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Trump e Sánchez alimentam debate sobre imigração em Espanha: ruína ou motor da economia?

Migrantes africanos após a sua chegada à costa da ilha de Gran Canaria, em Espanha, no domingo, 1 de novembro de 2020.
Migrantes africanos após a sua chegada à costa da ilha de Gran Canaria, em Espanha, no domingo, 1 de novembro de 2020. Direitos de autor  AP/Javier Bauluz
Direitos de autor AP/Javier Bauluz
De Rafael Salido
Publicado a
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Apesar das declarações de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU onde disse que a imigração está a "arruinar" a Europa, os dados mostram que os estrangeiros se tornaram uma parte fundamental da economia espanhola.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou esta terça-feira, na Assembleia Geral da ONU, um duro ataque à imigração na Europa, acusando-a de "destruir" o património cultural e "arruinar" as economias do Velho Continente. Um discurso que contrasta com a visão expressa um dia antes pelo chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, que defendeu o papel da imigração como "motor" de emprego e crescimento.

"Os vossos países estão a falir", gritou Trump durante o seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas. "Se não impedirem a entrada de pessoas que nunca viram, com as quais não têm nada em comum, o vosso país vai falir".

Na segunda-feira, Pedro Sánchez transmitiu uma mensagem diametralmente oposta durante o seu discurso na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde afirmou que a imigração é "uma fonte de esperança" e "um motor de crescimento". "Para nós, a migração não é uma fonte de medo e de ameaça, mas sim de esperança e de oportunidade".

Para além das declarações políticas, é uma realidade que a imigração em Espanha cresceu fortemente em 2024 e está a ter um impacto direto na economia e no mercado de trabalho. Mas será este impacto negativo ou positivo? A Euronews analisa os dados.

Crescimento da imigração em Espanha

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística de Espanha (INE), a 1 de janeiro de 2024, a população nascida no estrangeiro representava 18,2% do total em Espanha, enquanto os residentes estrangeiros representavam 13,37% da população. As comunidades com a percentagem mais elevada são as Ilhas Baleares, as Ilhas Canárias, Madrid, a Catalunha, a Comunidade Valenciana e Melilla.

Os principais países de origem são Marrocos, Colômbia, Venezuela, Roménia e Peru. Só em 2023, os grupos provenientes da Colômbia (+140.961 pessoas), Venezuela (+80.851) e Marrocos (+66.521) registaram os maiores aumentos, segundo o INE.

O fenómeno migratório inclui também um aumento das chegadas irregulares. O Ministério do Interior registou 63.970 entradas irregulares em 2024, mais 12,5% do que no ano anterior. Destas, 46.843 pessoas chegaram às Ilhas Canárias, sendo a rota atlântica a mais utilizada, com 73% dos casos. Apesar da pressão sobre os sistemas de acolhimento, estes números não têm um peso comparável ao da imigração regular, que não pára de crescer.

Impacto da imigração no mercado de trabalho

No mercado de trabalho, o contributo dos trabalhadores estrangeiros tem sido decisivo. De acordo com o Ministério da Inclusão, Segurança Social e Migração, citado pelo La Moncloa, no final de 2024 havia 2,88 milhões de filiados estrangeiros, um recorde histórico e mais 7,9% do que no ano anterior. Representam 13,47% do número total de filiados e um em cada quatro contratos assinados em 2024 correspondia a pessoas de origem estrangeira, de acordo com os dados da SEPE.

Apesar disso, a taxa de desemprego da população imigrante continua a ser superior à média: 15,79% contra 10,61% no total, de acordo com o Inquérito às Forças de Trabalho. As diferenças são também visíveis por sector: a presença dos imigrantes é especialmente forte nos setores da hotelaria e restauração, da construção civil, do comércio e da agricultura, onde, em alguns casos, ocupam entre 45% e 80% dos novos postos de trabalho, segundo cálculos do centro de análise FUNCAS.

Este grupo de reflexão alerta também para o facto de a imigração ter sido responsável por 84% do crescimento da população espanhola entre 2022 e 2024 e de, no mesmo período, 40% dos novos postos de trabalho terem sido ocupados por estrangeiros. Sem esta contribuição, o mercado de trabalho teria tido sérias dificuldades em responder à forte procura de mão de obra.

Paralelamente, o emprego total atingiu um máximo histórico de 21,8 milhões em 2024, com 468 000 novos postos de trabalho criados no ano. A taxa de desemprego fechou num mínimo histórico de 10,6%, de acordo com os dados do INE.

Estes dados pintam um quadro complexo: embora persistam desafios de integração, a imigração está a consolidar-se como um pilar da recuperação económica em Espanha.

Em contraste com a narrativa de Trump na ONU, que descreve a imigração como um "monstro de duas caudas" que ameaça a Europa, a experiência espanhola aponta noutra direção: a imigração não está a "arruinar" o país, mas sim a sustentar a sua demografia e a reforçar o seu mercado de trabalho num contexto de envelhecimento da população.

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