O diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia (IPAM), André Guimarães, considerou “decepcionante” o desempenho do bloco europeu na preparação para a conferência da ONU sobre as mudanças climáticas, que arranca a 10 de novembro em Belém, no Brasil.
Tradicionalmente vista como uma liderança global na definição de metas climáticas, a União Europeia falhou em apresentar propostas concretas nas negociações preparatórias para a COP30, que vai realizar-se em Belém, no Brasil, entre 6 e 21 de novembro. O bloco ainda não divulgou sua nova ronda de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), os planos que cada país adota para cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5 °C. Esses objetivos são atualizados periodicamente e esperava-se que a entrega ocorresse antes de setembro, para que houvesse tempo suficiente para análise e debate antes da cimeira.
“Havia a expectativa da presidência brasileira de que mais NDCs seriam apresentadas durante a pré-COP. A ausência da Europa decepcionou, especialmente porque a Europa sempre liderou historicamente esse debate, o que frustra muitas outras nações e até mesmo setores econômicos”, explicou o brasileiro André Guimarães, diretor executivo do IPAM, em entrevista à Euronews.
As lideranças do bloco asseguram que os países-membros estão no caminho certo para cumprir as metas de redução de emissões e prometem apresentar a sua nova NDC durante o evento em Belém. O tópico está na agenda da cimeira de ministros do Ambiente, que terá lugar a 4 de novembro, em Bruxelas. Por enquanto, a UE optou por uma "declaração de intenção" com uma faixa de redução de emissões entre 66,25% e 72,5%, em vez de uma meta oficial completa. A decisão foi vista como uma forma de avançar no debate enquanto as negociações internas continuam. Alguns países resistem às medidas ambientais e têm preocupações sobrecomo financiar a transição (conteúdo em inglês) para uma economia de baixo carbono, juntamente com prioridades como a defesa e a revitalização das indústrias.
“É compreensível, num momento de incertezas comerciais e geopolíticas, que países evitem metas muito ambiciosas. Mas, embora compreensível, não é justificável. O problema climático é grave e já está demonstrado pela ciência, com os termómetros a registar recordes de temperatura, chuva e eventos extremos. Alguns países mostram cautela ao anunciar novas NDCs, mas a mudança climática não vai esperar a guerra acabar ou as tarifas serem definidas. Ela já se manifesta em incêndios, secas, enchentes e incertezas económicas”, alertou André Guimarães.
ONU aponta progressos, mas pede ação mais rápida
A ONU divulgou nesta semana seu relatório com um balanço de 64 NDCs apresentadas antes de setembro. Mesmo com uma análise ainda incompleta sem a UE, o relatório indica que as emissões devem atingir o pico antes de 2030 e cair entre 11% e 24% até 2035, em relação a 2019. Segundo a entidade, embora o mundo esteja a progredir a cada ano, existe uma necessidade urgente de acelerar o ritmo e de incentivar mais países a adotarem medidas climáticas mais ambiciosas.
O especialista brasileiro reforçou a importância da cooperação internacional durante a COP30 pra que os objetivos sejam alcançados: “A crise climática não será resolvida por poucos países. Ou todos participam ou não conseguiremos encontrar soluções. A palavra escolhida pela presidência da COP para simbolizar essa abordagem é ‘mutirão’. É um termo muito brasileiro que não significa apenas ‘trabalhar juntos’, mas também trabalhar juntos para o bem coletivo. É um conceito sofisticado, presente nas práticas dos povos indígenas, que caçam, produzem e constroem coletivamente. Essa sabedoria resume o que precisamos fazer diante da crise climática: agir em mutirão, de forma cooperativa e solidária, pelo bem comum”.