Poderão os enormes depósitos de petróleo e gás descobertos sob o Mar Báltico ser uma oportunidade para a Europa se tornar independente das matérias-primas russas? Ou será que a grande descoberta ainda é demasiado pequena? A Euronews pergunta aos especialistas quem pode realmente beneficiar com isso.
A Central European Petroleum (CEP) anunciou a descoberta pioneira do maior campo de petróleo convencional da história da Polónia, perto da ilha de Wolin.
As descobertas sob o Mar Báltico, a cerca de seis quilómetros de Świnoujście, podem atingir 22 milhões de toneladas de petróleo e 5 mil milhões de metros cúbicos de gás.
A dimensão do campo descoberto corresponde aproximadamente à procura anual de petróleo da Polónia.
Na segunda-feira, a CEP afirmou que a Polónia teria prioridade no aproveitamento do petróleo e do gás que produz.
"Isto é uma espécie de disparate" - diz em entrevista à Euronews, em tom crítico, Piotr Woźniak, ex-CEO da Polskie Górnictwo Naftowe i Gazownictwo (PGNiG), empresa polaca envolvida na extração, armazenamento e distribuição de gás natural e petróleo.
De acordo com os dados de 2019, a PGNiG produziu 1,2 milhões de toneladas de petróleo na Polónia e no estrangeiro. "A prioridade não é a Polónia, não é a Rússia, não é o Sudão ou a Costa do Marfim. A prioridade é dada a quem descobre o mineral. Se for descoberto por esta empresa, tem prioridade sobre todas as outras. Exceto que tem de documentar primeiro o depósito", diz o especialista. "É o que diz a legislação europeia", sublinha.
"Eles preocupam-se com o dinheiro, não com qualquer nação. Podem vendê-lo a quem quiserem, claro que com todas as considerações internacionais. Não podem vendê-lo aos russos nem ao cartel de Medellín, na Colômbia, porque ficariam todos furiosos", acrescenta.
Lansing em frente a um possível comprador
Para Piotr Wozniak a prioridade da Central European Petroleum é agora angariar fundos.
"A realidade empresarial é que a empresa vai querer obter dinheiro de algum lado o mais rapidamente possível. Precisa de documentar este depósito para que tenha todos os direitos sobre ele e a capacidade legal de o extrair. Tem de perfurar e, para o fazer, tem de gastar dinheiro. Para gastar o dinheiro, ele tem de o ter. Para o ter, tem de lho dar com alguma coisa", explica o antigo diretor executivo da PGNiG.
"Estão como que a exibir-se perante um possível comprador, porque sabem que nós [na Polónia] queremos diversificar as fontes, que estamos a apostar - pelo menos segundo a lógica que ouvimos da administração governamental - nos nossos próprios recursos", diz.
Como é que uma empresa que cabe num copo de licor descobriu um grande recurso?
"A empresa CEP tem neste momento uma licença de exploração, ao abrigo da qual tem procurado um campo de petróleo e gás, e tem-no perfurado alegremente. Estão de parabéns porque isso raramente acontece. Nessas quantidades, é mais uma razão para os felicitar", afirma Wozniak.
No entanto, o perito entrevistado pela Euronews faz uma avaliação dura da CEP. "É possível que tenham lá alguns profissionais, caso contrário não teriam atingido [os recursos]. Em termos de poder de mercado, por outro lado, é muito grande. Não se consegue ver isso à superfície."
O antigo presidente do conselho de administração da PGNiG critica a lentidão da empresa pública polaca, que teve a oportunidade de explorar os recursos que a Central European Petroleum vai agora poder extrair.
"A empresa Orlen Upstream foi criada em dezembro de 2005 com uma carta que tinha como objetivo a exploração e produção de petróleo e gás. Desde dezembro de 2005 até dezembro de 2019, ou seja, há 14 anos, a Orlen não produziu um único metro cúbico de gás nem um único barril de petróleo na Polónia. Durante 14 anos não fizeram nada, recebendo obviamente dinheiro chorudo, nem durante um governo, nem durante outro, nem durante um terceiro. Não deu em nada", afirma.
"Como é que uma empresa do tamanho da CEP, que cabe num copo de licor, descobriu enormes recursos, onde estava o Estado nessa altura?" - pergunta retoricamente Wozniak, referindo-se à empresa estatal polaca.
Vamos tornar-nos independentes do gás da Rússia?
Segundo Piotr Woźniak, a extração das jazidas dos furos encontrados pela empresa CEP não vai abalar o equilíbrio energético europeu, mas a própria Polónia poderá fazê-lo.
Os depósitos podem atingir 22 milhões de toneladas de petróleo e, como sublinha o especialista, "a capacidade de processamento das refinarias polacas é de cerca de 24 milhões de toneladas de petróleo bruto por ano, que é a quantidade que podemos processar dentro das fronteiras da Polónia."
"Do ponto de vista de uma política energética importante, não se trata de um avanço. Mas do ponto de vista do investimento no Mar Báltico - sim, porque é várias vezes mais do que estamos atualmente a extrair no Mar Báltico" explicou outro especialista em energia, Wojciech Jakóbik, à Euronews.
"É também um sinal positivo para o investimento de que podem existir mais depósitos deste tipo, que vale a pena procurar matérias-primas na nossa bacia, por isso, quem sabe se não haverá mais notícias sobre este assunto por parte de outros investidores."
"Os investidores começaram a procurar hidrocarbonetos em toda a Europa. A Polónia não está isolada. Ouvimos dizer, por exemplo, que a Alemanha, em cooperação com os holandeses, quer extrair hidrocarbonetos no Mar do Norte e não só. Esta é mais uma prova de que estamos a assistir a uma mudança na Europa. Uma segurança rigorosa está a fazer com que olhemos novamente de forma mais favorável para a extração de gás, gás e petróleo da Europa", conclui Jakóbik.