1 de abril: De onde vem a tradição das "petas"?

1 de abril, Dia dos Tolos
1 de abril, Dia dos Tolos Direitos de autor Shutterstock
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De  David MouriquandRicardo Figueira
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Esparguete a crescer nas árvores ou aviões que batem as asas: Este é o dia em que a Comunicação Social está autorizada a servir-nos "fake news". Mas de onde vem esta tradição?

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Pode não ser feriado nacional (para tristeza de muitos), mas o Dia das Mentiras (conhecido em vários países como Dia dos Tolos) é celebrado todos os anos em várias partes do mundo a 1 de abril.

Conhecido por dar às pessoas um livre-trânsito para enganar os parceiros, amigos, famílias, colegas e quase todos, o dia é visto como uma oportunidade para enganar os mais crédulos a acreditarem nas coisas mais extravagantes.

Assim, os amantes de partidas regozijam-se e os avessos às parvoíces têm de aguentar. Mas quais são as origens deste dia e como é que os países europeus celebram este festival de loucuras?

Aqui está tudo o que precisa de saber.

O que é o Dia das Mentiras?

O dia consiste em pregar partidas ou contar mentiras aos amigos. É um costume com centenas de anos de história.

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A origem do Dia das Mentiras pode estar em festividades como a HilariaShutterstock

Quais as origens?

Os historiadores ligaram o Dia das Mentiras a festividades de primavera como a Hilaria. É debatida a origem do Dia dos Tolos.

Muitos traçam o costume de volta à França medieval, onde o dia 25 de março era o Dia de Ano Novo até que o calendário juliano deixou de ser usado em 1564 e foi alterado para o calendário gregoriano. Antes disso, as festividades de Ano Novo culminavam a 1 de abril. Depois de 1 de janeiro ser oficialmente adotado como Dia de Ano Novo, aqueles que se esqueceram de alterar a data e continuaram a celebrar a 1 de abril foram ridicularizados e rotulados de "tolos de abril".

Os historiadores associaram o Dia dos Tolos de abril a festivais de primavera, como a Festa Medieval dos Tolos, em que um "Senhor da Má Governação" era eleito para parodiar os rituais cristãos, ou a Hilaria que significa "alegre" em latim), celebrada na Roma antiga no final de março por seguidores da deusa frígia Cibeles e do seu devoto Átis. As festividades incluíam jogos e pessoas vestidas com disfarces e zombando dos seus vizinhos. Era a oportunidade para os plebeus disfarçados imitarem a nobreza sem quaisquer repercussões.

Outros assinalaram que o festival Holi na Índia, que também tem lugar em março, poderia ser a fonte do dia. Conhecido como o Festival das Cores, a ocasião anual destina-se a honrar a chegada da primavera e do Deus hindu Krishna através da comida, da dança e do lançamento de tinta em pó.

Qual é a primeira referência ao Dia das Mentiras?

A primeira referência vem de um poema cómico flamengo de 1561, da autoria de Eduard de Dene, no qual um nobre envia o seu criado para trás e para a frente em tarefas incómodas e infrutíferas. No final de cada estrofe, o servo lamenta-se de que o que lhe é pedido não é mais do que uma piada.

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Postal francês celebrando os "Poissons d'avril"Domínio Público

Como é celebrado o Dia dos Tolos pela Europa

Em França, Bélgica, Itália e zonas francófonas da Suíça, as celebrações incluem pregar um peixe de papel nas costas do maior número de pessoas possível sem ser notado, e depois gritar "Poisson d'avril" / "Pesce d'Aprile" ("Peixe de abril!"). Muitos sugerem que os peixes representam animais jovens que são facilmente apanhados.

O Dia dos Tolos só é celebrado durante meio dia em Inglaterra. As partidas e piadas só são permitidas até ao meio-dia, a etiqueta diz que quando o relógio bate o meio-dia todas as partidas devem ser esclarecidas. Quem pregar uma partida depois do meio-dia é considerado o idiota oficial de abril. 

Significativamente mais divertidas são as festividades do Dia dos Tolos na Escócia, que duram dois dias. Chama-se Dia do Gowkie (gowk - cuco, símbolo do tolo). O primeiro dia é celebrado brincando com as pessoas, enquanto o segundo - conhecido como Dia do Tolo - é quando as pessoas colocam caudas nas costas umas das outras.

