O diretor-geral da BBC e a diretora executiva de notícias da estação britânica demiiram-se após ter ficado provada a edição de imagem e áudio numa reportagem que deturpou o discurso de Donald Trump no Capitólio a 6 de janeiro de 2021.
O diretor-geral da BBC, Tim Davie, e a presidente executiva da BBC News, Deborah Turness, demitiram-se no domingo na sequência da polémica que assola a estação e uma reportagem sobre Donald Trump.
Em causa está uma reportagem no programa "Panorama", cuja edição das palavras de Donald Trump deturpou o discurso do presidente dos Estados Unidos no Capitólio a 6 de janeiro de 2021.
A polémica foi exposta pelo The Telegraph, que revela um clipe daquele episódio, que parece mostrar diferentes partes do discurso de Trump editadas numa única citação. "Vamos caminhar até ao Capitólio... e eu estarei lá com vocês. E vamos lutar. Vamos lutar com unhas e dentes". Na verdade, as frases ali juntas, foram proferidas com uma hora de intervalo sendo que a junção parecia incentivar explicitamente os distúrbios no Capitólio, quando, na verdade, apelava a manifestações pacíficas.
No seu discurso em Washington DC, em 6 de janeiro de 2021, Trump disse: "Vamos caminhar até ao Capitólio e vamos aplaudir os nossos bravos senadores e congressistas". A expressão "lutamos com unhas e dentes" foi proferida cerca de 50 minutos após as primeiras declarações, mas sem fazer referência ao Capitólio.
O programa foi emitido cinco dias antes das eleições de 5 de novembro de 2024.
O escândalo rebentou depois de a edição britânica do The Telegraph ter obtido uma nota do ex-jornalista e conselheiro da BBC Michael Prescott dirigida à direção da empresa de comunicação social. Nela, acusava o seu antigo empregador de ter deliberadamente deturpado as palavras de Trump. Prescott, antigo consultor externo independente do comité de normas editoriais da estação, que deixou o cargo em junho, indicou que os executivos da BBC ignoraram os seus avisos e rejeitaram várias queixas.
Numa carta aos funcionários, Tim Davie disse que deixar o cargo após cinco anos era uma decisão inteiramente pessoal.
"No geral, a BBC está a ter um bom desempenho, mas houve alguns erros e, como diretor-geral, tenho de assumir a responsabilidade final", afirmou o diretor-geral da estação que agora se demite, afirmando que estava "a trabalhar com a Direção para definir os prazos exatos, de modo a permitir uma transição ordenada para um sucessor nos próximos meses".
Já Deborah Turness alegou que a controvérsia sobre o documentário sobre Trump "atingiu um ponto em que está a causar danos à BBC — uma instituição que eu amo. Como CEO da BBC News and Current Affairs, a responsabilidade é minha".
"Na vida pública, os líderes precisam de ser totalmente responsáveis, e é por isso que estou a demitir-me", reforçou a jornalisys numa nota aos funcionários. "Embora tenham sido cometidos erros, quero deixar absolutamente claro que as recentes alegações de que a BBC News é institucionalmente tendenciosa são falsas."
Trump agradece a publicação por expor "jornalistas corruptos"
Em reação, Donald Trump publicou um link para a reportagem do The Telegraph na sua rede social Truth Social, agradecendo ao jornal "por expor esses ‘jornalistas’ corruptos. São pessoas muito desonestas que tentaram interferir nas eleições presidenciais".
A pressão sobre os principais executivos da emissora tem aumentado desde que o jornal conservador Telegraph publicou partes de um dossiê compilado por Michael Prescott.
Além da edição sobre Trump, o dossiê criticava a cobertura da BBC sobre questões transgénero e levantava preocupações sobre o viés anti-Israel no serviço árabe da BBC.
A BBC, com 103 anos, enfrenta um escrutínio maior do que outras emissoras — e críticas de seus rivais comerciais — devido ao seu status de instituição nacional financiada por uma taxa anual de licença de 174,50 libras (US$ 230) paga por todas as famílias com televisão.
O presidente da BBC, Samir Shah, deverá apresentar esta segunda-feira um pedido de desculpas por escrito a uma comissão parlamentar.