Alguns dos vinhos preferidos da Europa poderão ser dizimados pelas alterações climáticas, alertam os especialistas.
As alterações climáticas podem levar ao desaparecimento do Prosecco e de outros vinhos europeus populares, segundo um novo estudo.
O Prosecco - um vinho branco espumante produzido nas vinhas de montanha de Itália - é uma das bebidas mais apreciadas do continente.
Mas as colheitas de uvas estão a diminuir, devastadas por uma combinação mortal de condições meteorológicas extremas e degradação do solo.
Uma nova análise - publicada na revista iScience no mês passado - descreve a colheita como "frágil e ameaçada".
"O risco não é apenas a perda de um produto agrícola ou a alteração da paisagem, com um impacto negativo na economia local", afirma o autor principal do estudo, Paolo Tarolli, da Universidade de Pádua, em Itália. "O risco é perder a história de comunidades inteiras e as suas raízes culturais".
Outras colheitas como o Grand Cru e o Cabernet Sauvignon podem também estar ameaçadas.
Porque é que o Prosecco está ameaçado?
O clima extremo está a dificultar a vida aos produtores de Prosecco.
A precipitação súbita e intensa desencadeia a erosão repentina do solo e as "falhas de declive" - quando a terra desliza - nas vinhas íngremes do Norte de Itália.
A seca é outro problema, tornando a irrigação das culturas extremamente difícil.
Este ano, os produtores de Prosecco foram atingidos por chuvas e granizo na primavera, seguidas de um verão extremamente quente.
O clima instável - desencadeado pelas alterações climáticas - poderá reduzir as colheitas de uvas para vinho em Itália até um quinto, segundo as estimativas dos produtores.
Porque é que o Prosecco é cultivado na encosta de uma montanha?
O sabor único do Prosecco deve-se à sua origem a grande altitude.
As uvas cultivadas nas montanhas são mais pequenas e têm uma maior proporção de pele e sumo, o que lhes confere um sabor intenso. Também apanham muito sol - mas as temperaturas frescas da altitude impedem-nas de queimar
A procura desta colheita é enorme, tendo registado um aumento de mais de 33% em cinco anos. Em comparação, a procura de champanhe francês cresceu apenas um por cento durante o mesmo período.
Mas fazer uma colheita em locais de tão grande altitude não é fácil. Reconhecendo a dificuldade, a prática de cultivar uvas em encostas com mais de 30% de inclinação é designada por "viticultura heroica".
Segundo Paolo Tarolli, as alterações demográficas e o êxodo das populações das zonas rurais provocaram uma grave escassez de mão de obra nas montanhas.
A devastação causada pelas alterações climáticas tornará muito mais difícil o recrutamento da próxima geração de viticultores.
"A nova geração não está disposta a continuar a trabalhar em condições extremas se os benefícios económicos forem insignificantes", adverte Tarolli.
Que outras culturas estão ameaçadas pelas alterações climáticas?
Não são apenas as uvas - as alterações climáticas estão a dizimar culturas em todo o mundo.
O arroz no norte de Itália, o azeite em Espanha e a cevada no Reino Unido registaram reduções drásticas de rendimento nos últimos anos devido às condições ambientais.
O Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas alertou para o facto de que, se atingirmos 1,5°C de aquecimento, cerca de 8% das terras agrícolas do mundo tornar-se-ão impróprias para a agricultura.
Há 66% de probabilidades de a temperatura média global anual atingir 1,5 ºC acima das temperaturas pré-industriais nos próximos cinco anos, de acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial publicado em maio.