Hegseth já foi questionado sobre a instalação de uma conexão à Internet não segura no seu gabinete, que contornou os protocolos de segurança do Pentágono, e sobre as revelações de que partilhou pormenores sobre os ataques militares dos EUA em várias conversas no Signal.
O Pentágono está a investigar se foi pedido a algum dos colaboradores do secretário da Defesa, Pete Hegseth, que apagasse mensagens no Signal que pudessem conter informações militares sensíveis que terão sido partilhadas com um jornalista, segundo duas pessoas familiarizadas com a investigação e documentos analisados pela Associated Press (AP).
O pedido feito pelo Inspetor-Geral do Departamento de Defesa centra-se na forma como a informação sobre os ataques aéreos dos EUA a alvos Houthi no Iémen, a 15 de março, foi partilhada através da aplicação de mensagens.
Além de tentar descobrir se foi pedido a alguém que apagasse mensagens no Signal, o inspetor-geral também está a inquirir alguns funcionários, antigos e atuais, que estavam com Hegseth no dia dos ataques, de modo a tentar perceber quem publicou as informações e quem tinha acesso ao seu telefone.
Os legisladores democratas e um pequeno número de republicanos afirmaram que as informações que Hegseth publicou nos chats no Signal antes de os jatos militares terem atingido os seus alvos poderiam ter posto em risco a vida dos pilotos e que, no caso de qualquer militar de baixa patente, teriam levado ao seu despedimento.
Hegseth afirmou que nenhuma das informações partilhadas era confidencial.
Mas atuais e antigos oficiais militares disseram que não há forma de detalhes com essa especificidade, especialmente antes de um ataque ocorrer, terem tido autorização para ser partilhados num dispositivo não seguro.
“Eu disse repetidamente que ninguém está a enviar mensagens de texto com planos de guerra”, disse Hegseth à Fox News, em abril, depois de ter surgido uma reportagem sobre a conversa, que incluía membros da sua família.
“Eu olho para planos de guerra todos os dias. O que foi partilhado através do Signal, na altura e agora, seja como for que o caracterizem, tratavam-se de coordenações informais e não classificadas, para coordenações com os meios de comunicação social e outras coisas. Foi isso que eu disse desde o início.”
A notícia da iminente investigação surge numa altura em que Hegseth deverá testemunhar perante o Congresso, na próxima semana, pela primeira vez desde a sua audiência de confirmação.
É provável que seja confrontado com perguntas sob juramento, não só sobre a forma como lidou com informações sensíveis, mas também sobre a turbulência geral no Pentágono, na sequência da saída de vários assessores de alto nível e de uma investigação interna sobre fugas de informação.
Questões de segurança no Pentágono
Hegseth já foi questionado sobre a instalação de uma conexão à Internet não segura no seu gabinete, que contornou os protocolos de segurança do Pentágono, e sobre as revelações de que partilhou pormenores sobre os ataques militares dos EUA em várias conversas no Signal.
Uma das conversas incluía a sua mulher e o seu irmão, enquanto a outra incluía os principais responsáveis pela segurança nacional na administração Trump e, inadvertidamente, o editor-chefe do The Atlantic, Jeffrey Goldberg.
O secretário de imprensa do Pentágono, Kingsley Wilson, não fez qualquer comentário esta sexta-feira, invocando a investigação pendente.
O gabinete do inspetor-geral não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da AP.
O presidente dos EUA, Donald Trump, deixou claro que Hegseth continua a ter o seu apoio, dizendo, durante um discurso no âmbito do Memorial Day, no Cemitério Nacional de Arlington, na Virgínia, que o secretário da Defesa “passou por muito”, mas “está a sair-se muito bem”.
Hegseth tem limitado os seus compromissos públicos com a imprensa desde a polémica do Signal. Ainda não organizou qualquer briefing a jornalistas no Pentágono e o seu porta-voz só deu uma conferência de imprensa.
O inspetor-geral está a investigar Hegseth a pedido do presidente republicano da Comissão de Serviços Armados do Senado, o senador Roger Wicker, do Mississippi, e do principal democrata da Comissão, o senador Jack Reed, de Rhode Island.
O Signal é uma aplicação disponível ao público que permite comunicações encriptadas, mas pode ser pirateada e não está aprovada para a veiculação de informações confidenciais.
No dia 14 de março, um dia antes dos ataques dos EUA no Iémen, o Departamento da Defesa alertou os funcionários para a vulnerabilidade da aplicação.
Trump disse que a sua administração tinha como alvo os Houthis devido à sua "campanha implacável de pirataria, violência e terrorismo".
Observou ainda a interrupção que os ataques Houthi causaram no Mar Vermelho e no Golfo de Aden, vias navegáveis fundamentais para o transporte de energia e de carga entre a Ásia e a Europa através do Canal do Suez, no Egito.
Os Houthis atacaram mais de 100 navios mercantes com mísseis e drones, afundando dois navios e matando quatro marinheiros, entre novembro de 2023 e janeiro deste ano.
Os seus dirigentes descreveram os ataques como tendo por objetivo pôr fim à guerra israelita contra o Hamas em Gaza.