A iniciativa do primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, surge na sequência das crescentes tensões sobre a imigração ilegal.
A Polónia restabeleceu os controlos nas fronteiras com os países vizinhos Alemanha e Lituânia, em resposta a medidas semelhantes impostas por Berlim.
As alterações, anunciadas pelo primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, na semana passada, entraram em vigor esta segunda-feira.
"Continuamos a defender a liberdade de circulação na Europa, mas a condição é a vontade partilhada de todos os vizinhos, uma ação simétrica e unida, para minimizar o fluxo descontrolado de migrantes através das nossas fronteiras", afirmou Tusk.
Numa publicação nas redes sociais do seu ministério, o ministro do Interior polaco, Tomasz Siemoniak, explicou que os controlos se destinavam aos "que estão envolvidos no contrabando ilegal de migrantes através da fronteira".
"Os viajantes comuns não têm nada a temer", acrescentou.
Os controlos reintroduzidos terão como alvo autocarros, mini-autocarros, carros com grande número de passageiros e veículos com vidros fumados, disse um porta-voz da guarda fronteiriça à agência noticiosa PAP.
Os controlos terão uma duração inicial de 30 dias, embora as autoridades não tenham excluído a possibilidade de os prolongar, de acordo com o governo polaco.
A pressão sobre Tusk, que recentemente sobreviveu a uma moção de confiança no parlamento, tem vindo a aumentar depois de grupos de extrema-direita na Polónia terem alegado que a Alemanha estava a transportar migrantes para o território polaco depois de terem chegado à Europa Ocidental.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, negou que isso esteja a acontecer.
A Alemanha e a Polónia, que partilham uma fronteira de 467 quilómetros, fazem ambas parte do Espaço Schengen, que permite aos cidadãos atravessar facilmente as fronteiras em trabalho ou lazer.
Segundo a UE, os Estados-membros estão autorizados a introduzir controlos nas fronteiras em caso de ameaça grave.
A Alemanha impôs pela primeira vez controlos nas suas fronteiras com a Polónia em 2023 para combater o tráfico de seres humanos e reduzir a migração irregular.
Depois de tomar posse em maio, o chanceler alemão Friedrich Merz ordenou a colocação de mais polícias nas fronteiras da Alemanha e concedeu-lhes poderes para recusar alguns requerentes de asilo.
Tusk disse na terça-feira que a paciência da Polónia com a Alemanha estava a "esgotar-se" e que, sem controlos do lado polaco, "torna-se difícil determinar se as pessoas que são devolvidas ou reencaminhadas para a Polónia devem ser enviadas para lá".
Merz, que fez campanha por uma posição mais dura em relação à migração, defendeu as medidas.
Na terça-feira, disse numa conferência de imprensa no Luxemburgo que o sistema Schengen só pode sobreviver se não for "abusado por aqueles que promovem a migração irregular, em particular através do contrabando de migrantes".
Não houve "nenhum regresso da Alemanha à Polónia de requerentes de asilo que já tinham chegado à Alemanha", insistiu.
Os governos polaco e alemão estão a trabalhar "para resolver em conjunto um problema comum", afirmou Merz.
As associações empresariais e os políticos alemães mostraram-se preocupados com a decisão da Polónia de reintroduzir os controlos e com as suas consequências para a liberdade de circulação na Europa.
"As empresas precisam de fiabilidade e de liberdade de circulação, não de novas barreiras", disse Helena Melnikov, diretora-geral da Câmara de Comércio e Indústria Alemã, ao jornal Handelsblatt, acrescentando que os controlos afetam os trabalhadores pendulares na fronteira germano-polaca, que correm o risco de não conseguir chegar ao trabalho a tempo.
Katarina Barley, vice-presidente do Parlamento Europeu, considerou a decisão da Polónia uma "retaliação" às ações da Alemanha.
"É um efeito dominó e, claro, está a levar todo o sistema Schengen aos seus limites", disse Barley à ARD e à ZDF.