Os últimos ataques russos contra Sumy e Kryvyi Rih demonstram que Vladimir Putin não está interessado em conversações de paz, afirmaram os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, reunidos no Luxemburgo esta segunda-feira, disseram que é urgente apertar o cerco à Rússia através de novas sanções após o ataque devastador contra a cidade ucraniana de Sumy.
Dois mísseis balísticos russos atingiram Sumy no momento em que cristãos celebravam o Domingo de Ramos, uma festividade que honra a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém.
Pelo menos 34 pessoas morreram e mais de 110 ficaram feridas.
"O ataque atingiu o centro da cidade no Domingo de Ramos. Só a escória imunda pode atuar desta forma", declarou o presidente Volodymyr Zelenskyy.
O ataque contra civis ocorreu numa altura em que a Ucrânia ainda estava de luto por 19 pessoas, incluindo nove crianças, mortas em Kryvyi Rih no início deste mês. Ambos os ataques russos têm semelhanças, combinando mísseis balísticos e munições de fragmentação para maximizar os danos.
Para os ministros dos Negócios Estrangeiros, o bombardeamento mostra que Vladimir Putin não está interessado em prosseguir as negociações de paz promovidas por Donald Trump.
"Só quero dizer o quanto estou chocado com a última série de ataques russos à Ucrânia", disse Radosław Sikorski, ministro dos negócios estrangeiros da Polónia, esta segunda-feira.
"Espero que o presidente Trump e a administração dos EUA vejam que o líder da Rússia está a gozar com esta boa vontade e espero que sejam tomadas as decisões certas."
Kęstutis Budrys, da Lituânia, disse que o "ataque bárbaro" a Sumy representou um "crime de guerra por definição" e exigiu um novo pacote de sanções visando setores deixados "intocados" em decisões anteriores, como o gás natural liquefeito (GNL) e o nuclear.
O 17.º pacote de sanções desde fevereiro de 2022 está ainda numa fase muito inicial e, uma vez apresentado, deve contar com o veto da Hungria. Budapeste tem vindo a criticar cada vez mais as restrições económicas, chegando mesmo a ameaçar bloquear a renovação das sanções.
"Isto é, mais uma vez, uma humilhação para todos os que fazem esforços diplomáticos para acabar com esta guerra e conseguir, pelo menos, um cessar-fogo para que as negociações possam começar", disse Budrys.
"Este é o momento de mostrarmos não só a nossa unidade, mas também a nossa dedicação", acrescentou. "Caso contrário, não vamos estar a funcionar como uma organização (mas) como países separados."
A sua homóloga finlandesa, Elina Valtonen, apoiou os pedidos de sanções adicionais mais duras e disse que a queda nos preços mundiais do petróleo causada pelas tarifas de Trump era "exatamente" o que o Ocidente precisava para enfraquecer a máquina de guerra do Kremlin.
"A Rússia mostra total desprezo pelo processo de paz, mas também que a Rússia não tem qualquer consideração pela vida humana", disse Valtonen à chegada ao encontro.
"Há uma pessoa que não está interessada na paz e essa pessoa é Putin."
A sueca Maria Malmer Stenergard foi ainda mais longe, declarando que é altura de "seguir em frente e retirar os bens congelados".
A possibilidade de apreensão dos ativos do Banco Central russo, que estão imobilizados no âmbito das sanções, já foi referida no passado, mas ganhou mais força depois de Trump ter tomado posse e começado a reduzir a assistência militar à Ucrânia.
Estes valores são vistos como uma fonte atrativa de receitas para compensar a diminuição da ajuda norte-americana. No entanto, alguns Estados-membros estão relutantes em tomar esta medida sem precedentes, receando repercussões negativas para a estabilidade financeira e a credibilidade do bloco junto dos investidores.
No mês passado, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, esfriou o ímpeto do confisco, argumentando que estes ativos deveriam permanecer paralisados para sustentar um empréstimo de 45 mil milhões de euros a Kiev e garantir que Moscovo acabe por pagar as reparações de guerra.
"É por essa razão que é importante proteger estes ativos, (manter) estes ativos sob controlo", afirmou Costa num evento.
No entanto, o debate ainda não terminou, uma vez que o pivot de Trump para a Rússia obriga os aliados a reconsiderar crenças de longa data e a adotar noções ambiciosas, como o rearmamento em grande escala.
Reagindo ao ataque de Sumy, o presidente americano descreveu-o como "horrível" e "terrível", mas pareceu diminuir a culpa da Rússia. Desde que assumiu o cargo, Trump tem sido repetidamente acusado de fazer eco dos pontos de vista do Kremlin.
"Disseram-me que cometeram um erro", disse Trump aos jornalistas no Air Force One.
Mas os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE discordaram totalmente, dizendo que os ataques foram deliberados.
"Não sei o que ele sabe e o que não sabe, mas os factos estão no terreno e à vista de todos: a Rússia está a matar civis e está a matar civis a caminho da igreja", disse Baiba Braže, da Letónia, quando questionada sobre Trump.
"É um duplo golpe. Os russos sabiam o que estavam a fazer".
A Alta Representante da UE para a Política Externa, Kaja Kallas, que presidiu à reunião desta segunda-feira, no Luxemburgo, juntou a sua voz à indignação coletiva e apoiou a pressão para novas sanções.
"Temos de exercer pressão - máxima pressão - sobre a Rússia para que esta guerra acabe de facto, porque são precisos dois para querer a paz (mas) basta um para querer a guerra", afirmou Kallas.
Kallas passou as últimas semanas a incentivar os Estados-membros a reforçarem o apoio militar à Ucrânia, apresentando um plano com um valor ideal de 40 mil milhões de euros para 2025.
O plano, que se baseia no rendimento nacional bruto (RNB) para garantir que os donativos são distribuídos de forma justa, foi bem recebido pelos pequenos Estados-membros, mas deparou-se com a resistência dos maiores, como a França e a Itália, que criticaram a formulação matemática.
Perante esta oposição política, Kallas reorientou este plano para o objetivo de reunir rapidamente 5 mil milhões de euros para entregar 2 milhões de munições à Ucrânia. De acordo com a alta representante, dois terços dos 5 mil milhões de euros já foram assegurados.