Quase uma semana após o início dos ataques israelitas no Irão, a jornalista e ativista iraniana Shima Vezvaei fala à Euronews sobre o medo diário, a propaganda, a desinformação e a solidariedade entre os cidadãos.
Acordar com janelas estilhaçadas e o som de explosões. É assim que Shima Vezvaei, jornalista e ativista iraniana de Teerão, descreve à Euronews a noite do primeiro ataque israelita em território iraniano, na passada sexta-feira.
"Penso que todos estão de acordo no Irão, que queremos que haja um desanuviamento", explica Vezvaei, "apesar de existirem opiniões diferentes até sobre o significado de defesa".
Uma das constatações atuais é a distorção da situação pelos meios de comunicação social. "Os jornalistas internacionais perguntam-me se foi o Irão que atacou primeiro. É absurdo", conta Vezvaei. "Foram mortas pessoas perto da minha casa, em edifícios onde vivem famílias".
"Penso que este facto não deve sequer ser contestado: há uma agressão em curso ", sublinha Vezvaei. "Seja qual for a razão, quer se goste ou não, isto não deve ser contestado. Mas isto também acontece nos media".
Ordens de evacuação entre a propaganda e o medo
Neste novo "normal", a população iraniana tem de lidar com ordens de evacuação que geram confusão e medo: "Foi terrível, recebemos ordens de evacuação do meu bairro", esclarece Vezvaei. "Neste momento é muito difícil, porque por um lado queremos ficar, mas por outro queremos partir".
Uma evacuação que, segundo a ativista iraniana, segue o mesmo guião de Beirute, da Síria e de Gaza, "e nós sabemo-lo muito bem". "Mas as pessoas não estão habituadas a estas coisas, precisam de ser educadas para perceber como funcionam estas ordens, que nunca funcionam de facto".
A informação nunca é clara nestas situações: "Se disserem que o Distrito 3 vai ser atingido, não se pode dizer exatamente que vai ser", explica Vezvaei.
No entanto, falar de guerra e de evacuações não é o mesmo que estar realmente preparado: é o que está a acontecer também aos iranianos, entre pedidos ao ChatGPT sobre o que colocar na mochila antes de sair de casa, a quem ligar primeiro em caso de ataque de mísseis, onde e como fugir.
"A maioria das pessoas não tem dinheiro para sair de Teerão porque não tem familiares a viver fora, não tem segundas casas", situações que discriminam os próprios cidadãos entre os que têm o privilégio de sair e os que não têm, por razões diferentes.
O isolamento dos iranianos
Neste momento, a resposta da comunidade internacional é vista pelos iranianos como distante: o direito internacional já não é um instrumento de proteção, explica Vezvaei, mas uma linguagem que pertence apenas aos governos, entre promessas não cumpridas. Para além da poeira no ar causada pelos escombros dos edifícios bombardeados, em Teerão, há agora também desilusão com os decisores e os fracassos nas mesas de negociações.
No entanto, segundo a ativista iraniana, as pessoas tornaram-se mais empáticas ao verem os seus problemas, não apenas como iranianos: "Antes, pensavam apenas que não gostavam que houvesse uma luta entre os EUA e o Irão ou entre Israel, por isso viam tudo como isolado. Agora sinto que têm uma visão mais internacional".
De acordo com Vezvaei, os iranianos vêem as ligações com a Síria e a Palestina, com o Líbano e com o Iraque: "Penso que é positivo que as pessoas tenham mais solidariedade internacional e sintam que não estão isoladas nos seus problemas. Estão desiludidas mas, ao mesmo tempo, sabem com quem devem contar e em quem podem confiar mais".
Um violino entre as bombas
Após dias de bombardeamentos israelitas, é a sociedade civil iraniana que paga o preço mais alto, mas também se reorganiza para se ajudar mutuamente: nos pátios das casas, nos grupos de Telegram e em pequenos gestos quotidianos.
Entre coletivos de jornalistas locais no terreno, abrigos para gatos vadios, cozinhas comunitárias abertas 24 horas por dia.
Apesar das restrições à liberdade de imprensa e à Internet, os repórteres deslocam-se aos locais das explosões, aos hospitais, falam com as pessoas, com as crianças feridas pelos mísseis.
Entre os vídeos que se tornaram virais no Irão nos últimos dias, há um que mostra um homem a tocar violino na rua durante um ataque de mísseis.
"Irmão, que ontem à noite tocava violino sob o bombardeamento nas ruas de Teerão: honra para ti! Eras a mais bela imagem do amor à pátria. As lágrimas dos teus concidadãos que te ouviam das janelas foram a coisa mais bonita que aconteceu ontem à noite."
A história de Tabesam Pak, vítima dos mísseis israelitas
Entre as histórias relatadas por Shima Vezvaei que não encontram espaço nos media internacionais está a de Tabesam Pak, 45 anos. No domingo passado, quando regressava do trabalho, o seu carro foi atingido pelos destroços de uma explosão.
"Ele tinha-nos dito que estava a caminho, mas depois não respondeu às mensagens", disse o primo da mulher ao meio de comunicação iraniano 'Hammihan'. "O irmão dela verificou a localização do GPS e viu que o carro estava parado numa pequena rua perto da casa. Quando chegámos, encontrámos o carro esmagado pelos escombros".
O corpo de Tabesam foi encontrado dois dias depois numa morgue a sul de Teerão. A mulher foi uma das 30 vítimas, de acordo com fontes oficiais iranianas. O número de mortos fornecido pelo Ministério da Saúde iraniano é de pelo menos 224 mortos e 1.277 feridos, incluindo 120 mulheres e crianças.