As taxas de reciclagem na Grécia continuam impressionantemente baixas, apesar dos milhares de milhões de euros gastos. A presidente das empresas de reciclagem explica à Euronews por que razão isso acontece e sugere medidas para melhorar a situação.
Foram gastos milhares de milhões de euros em infraestruturas de reciclagem.
Foram efetuadas dezenas de campanhas de informação e de sensibilização.
As ruas das cidades gregas estão cheias de contentores que recolhem todo o tipo de materiais: embalagens de plástico e alumínio, papel, restos de comida, calçado e vestuário.
Em muitas lojas de retalho existem contentores especiais que recolhem pilhas e aparelhos elétricos para reciclagem.
No entanto, a Grécia continua a enterrar cerca de 79% dos seus resíduos, de acordo com os números apresentados pela Associação das Indústrias e Empresas de Reciclagem e Recuperação de Energia (SEPAN).
A presidente da associação, Lena Belsi, sublinhou que a taxa de enterro de resíduos na Grécia continua a ser de 79%, enquanto a reciclagem mal chega aos 17%, um nível que coloca o país nos últimos lugares da Europa.
Lena Belsi explicou à Euronews que existem duas razões principais para este fenómeno.
A primeira é a ausência de desincentivos (principalmente impostos ou multas específicas) que forcem as famílias e as empresas a reciclar mais.
"O enterro é a solução mais fácil e mais barata na Grécia", diz Lena Belsi. "O enterro continua a ser uma solução barata porque a taxa especial de enterro continua a ser baixa no país, especialmente em comparação com outros países da UE. Noutros países da UE, a taxa de deposição em aterro foi o principal desincentivo que funcionou e aumentou as taxas de reciclagem. Mas na Grécia mantém-se nos 35 euros/tonelada. Existem países, como Itália, onde esta taxa ultrapassa os 100 euros/tonelada."
A segunda razão para as baixas taxas de reciclagem tem a ver com a mentalidade dos cidadãos gregos, segundo Belsi.
"Os cidadãos levam o lixo para fora de casa e pensam que desaparece. Esquecem-se disso, têm a sensação de que o lixo vai para um sítio onde não o veem e não os incomoda, por isso não lhe prestam muita atenção. Mas não é esse o caso. A deposição de lixo em aterro é muito prejudicial para o ambiente."
A grande praga da capital grega
Se a Grécia está atrasada na reciclagem em geral, o problema é particularmente crítico em Atenas e na zona da capital grega.
"A região de Ática está muito atrasada", adverte Belsi, sublinhando que é urgente avançar com projetos de infraestruturas modernas para a valorização dos resíduos e o desenvolvimento da economia circular na capital grega.
A gestão dos resíduos em Ática continua a ser um dos problemas mais persistentes e difíceis de resolver no país.
Apesar dos anúncios para uma "transição verde" e da adoção de objetivos europeus para uma economia circular, o sistema continua a basear-se largamente na deposição em aterro.
O aterro sanitário de Fili, que funciona há mais de duas décadas, recebe cerca de 90% dos resíduos de Ática, embora esteja no seu limite e se tenha tornado inaceitável do ponto de vista ambiental e social.
A falta de infraestruturas alternativas, associada aos atrasos na implementação de novas estações de tratamento, cria um impasse que ameaça uma crise de gestão nos próximos anos.
A reciclagem em Ática está a níveis dececionantes: apenas cerca de 15%, muito abaixo da média europeia.
"Se o problema de Ática não for resolvido, por mais progressos que se façam no resto do país, não será suficiente para melhorar o panorama geral da Grécia", afirmou.
Exceções bem-sucedidas
Exemplos isolados, como o de Tilos, não são suficientes para reverter o panorama geral.
Tilos é um dos exemplos mais bem-sucedidos de uma "transição verde" na Grécia, uma vez que conseguiu reduzir quase a zero os seus resíduos através do programa "Just Go Zero".
Através da triagem na fonte, da reutilização e da compostagem, a ilha recicla mais de 85% dos seus resíduos.
Existem alguns outros exemplos, não tão bem-sucedidos como o de Tilos, que se encontram principalmente na fase piloto, nas ilhas de Antiparos, Alonissos, Paros e Naxos.
A fim de aumentar as taxas nacionais de reciclagem, a Associação de Indústrias e Empresas de Reciclagem e Valorização Energética solicita ao Estado grego que simplifique e agilize os procedimentos de licenciamento das instalações de reciclagem, que existam controlos mais rigorosos na aplicação das obrigações das empresas em matéria de reciclagem e que sejam impostas sanções mais severas àqueles que não cumprem as suas obrigações. A UE estabeleceu como objetivo reciclar pelo menos 70% do total de resíduos até 2030.