O discurso mediático, tanto em Israel como no Irão, sugere que estão envolvidos num conflito por vezes descrito como "existencial" e, neste contexto, a influência das crenças religiosas contribui para moldar as narrativas das "batalhas do fim dos tempos" que alguns acreditam estar a travar.
O movimento religioso judaico em Israel e o movimento islamista xiita no Irão desempenham um papel na promoção destas projeções, levantando questões sobre até que ponto afetam a natureza do conflito entre os dois lados.
Desde o sucesso da Revolução Islâmica no Irão, liderada por Ruhollah Khomeini em 1979, o discurso religioso emergiu como um elemento-chave na definição das políticas do Estado.
Este discurso baseava-se na visão de que "o Islão não é apenas uma religião espiritual, mas um sistema abrangente que regula os assuntos da vida", incluindo a política e a governação.
A medida em que esta visão se refletia nas políticas da República Islâmica era clara, especialmente na formação da doutrina militar da Guarda Revolucionária, cujas divisões tinham nomes com temas religiosos, como "Unidade Khatam al-Anbiya" e "Unidade Imam Hussein", bem como nas ideologias.
De acordo com a literatura da Guarda Revolucionária do Irão, o seu objetivo é "preparar o terreno para o aparecimento do esperado Mahdi", um descendente do Profeta Maomé, cujo aparecimento xiitas e sunitas acreditam que combaterá a injustiça e "encherá a terra de justiça depois de esta ter sido preenchida com injustiça". Esta crença é um dos principais motores das políticas do Irão, especialmente no que se refere ao reforço das suas capacidades militares e do seu papel regional.
Sunitas e xiitas partilham também a crença no regresso do Messias, que desempenhará um papel de apoio à criação de um Estado de justiça. No entanto, os xiitas acreditam que a "preparação para o aparecimento do Mahdi", como o expressam, exige a construção de fortes capacidades militares, o que se reflete nas atuais políticas do Irão.
O líder do Irão, Ali Khamenei, exprimiu esta ideologia dizendo: "Hoje queremos trabalhar e esforçar-nos por conseguir o governo do esperado Imã e devemos preparar-nos para o estabelecimento do governo da justiça divina liderado pelo Imã Mahdi, que encherá a terra de justiça".
Israel e o discurso religioso
Por outro lado, algumas narrativas religiosas judaicas em Israel reforçam a narrativa do conflito como parte das "batalhas do fim dos tempos". Uma dessas narrativas está relacionada com a chamada "maldição da oitava década", que sugere que os Estados judeus da história nunca ultrapassaram um período de 80 anos antes do seu colapso.
Nos 77 anos desde a fundação do moderno Estado de Israel, estes receios estão a ressurgir entre alguns grupos religiosos, acrescentando pressão psicológica e religiosa ao debate político do país.
Anteriormente, o antigo primeiro-ministro israelita Naftali Bennett afirmou: "O nosso Estado já se desintegrou duas vezes devido a conflitos internos; a primeira vez quando tinha 80 anos e a segunda vez com 77 anos. Estamos a viver a nossa terceira era e a aproximarmo-nos da oitava década, e estamos todos a enfrentar um verdadeiro teste. Seremos capazes de preservar o nosso Estado?", rematou.