Na Irlanda, a tradição dita o envio de alguém para um "recado de idiota". A vítima é enviada para entregar uma carta, supostamente pedindo ajuda. Quando a pessoa recebe a carta, abre-a, lê-a e diz ao mensageiro que terá de levar a carta a outra pessoa. Isto continua por algum tempo até que alguém sinta pena deles e lhes mostre o que a carta diz: "Enviem o tolo a outra pessoa".

Nos Países Baixos, os cidadãos tendem a catapultar ou a atirar o arenque na direcção dos seus vizinhos e gritar "haringgek" ("tolo do arenque").

Os alemães pregam uma partida chamada "Aprilscherz", que consiste em contar uma história ultrajante mas geralmente inofensiva que é completamente feita para enganar os outros.

Na Grécia, diz-se que enganar alguém com sucesso neste dia traz boa sorte para o brincalhão durante todo o ano.

Os polacos têm à mão um aviso: "Prima Aprilis, uważaj, bo się pomylisz!", que significa "Dia dos Tolos, tenha cuidado - pode estar a ser enganado!"

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Espanha e Portugal celebram ambos em dias diferentes. Os portugueses celebram o 1 de abril como Dia das Mentiras e têm o hábito de contar histórias falsas aos familiares e amigos, embora a tradição de pregar partidas esteja mais ligada ao Carnaval. Quanto aos espanhóis, o dia das partidas é celebrado a 28 de dezembro como Dia dos Santos Inocentes, durante o qual ninguém pode ser responsabilizado pelos seus actos, uma vez que os preguiçosos são considerados inocentes.

"Petas" de 1 de abril

Cuidado com o que lê, ouve e vê nas notícias neste dia...

Nos tempos modernos, os noticiários têm participado na tradição de 1 de abril, fazendo grandes esforços para criar elaborados embustes. Relatam pelo menos uma notícia fictícia publicada no meio de outros artigos a fim de enganar o público.

Os britânicos tendem a sair-se muito bem aqui.

Em Inglaterra, tornou-se uma partida popular enviar vítimas crédulas para a Torre de Londres para ver a lavagem dos leões - uma cerimónia que não existia. A partida apareceu pela primeira vez num jornal britânico a 2 de abril de 1698, onde foi lido um artigo na primeira página: "Sendo ontem o primeiro de abril, várias pessoas foram enviadas para a vala da Torre para verem os leões a serem lavados". Exemplos deste embuste em particular continuaram pelo menos até meados do século XIX.

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Muito mais tarde, a BBC relatou a 1 de abril de 1957, num segmento falso, que os agricultores suíços estavam a experimentar uma colheita recorde de esparguete e mostraram imagens de pessoas a colher macarrão das árvores. Até tinha filmagens de mulheres a colher fios de uma árvore e  a pô-los ao sol a secar. Muitas pessoas foram enganadas, e a história motivou tantas perguntas por parte dos espetadores que a BBC manteve-a durante mais um dia.  

A famosa "colheita de esparguete" mostrada na BBC

Mais recentemente, em 2008, a mesma BBC apresentou pinguins capazes de voar...

Os pinguins voadores da BBC

Os EUA são também excelentes no que diz respeito a estas histórias falsas. um exemplo aconteceu em 1992, quando a Rádio Pública Nacional mostrou, com a ajuda de um ator, um discurso do ex-presidente Richard Nixon anunciando que iria concorrer às eleições desse ano.

As empresas entram também na brincadeira. Por exemplo, a Virgin Atlantic apresentou um avião capaz de bater as asas como os pássaros...

Um avião que bate as asas, "obra" da Virgin Atlantic

Em Portugal, é longa a tradição das "petas" neste dia. Na RTP, são conhecidas as muitas reportagens, muitas vezes com a assinatura de Fernando Pessa, com todo o tipo de informações estrambólicas, e frequentemente com a cumplicidade de personalidades que dão o seu testemunho. Algumas das "petas" mais famosas incluem a descoberta de petróleo em território nacional, o fim das portagens na Ponte 25 de Abril, o envio de um astronauta português para o Espaço ou ainda a mudança de nome da cidade do Porto, que passaria a chamar-se "Oporto".

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