A Dinamarca juntou-se à Estónia, Letónia. Finlândia, Lituânia, Polónia, Roménia e Bulgária no projeto de construção de um "muro drone" ao longo do flanco oriental.
A Comissão Europeia reafirmou a sua intenção de construir um sistema de defesa contra drones ao longo do flanco oriental do bloco para dissuadir a Rússia de violar o espaço aéreo comum e responder rapidamente a qualquer incursão desse tipo.
Em menos de um mês, aviões russos violaram o espaço aéreo de três Estados-Membros - Polónia, Roménia e Estónia -, colocando o continente em alerta máximo. Os atos coincidem com a intensificação das barragens contra civis ucranianos.
Na segunda-feira, foram avistados dois ou três drones de grandes dimensões no aeroporto de Copenhaga, o que provocou uma interrupção das operações durante quase quatro horas. O aeroporto reabriu mais tarde, mas alertou para atrasos e cancelou partidas. O aeroporto de Oslo, na Noruega, também sofreu perturbações.
A polícia disse que se absteve de abater o avião porque o risco era demasiado grande, uma vez que o aeroporto estava em plena capacidade e os aviões estavam estacionados perto de depósitos de combustível.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, classificou o incidente como "o mais grave ataque às infraestruturas críticas dinamarquesas até à data" e disse não poder excluir o envolvimento da Rússia.
Na terça-feira, a Comissão Europeia aproveitou os acontecimentos para apelar à criação de um muro de proteção contra os drones, uma iniciativa inédita apresentada pela Presidente Ursula von der Leyen no seu discurso sobre o estado da UE.
"Para aqueles que ainda duvidavam da necessidade de um muro de proteção contra drones na União Europeia, eis mais um exemplo da sua importância", afirmou Thomas Regnier, porta-voz da Comissão para a política de defesa.
"Os últimos ataques na Roménia, na Polónia, na Estónia e agora na Dinamarca atingiram quatro Estados-Membros. É precisamente por isso que vamos trabalhar neste muro contra drones".
O projeto reunirá sete Estados-Membros no flanco oriental: Estónia, Letónia. Finlândia, Lituânia, Polónia, Roménia e Bulgária, juntamente com a Ucrânia, que desenvolveu uma vantagem tecnológica no fabrico de drones durante a guerra.
A Dinamarca juntou-se agora à iniciativa, anunciou Regnier.
Em contrapartida, a Hungria e a Eslováquia, que partilham uma fronteira com a Ucrânia, não fazem parte do projeto. Bruxelas afirmou que as discussões poderão ser alargadas numa fase posterior.
A primeira reunião está prevista para sexta-feira entre os representantes nacionais e Andrius Kubilius, o Comissário Europeu para a Defesa. As conversações deverão esclarecer as capacidades existentes, as lacunas militares e as necessidades financeiras.
A Rússia está a testar as fronteiras europeias
Ainda não é claro como é que o muro de drones poderá funcionar na prática e quais os custos em que poderá incorrer. O projeto deverá centrar-se tanto na deteção como na intervenção.
A Comissão está a lançar um programa de empréstimos de 150 mil milhões de euros para aumentar as despesas com a defesa, que poderá ser mobilizado para promover a produção nacional de drones, explicou Regnier. A Polónia é o maior beneficiário, com quase 44 mil milhões de euros atribuídos provisoriamente.
"O trabalho técnico está em curso. A reflexão também está em curso. Não seremos nós a tomar a decisão. Os Estados-Membros são os responsáveis", disse o porta-voz aos jornalistas.
"Os dois principais factores que a Comissão se questiona são: por um lado, a deteção de drones que se aproximam e, por outro, o segundo elemento, que está totalmente ligado a isso, é como responder quando detectamos um".
Regnier não especificou a data de lançamento da barreira de drones, mas referiu que "os acontecimentos recentes mostram que não podemos ficar de braços cruzados [e que] não podemos ficar aqui sentados à espera de que as coisas aconteçam para termos de agir".
Entretanto, Anitta Hipper, porta-voz da Comissão para os assuntos externos, afirmou que as incursões anteriores no espaço aéreo polaco, romeno e estónio sugerem que a Rússia também pode estar por trás do incidente no aeroporto de Copenhaga.
"Ainda temos de aguardar o resultado final (da investigação), mas o que vimos ao longo das últimas semanas aponta para a Rússia em termos das suas acções imprudentes em pelo menos três Estados-Membros", disse Hipper.
"Aqui, vemos um padrão claro: A Rússia está a testar as fronteiras europeias, a testar a nossa determinação e a minar a nossa segurança".
Na terça-feira, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, advertiu que era "muito cedo" para determinar quem estava por trás do incidente em Copenhaga.
"Não queremos ver uma continuação deste padrão perigoso por parte da Rússia, intencional ou não, mas estamos prontos e dispostos a continuar a defender cada centímetro do território aliado", afirmou em conferência de imprensa.
O muro de drones responde à profunda reformulação da política de defesa da Europa, causada pela invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia e pela reeleição do presidente Donald Trump, que afirmou que os EUA deixariam de ser o principal garante da segurança europeia.