Sete bancos russos de fora do sistema SWIFT. Dois escapam

Sete bancos russos de fora do sistema SWIFT. Dois escapam
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De  Jorge Liboreiro

Sberbak e Gazprombank não foram incluídos na lista negra e excluídos do sistema de mensagens. Decisão prende-se com o facto de o comércio de petróleo e gás ficar de fora do pacote de sanções da União Europeia contra a Rússia

À medida que a guerra se intensifica na Ucrânia, a União Europeia (UE) oficializou a lista de bancos russos que serão expulsos do SWIFT, o sistema de alta segurança que permite transações financeiras e sustenta a economia global.

Na mira da lista final estão sete bancos que se considera ter ligações estreitas com o regime do presidente russo Vladimir Putin e vistos como cúmplices, direta ou indiretamente, no financiamento da guerra contra a Ucrânia.

No entanto, a proibição exclui duas das maiores instituições bancárias do país, Sberbank e o Gazprombank.

Os dois bancos foram poupados porque lidam com a maior parte dos pagamentos relacionados com as exportações de gás e petróleo, de que a UE depende para produzir energia. Cerca de 40% do gás consumido pelo bloco comunitário vem da Rússia.

A decisão mostra que, embora a unidade da UE tenha sido consistentemente forte ao longo da crise, ainda esbarra em limites quando confrontada com a questão crucial do abastecimento de energia.

Os bancos expulsos do sistema SWIFT são o VTB Bank, o Bank Otkritie, o Novikombank, o Promsvyazbank, o Rossiya Bank e o Sovcombank, bem como o VEB, o banco de desenvolvimento da Rússia.

A lista foi adotada por unanimidade pelos Estados-membros, esta quarta-feira, e entrará em vigor dentro de dez dias, para permitir que o SWIFT e as empresas da UE se adaptem às medidas.

"A decisão de hoje de desligar os principais bancos russos da rede SWIFT enviará mais um sinal muito claro a Putin e ao Kremlin", sublinhou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado.

Como a SWIFT (Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais) é uma empresa sediada na Bélgica e, por isso mesmo, sujeita à lei da UE, as sanções significam que os sete bancos estarão completamente proibidos de usar o sistema para enviar mensagens de pagamento para qualquer outro banco ou instituição conectada ao SWIFT, em qualquer parte do mundo.

Atualmente, o sistema conecta mais de 11 mil instituições financeiras em mais de 200 países e territórios. Envia mais de 42 milhões de mensagens por dia que facilitam negócios domésticos e internacionais.

Apesar de o sistema ser, de longe, o principal intermediário para transações financeiras mundiais, não é o único.

Entre as alternativas contam-se o sistema CIPS da China, o SFMS da Índia e o SPFS da Rússia, bem como métodos mais rudimentares, como impostos e mensagens telefónicas, que consomem tempo e apresentam riscos de segurança.

Cerca de 50% dos bancos da Rússia estão conectados e usam o sistema SWIFT, enquanto outros contam com o sistema russo SPFS e outros instrumentos bilaterais.

Tudo ou nada

Os Estados-membros da União Europeia passaram os últimos dias a discutir que entidades incluir na lista negra do SWIFT e como minimizar o golpe económico sobre o bloco comunitário.

Durante as negociações, mais de metade dos Estados-membros queriam que o Sberbank e o Gazprombank, o primeiro e o terceiro maiores bancos da Rússia, fossem igualmente expulsos do sistema eletrónico, mas o consenso não pôde ser alcançado, porque algumas capitais manifestaram preocupação, de acordo com o que a Euronews apurou.

A seleção foi feita como uma questão de compromisso e em coordenação com os EUA e o Reino Unido. A lista negra será expandida, "a curto prazo", se a situação na Ucrânia se deteriorar ainda mais, ressalvou a Comissão Europeia.

Falando em condição de anonimato, uma fonte europeia disse que a a expulsão de bancos do sistema SWIFT é uma questão de tudo ou nada: a UE não pode pedir ao sistema que proíba certas transações financeiras enquanto poupa outras, como as que envolvem exportações de gás. Um banco é ou expulso ou integrado no SWIFT.

Isto significa que, por enquanto, os Estados-membros poderão continuar a comprar gás russo sem grandes interrupções, a menos que o Kremlin decida retaliar, cortando o fornecimento.

Um corte de energia infligiria grande dor aos consumidores e cidadãos europeus, mas também à própria economia da Rússia: o petróleo e gás representam 60% das exportações da Rússia, com mais de metade destinada à Europa.

O setor representa um terço da receita do orçamento federal.

A guerra já está a pressionar o mercado de gás: os preços estão novamente acima do limite dos cem megawatt-hora no Dutch Title Transfer Facility, a principal referência da Europa.

Embora extremamente elevado, o preço não é uma surpresa para os Estados-membros, que têm vindo a lidar com uma crise de energia persistente desde o final do verão, bem antes das tensões na fronteira com a Ucrânia começarem a aumentar.

"Uma medida sem entusiasmo"

Os efeitos da expulsão do SWIFT, agravados por outras sanções financeiras aplicadas à Rússia, serão sentidos pela primeira vez pelos bancos russos e os respetivos clientes.

O valor do rublo caiu para o nível mais baixo de todos os tempos, os custos dos empréstimos dispararam e o mercado de ações continua fechado para evitar um colapso total.

Paralelamente, os cidadãos russos fazem fila em frente a caixas multibanco numa tentativa desesperada de recuperar as economias antes que sejam congeladas ou desapareçam, à medida que a ameaça de hiperinflação está cada vez mais presente.

Mas poupar o Sberbank e o Gazpromban da lista final de entidades bancárias excluídas do sistema SWIFT pode prejudicar o impacto da proibição do mesmo. Os números de 2021 mostraram que os dois bancos tinham ativos no valor de 37,50 biliões e 7,53 biliões em rublos, respetivamente.

Em comparação, os bancos penalizados possuem muito menos, exceto o VTB, que é o segundo maior banco do país, com 18,59 biliões de rublos. Com exceção do VEB, que é um banco de desenvolvimento, as seis instituições expulsas representam apenas 25% do sistema bancário russo, disse um alto funcionário da UE.

As medidas também devem atingir a economia da UE, atendendo aos consideráveis ​​fluxos comerciais com a Rússia, mas o alcance dos danos ainda não está claro e pode ser "limitado" e "gerível", disse Niclas Poitiers, investigador do Instituto Bruegel, um think tank de Bruxelas.

"Fiquei surpreso com o fato de a lista não ser maior. Comparada a outras sanções, parece uma medida tímida", disse Poitiers, em entrevista à Euronews. "Não tenho certeza para que propósitos é que isso serve".

Na prática, as sanções podem ser fáceis de contornar porque os operadores podem simplesmente mudar as contas para um banco que não foi sancionado, ressalvou Poitiers.

A proibição do SWIFT surge na sequência de uma longa série de sanções financeiras que a UE e os respetivos aliados aplicaram rapidamente à Rússia com o objetivo de paralisar a máquina de guerra do Estado.

As medidas adicionais incluem, entre outras coisas, o congelamento das reservas estrangeiras detidas pelo Banco Central da Rússia, o corte do acesso russo aos mercados de capitais da UE e a proibição de fornecer notas de euros.

Algumas das sanções também afetarão o Sberbank e o Gazprombank. No conjunto, a Comissão Europeia diz que as medidas terão como alvo entre 70% a 80% do sistema bancário russo.

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