Apelamos mais uma vez à França para que deixe de fazer afirmações sem fundamento contra o nosso país”.

Povo Kanak quer a independência

A Nova Caledónia tornou-se francesa em 1853, sob o reinado do imperador Napoleão III, sobrinho e herdeiro de Napoleão. Tornou-se um território ultramarino após a Segunda Guerra Mundial, tendo sido concedida a cidadania francesa a todos os Kanaks em 1957.

Há décadas que as tensões se instalaram entre os indígenas Kanaks, que procuram a independência, e os descendentes dos colonizadores, que querem que a ilha continue a fazer parte da França.

As pessoas de ascendência europeia na Nova Caledónia, que durante muito tempo serviu de colónia-prisão de França - e que agora tem uma estratégica base militar francesa, distinguem-se entre os descendentes dos colonos e os que têm ascendência sobre os prisioneiros enviados à força para o território.

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Em 1988, foi celebrado um acordo de paz entre as fações rivais. Uma década mais tarde, a França prometeu conceder à Nova Caledónia poder político e ampla autonomia e realizar até três referendos sucessivos sobre o futuro da ilha.

Os referendos foram organizados entre 2018 e 2021 e a maioria dos eleitores optou por manter a Nova Caledónia como parte de França, em vez de apoiar a independência.

O povo Kanak, pró-independência, rejeitou os resultados do último referendo de 2021, que boicotou por ter sido realizado no auge da pandemia do coronavírus.

*atualizado às 15h00

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